Vale expõe trabalhadores à Covid-19 e tem três minas interditadas

De olho no aumento dos preços do minério de ferro no mercado internacional, a empresa mineradora aumenta a exploração contra os trabalhadores.

O Ministério Público do Trabalho de Minas Gerais (MPT-MG) derrubou nessa sexta-feira, 5, a liminar que autorizava as operações da Vale em Itabira, MG. Diante isso, estão interditadas as atividades de extração de minério de ferro nas minas de Cauê, Conceição e Periquito, devido a irregularidades nas medidas de contenção do Covid-19. Um relatório apontou que cerca de 200 funcionários da mineradora estavam contaminados com o coronavírus.

O minério de ferro teve uma alta de 24% na China, que decidiu fazer estoque do produto. Do lado de cá, de olho no mercado externo, como sempre fez, a Vale opera à toda na extração do minério de ferro e manganês nas suas jazidas em Minas e no Pará, beneficiando-se da alta do dólar, na faixa de R$ 5. Com isso, quem está pagando o pato, mais uma vez, são os trabalhadores, expostos a sobrecarga de trabalho e ao coronavírus.

Por coincidência ou não, cresce cada vez mais o número de contaminados e de mortos em cidades onde a Vale possui minerações. No dia 5, boletim emitido pela prefeitura de Itabira apontava que havia 470 casos confirmados de covid-19 e um morto entre seus 100 mil habitantes.

Rua Salvador Furtado, a Rua dos Bancos, interditada em Mariana para evitar aglomeração.

Em Minas, os números estão explodindo ainda em vários municípios do Médio Vale do Piracicaba, como Santa Bárbara e João Monlevade, além de Ouro Preto e Mariana. Nesta cidade a mineradora tem a mina Alegria e mantém trabalhos de recuperação para recolocar em operação a mina de Germano, cujo rompimento de barragem foi responsável pela morte de 19 pessoas e pelo maior desastre ecológico registrado no país, em 15 de novembro de 2015.

Mariana registrava sete mortes na sexta-feira, 5, enquanto o número de infectados subia para 466 casos de infecção, a maioria do sexo masculino. Diante do recrudescimento da epidemia após uma reabertura do comércio, a prefeitura tomou algumas providências, como o fechamento de ruas mais movimentadas para evitar aglomerações, como a chamada Rua dos Bancos. A cidade de 55 mil habitantes concentra um grande número de trabalhadores terceirizados pela Vale. Diariamente eles pegam ônibus para o trabalho na nina Alegria e na recuperação da mina Germano no distrito de Bento Rodrigues, quando se expõem ao contágio e transmissão da doença.

Monlevade

Outra cidade que reúne um bom número de trabalhadores diretos e terceirizados da Vale na mina Brucutu é João Monlevade, que atingiu nessa quinta-feira, 4, a marca de 101 casos de Covid-19, quando registrou 13 novos casos, maior registro em 24 horas desde o início da pandemia. Dentre os novos contaminados estão um homem, de 41 anos, e uma mulher, de 26 anos, ambos funcionários da Vale.

Já em Ouro Preto, onde a Vale tem as minas de Timbopeba, havia na sexta-feira 73 casos confirmados de infectados pelo coronavírus e dois óbitos. Em Nova Lima, na Grande Belo Horizonte, onde a empresa explora minério de ferro em seis minas, a cidade registrava 184 casos confirmados no dia 4, e a morte de uma idosa.

Mais irregularidades

Além de Itabira, outras cinco cidades mineiras registraram denúncias no Ministério Público do Trabalho relativas a irregularidades à falta de cuidados para evitar transmissão do novo coronavírus. Uma delas é a mineradora Anglogold Ashanti, em Conceição do Mato Dentro. As denúncias partiram também de Sabará, na Grande Belo Horizonte, que tem 40 casos confirmados da doença, e também da unidade de Santa Bárbara, no centro do estado, com 77 confirmações.

Em Congonhas, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) também é alvo do MPT. A empresa não teria adotado medidas de proteção contra o coronavírus. Há 37 casos de Covid-19 na cidade, segundo a prefeitura. Em Itabirito, o MPT também investiga risco de contágio pelo coronavírus em áreas da Vale.

Outra mineradora denunciada é a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM) que explora nióbio em Araxá, no Alto Paranaíba. A empresa teria um ambiente propício para a contaminação.

Transferência de doentes

No início de maio a Vale promoveu quatro voos num avião de 80 lugares entre o aeroporto de Carajás, no Pará, e Belo Horizonte. O aeroporto fica no município de Paraupebas, no Sudeste paraense. Na ocasião a cidade de 208 mil habitantes já registrava 29 mortes provocadas pelo coronavírus. A Vale explora ferro e manganês em Carajás e os voos eram realizados para transferir para a capital mineira os trabalhadores contaminados. Enquanto parte dos funcionários estava em home office e era transferida da cidade, outra parcela continuava o trabalho nas minas.

Em 10 de abril, um homem de 42 anos, que trabalhava na Usina de Beneficiamento Serra Norte, no Complexo de Carajás, morreu na cidade após ter contraído o coronavírus. No dia 19 do mesmo mês, morreu Antônio Pereira de Souza, de 45 anos, com suspeita de COVID-19. Ele era mecânico e trabalhava na Mina de Manganês da Vale.

Ao tomar conhecimento da transferência dos trabalhadores do Pará para Belo Horizonte, o prefeito Alexandre Kalil (PSD) botou a boca no trombone e proibiu que novos episódios ocorressem, por temer que a chegada de doentes de fora pudesse ‘roubar’ as vagas disponíveis nos hospitais e provocar o aumento do número de infectados da capital mineira nas estatísticas.

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