Washington Post destaca autogestão em favelas e descaso de Bolsonaro

Jornal trouxe iniciativas de moradores, que se uniram para enfrentar o vírus, se recusando a aceitar sentença de morte proferida pelo presidente: “É o destino”.

Paraisópolis, em São Paulo, é uma das comunidades retratadas na matéria

Após o The New York Times, outro jornal de renome mundial destaca a crise vivida pela população brasileira com a pandemia do novo coronavírus. O Washington Post publicou uma longa reportagem sobre a autogestão das favelas, abandonadas pelo poder público. Nela, destacou o descaso do governo Bolsonaro, que afronta o isolamento social e faz pouco das mortes.

A matéria de Marina Lopes traz a história de Laryssa Silva, uma jovem de 24 anos moradora de Paraisópolis. Laryssa, que perdeu o emprego em um restaurante com a pandemia, se tornou uma das 400 “presidentes de rua” na comunidade. Os presidentes asseguram que os moradores da área pela qual são responsáveis tenham o que comer.

A reportagem do Post entrevistou ainda Gilson Rodrigues, presidente da associação de moradores de Paraisópolis, que criou o programa dos presidentes de rua, que também têm a função de monitorar a disseminação do vírus. Gilson também organizou a produção de máscaras por voluntários e, após os moradores reclamarem que que o governo não respondia a chamados de emergência na comunidade, a associação contratou um serviço de ambulância 24 horas.

“O programa [das presidências de rua] criado quando os casos começaram a explodir no maior país da América Latina, é uma das muitas soluções que a população das favelas de baixa renda no Brasil encontrou para contornar um governo com respostas desiguais a uma crise de saúde que se agrava. Líderes comunitários em algumas das regiões mais atingidas do país estão contratando suas próprias ambulâncias, criando fundos para desempregados e até mesmo organizando bases de dado independentes para acompanhar casos e mortes”, destaca o jornal.

A matéria traz também, no Rio de Janeiro, as iniciativas de moradores do Complexo do Alemão, que criaram sua própria base de dados quando viram que os casos nas comunidades não estavam entrando nas estatísticas municipais; de Cantagalo, que se uniram a uma ONG para borrifar desinfetante nas ruas; e de Honório Gurgel, onde moradores se uniram para produzir um vídeo desmentindo a desinformação sobre os vídeos espalhada nas redes.

Governo Bolsonaro

O jornal também aponta como essas comunidades, com maioria da população negra, estão sendo atingidas de forma mais cruel pelo vírus. “Em São Paulo, a população que vive em áreas mais pobres e contrai o vírus têm até 10 vezes mais chances de morrer do que as pessoas em áreas ricas, de acordo com informações divulgadas pela secretaria de saúde da cidade. Os moradores negros de São Paulo têm 62% mais chances de morrer vítimas do vírus do que os brancos”. O Washington Post chama a atenção ainda para a responsabilidade do governo Bolsonaro pela situação.

“Os médicos atribuem a curva ascendente do Brasil à resposta inconsistente do governo. Mesmo com os casos disparando, o presidente Jair Bolsonaro atacou as medidas de isolamento social estabelecidas por governadores e participou de protestos pedindo a reabertura da economia. Ele está em seu terceiro ministro da saúde desde o início da crise. Os dois primeiros se recusaram a apoiar seus pedidos para acabar com as medidas de distanciamento social e impor tratamentos com hidroxicloroquina”, aponta a matéria.

O jornal estadunidense também lembra a frase cruel de Bolsonaro, quando instado a se solidarizar com as famílias das vítimas da Covid-19 quando o país já somava mais de 30 mil mortos. “A gente lamenta todos os mortos, mas é o destino de todo mundo”, disse o presidente, na ocasião. “Muitos nas favelas brasileiras estão rejeitando esse destino”, conclui o periódico.

Confira a matéria completa.

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