Bolsonaro, a China e o Evangelho

Afinal, quem é que mente, manipula e esconde informações sobre a extensão da pandemia? Bolsonaro, candidato a ditador, fez exatamente aquilo que alguém de sua roda acusou a China de ter feito.

É lugar comum dizer que, numa guerra, a primeira vítima é a verdade. Isso tem sentido – os dirigentes nacionais não podem permitir a divulgação de informações úteis ao inimigo.

Não é o caso desta guerra que o mundo enfrenta hoje, contra o coronavírus, que é alheio às informações sobre o mal que faz. Os biólogos informam que o vírus não chega nem a ser um ser vivo, dada sua estrutura muito simples que não forma nem uma estrutura celular – é uma espécie de cristal que, encontrando condições metabólicas favoráveis, “gruda” em células vivas e se replica.

Para este ser microscópico que nem chega a perceber o mundo exterior, tanto faz o que os seres humanos pensem. Ele não tem ideologia, como dizem muitos, e afeta a qualquer um onde existam condições para que ele se replique – daí a velocidade com que o coronavírus se propaga.

Esta explicação é necessária para que se perceba a extensão da bobagem autoritária cometida por Bolsonaro ao proibir e manipular a divulgação de informações sobre a pandemia – sobretudo dados relativos ao número de mortos que, ao que parece, ele procurou se afastar do simbólico número mil.

Na sexta-feira (5), Bolsonaro mandou o ministério da Saúde manipular os números da pandemia no Brasil e atrasar sua divulgação para escapar aos jornais televisivos, que quase sempre vão ao ar às 20 horas de cada dia.

Bolsonaro fez aqui exatamente o que um daqueles que participam de sua intimidade – seu filho Eduardo – acusou, falsamente, a China de ter feito.

A crise do coronavírus começou em Wuhan, na província chinesa de Hubei, em janeiro. De lá, propagou-se neste mundo globalizado com tal velocidade que já em fevereiro a Organização Mundial da Saúde estava às voltas com a doença que recebeu, em 11 de fevereiro, o nome oficial de Covid-19, anunciado pelo dirigente da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus. E, um mês depois – em 11 de março – a OMS considerou o surto como pandemia.

A direita mundial, tendo à frente o presidente dos EUA, Donald Trump, tentou usar a nova doença como mais uma arma no combate ideológico. Trump chegou a dar-lhe o nome de “vírus chinês”.

Nessa ocasião – meados de março – Bolsonaro e sua curriola visitavam os EUA, sendo recebido por Trump. E, em mais uma de suas demonstrações de subserviência, logo na volta ao Brasil o filho do presidente, Eduardo, tuitou, em 18 de março, uma acusação contra a China: “Mais uma vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas que salvaria inúmeras vidas. A culpa é da China e liberdade seria a solução”, escreveu.

A embaixada chinesa no Brasil reagiu rápida e altivamente contra esta aleivosia. E a ação solidária da China na luta contra a pandemia foi o claro desmentido da acusação feita pelo clã Bolsonaro.

A ação autoritária de Bolsonaro na sexta-feira (5) confirma o desmentido chinês e reverte a acusação. Afinal, quem é que mente, manipula e esconde informações sobre a extensão da pandemia? Bolsonaro, candidato a ditador, fez exatamente aquilo que alguém de sua roda acusou a China de ter feito.

Mais ainda – Bolsonaro, ao mentir sobre a pandemia, desmente sua adesão ao versículo da Bíblia (João, 8, 32) que vive repetindo, em vão: “Conheça a verdade e a verdade vos libertará!”

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