13,6 mil metalúrgicos voltam a trabalhar em fábricas do ABC Paulista

Sindicatos veem a reabertura da atividade industrial com preocupação, já que a pandemia da Covid-19 continua alarmante no estado de São Paulo

Depois de 70 dias de quarentena, a Volkswagen retomou, nesta segunda-feira (1), a linha de produção na fábrica da Anchieta, em São Bernardo do Campo (SP), no ABC Paulista. Agora, já são cerca de 13,6 mil trabalhadores metalúrgicos na ativa nos chãos de fábrica da região do ABC, ainda que o conjunto das montadoras locais não esteja operando em plena capacidade.

Os sindicatos veem a reabertura da atividade industrial com preocupação, já que a pandemia da Covid-19 continua alarmante no estado de São Paulo. Foi por causa do avanço do avanço do novo coronavírus que, em março, as plantas industriais do Grande ABC foram paralisadas. Além disso, em meio à crise econômica mundial, a expectativa é que o setor automotivo enfrente um 2020 sem crescimento.

Para o retorno de um turno da produção da unidade da Anchieta, a Volks fez cerca de 80 adequações, como a obrigatoriedade do uso de máscaras para os funcionários, a distância de 1,5 metro entre os colaboradores e a medição de temperatura antes da entrada. Quem entra na fábrica tem de preencher um formulário. Uma da perguntas é esta: “Você teve contato com alguma pessoa que contraiu Covid-19 (diagnosticado positivo) nos últimos 14 dias?”.

De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (SMABC), há 4 mil funcionários atuando na unidade hoje – quase metade do efetivo total, atualmente em 8.500. O restante ainda continua em licença ou em home office, no caso dos funcionários administrativos. A Volks fretou 106 ônibus para o transporte dos operários à fábrica – antes, eram 65. O aumento se deve à necessidade de manter a distância entre as pessoas.

Há protocolo de segurança até na fila para bater o cartão de ponto: marcações no chão indicam onde cada um deve ficar. Os únicos lugares em que se veem operários sem máscaras são as áreas externas reservadas aos fumantes. Nas linhas de produção, os trabalhadores devem usar também luvas e o “face shield”, um escudo de acrílico que cobre o rosto e é preso à cabeça.

Mesas próximas aos operários estão repletas de frascos com álcool em gel ou uma solução sanitizante para limpar as ferramentas compartilhadas, como as parafusadeiras. A alameda central da área visitada passou a ser higienizada diariamente. Antes da pandemia do novo coronavírus, a limpeza era semanal.

Segundo o diretor executivo do SMABC, Wellington Messias Damasceno, o segundo semestre deve ser de tempos difíceis na economia. “O setor de caminhões ainda tem uma resposta um pouco mais rápida, mas para automóveis o cenário vai ser difícil”, diz. “As vendas para locadoras de veículos, que estavam sendo muito importantes, sofreram um baque e a maioria das pessoas físicas compra carro com financiamento. No entanto, com a atual situação de endividamento, deve demorar para voltar”, afirmou ele.

Novos tempos

O ritmo de trabalho parece estar mais lento do que o normal – o que não se deve às medidas de segurança, mas, sim, ao momento. “A velocidade da fábrica será ajustada de acordo com o mercado”, diz Pablo Di Si, presidente da Volkswagen na América do Sul. Segundo ele, os estoques da empresa estão baixos, e ainda é difícil prever como serão as próximas semanas, quando o comércio começará a funcionar gradualmente Brasil afora.

Para paralisar totalmente a fábrica, a Volks usou banco de horas, férias coletivas e acordos de suspensão temporária do contrato de parte dos empregados. Houve redução de jornada e de salários, sem, no entanto, alterar o salário líquido. A linha voltou a operar com um turno. Eram dois antes da pandemia. Em 2019, a fábrica funcionou a maior parte do tempo com três turmas, 24 horas, ininterruptamente.

Inaugurada por Juscelino Kubitschek, em 1959, a emblemática fábrica construída à margem da via Anchieta, na ligação entre São Paulo e o Porto de Santos, já passou por tudo. Foi palco das mobilizações grevistas dos anos 80, palanque de muitos políticos e quase foi fechada há cerca de duas décadas, abalada por uma migração de investimentos da indústria automobilística para outros estados. Há poucos anos, retomou intensa atividade.

A propagação de um vírus mortal modificou, porém, a forma de trabalho nessa e em todas linhas de montagem do mundo. Di Si foi buscar inspiração em fábricas da Volks na China e na Alemanha para adequar as unidades sul-americanas da companhia às novas normas de segurança e higiene – são quatro no Brasil e duas na Argentina. Algumas soluções, no entanto, receberam um toque latino. É o caso do recipiente de álcool em gel instalado no portão de entrada dos operários. É acionado por um pedal.

Exceto no setor de acabamento interno dos veículos, onde quase sempre dois operários trabalham simultaneamente, o alto nível de automação dessa fábrica dispensa cuidados extras para garantir distanciamento na linha de montagem. A maior preocupação está nos períodos fora do trabalho, como entrada e saída do turno e as refeições.

Por isso, horários de chegada e saída dos ônibus e do almoço foram escalonados, por turmas. Nas mesas que costumavam acomodar até quatro pessoas, agora só duas podem sentar-se. Só pega comida quem usar as luvas fornecidas no refeitório e a máscara só pode ser retirada no instante em que, o operário estiver devidamente acomodado e pronto para comer. Nos banheiros e vestiários, pias liberadas para uso foram intercaladas com outras, interditadas por fitas.

Outras fábricas

A Volks não foi a única montadora a reiniciar as atividades. A primeira a anunciar a retomada foi a Scania, em abril, seguida pela também fabricante de caminhões Mercedes-Benz, em maio. A GM (General Motors) retornou nas duas últimas semanas, em São Caetano. Já a Toyota, que mantém fábrica de componentes em São Bernardo, oficialmente retorna em junho.

Na GM de São Caetano do Sul, a expectativa é de retomada do segundo turno já no dia 15. Na opinião do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, Aparecido Inácio da Silva, o Cidão, “é um cenário incerto e depende dos próximos meses para ver se acontece alguma retomada mais forte”. Em maio, a GM manteve a liderança em vendas, mas com apenas 10 mil unidades. Volkswagen e Fiat empataram em segundo, com quase 8.800 cada.

Da Redação, com agências

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