Associação convoca entidades médicas a repudiar invasão de hospitais

Médicas e Médicos pela Democracia querem as demais entidades representativas da categoria se posicionando contra Bolsonaro que incentivou a população a invadir hospitais

Trabalhadores de hospitais de Fortaleza (Foto: Reprodução)

A ABMMD (Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia) divulgou carta conclamando todos os sindicatos da categoria, o CFM (Conselho Federal de Medicina), AMB (Associação Médica Brasileira), e a Fenam (Federação Nacional dos Médicos), a se posicionarem contra Bolsonaro por incentivar a população a entrar em hospitais e filmar leitos de UTI.

“É inaceitável a invasão de um ambiente hospitalar, onde são acolhidas pessoas debilitadas e portadores de doenças infectocontagiosas, a violação da privacidade dos internos, a destruição de equipamentos necessários aos cuidados em saúde, a exposição de médicos e demais profissionais (que já enfrentam cotidianamente a falta de condições adequadas para autoproteção e manejo adequado de seus pacientes), trazendo riscos adicionais e completamente injustificáveis a todos”, adverte a entidade.

Confira a íntegra da carta:

Carta aberta da ABMMD às entidades médicas sobre a invasão dos Hospitais de Campanha

A Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia vem por meio desta clamar por um posicionamento urgente do Conselho Federal de Medicina (CFM) , da Associação Médica Brasileira (AMB), da Federação Nacional dos Médicos (FENAM), dos Sindicatos Médicos de todo Brasil e de todos Sindicatos representativos de trabalhadores da Saúde, em defesa da vida, da dignidade humana, de nós, médicas e médicos, e de todos os profissionais que compõem a força de trabalho em saúde do país, face a mais uma demonstração da necropolitica implementada pelo Presidente Jair Bolsonaro.

Seguindo o rumo de seus nefastos pronunciamentos, onde o desdém às vítimas do covid19 predomina, a ponto de ignorar reiteradamente o número crescente de mortos pela doença, na última quinta-feira, 11 de junho, convocou seus apoiadores a invadir hospitais, filmar e coagir profissionais de saúde, colocando em risco a saúde e direito à privacidade de cidadãos brasileiros.

Em decorrência desta má conduta, no dia 12 de junho de 2020, o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, referência para atendimento a COVID no Rio de Janeiro, foi invadido e depredado por seguidores do presidente, sob o pretexto de verificar a disponibilidade de leitos. São pessoas movidas pelo obscurantismo e que já atravessam a fronteira da razão, do bom senso e do respeito. É inaceitável a invasão de um ambiente hospitalar, onde são acolhidas pessoas debilitadas e portadores de doenças infectocontagiosas, a violação da privacidade dos internos, a destruição de equipamentos necessários aos cuidados em saúde, a exposição de médicos e demais profissionais (que já enfrentam cotidianamente a falta de condições adequadas para autoproteção e manejo adequado de seus pacientes), trazendo riscos adicionais e completamente injustificáveis a todos. Instigar o ódio aos serviços de saúde e seus trabalhadores, principalmente durante a grave crise sanitária que atravessamos, é um ato criminoso.

Frente tamanha afronta a médicas e médicos, trabalhadoras e trabalhadores da Saúde e seus pacientes e ao grave perigo que, sob vários aspectos, tal convocatória submete a saúde da população brasileira, é inadmissível o silêncio e a omissão das entidades representativas destas categorias. É imprescindível uma reação à altura a fim de preservar vidas humanas, ao direito à saúde bem como a dignidade e a integridade física e psíquica dos profissionais, evitando prejuízos ainda maiores e talvez irreversíveis à nossa sociedade.

Instamos pois que as instituições acima citadas se coloquem veementemente contra esta convocatória do senhor Presidente da República cuja intenção é, mais uma vez, somente obscurecer a trágica realidade de uma doença grave, que se alastra por todo território nacional, responsável por bem mais que 40.000 mortes, assim como assumam uma posição clara e firme, junto a outros setores e instituições democráticas, para que que, diante da pandemia de COVID19, o Presidente da República , respeitando rigorosamente as recomendações científicas e o decoro do cargo, cumpra com seu dever constitucional de zelar pelo bem-estar, pela saúde e pela vida de seu povo.

Fortaleza, 13 de junho de 2020

Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia, ABMMD

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