Taxa de câmbio é termômetro da febre econômica brasileira

Pandemia e insegurança política desvalorizam, ainda mais, a moeda brasileira. Segundo o economista Alex Ferreira, taxa de juros (Selic) baixa e inflação controlada não são suficientes para evitar desconfiança de investidores

O câmbio do Real afetado pela pandemia

Os efeitos da pandemia na economia são de forte impacto, mesmo com o Brasil ainda não tendo chegado ao pico da curva epidêmica. As incertezas geradas pela covid-19 e pela insegurança política no Brasil têm trazido problemas para a economia do País. Reflexo disso é a desvalorização constante do real. Aliás, a moeda brasileira é a que mais se desvaloriza no mundo. 

O professor da Faculdade de Economia Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP e especialista em câmbio, Alex Ferreira, em entrevista à Rádio USP, usou a metáfora da saúde para tentar explicar o que está acontecendo. “A taxa de câmbio serve como um termômetro especial que mede a saúde relativa da economia brasileira. A febre seria o descompasso entre a demanda e a oferta de divisas no mercado de câmbio.”

Na primeira quinzena de maio, essa desvalorização chegou a níveis históricos. O dólar turismo foi vendido a R$ 6,43. O euro chegou a mais de R$ 7 e a libra, a moeda inglesa, foi negociada a mais de R$ 8. Um recorde de queda ante as três moedas estrangeiras.

Este é um mercado especial porque negocia a moeda nacional vis-a-vis a moeda estrangeira. Se se quer entender as razões pelas quais o real tem subido mais rápido do que outras moedas, é preciso entender quais são os fatores que estão afetando a oferta e a demanda de moeda estrangeira.

No longo prazo, existem dois principais: a expectativa de crescimento da economia brasileira e a inflação junto a seus parceiros comerciais. No curto prazo tem a relação risco e retorno dos ativos brasileiros, como o retorno imediato da Selic ou da Bolsa de Valores.

A inflação é controlada, já o crescimento aponta para uma queda de 5,2% do Produto Interno Bruto (PIB). A taxa Selic, que é a taxa básica de juros da economia brasileira, tem caído e atingiu seu ponto mais baixo este mês, quando chegou a 3% ao ano.

Cabo de guerra entre poderes

Mesmo assim, os riscos para o investidor estrangeiro no País têm aumentado e isso interfere no câmbio. É a insegurança política em que há o risco de aumento descontrolado da dívida no Brasil.

O aumento do risco país evidencia esta preocupação com aumento do Credit Defaut Swap e do MB+. Entre fevereiro a maio, O MB+ subiu de 189 para 450 pontos. “Isso significa que houve uma mudança na percepção dos investidores internacionais de que o Brasil talvez não honre seus compromissos”, explica ele.

“Por outro lado, a possibilidade de políticas populistas e oportunistas, o cabo de guerra entre os poderes, que têm capacidade de barrar reformas importantes, mostram a dificuldade de se agir com normalidade no período de pandemia”, analisa o professor Ferreira.

Para ele, a incapacidade de garantir as condições da população diante da necessidade de restrição da mobilidade diante da pandemia, também gera dúvidas sobre a capacidade do país de retomar a economia mais rápido.

O aumento da taxa de câmbio representa um aumento dos bens e serviços produzidos no exterior, em relação aos bens e serviços produzidos no Brasil. Com isso, o efeito é reduzir a demanda interna por bens estrangeiros e aumentar a demanda internacional por bens brasileiros. Isso vai ser limitado pelo impacto da pandemia nos parceiros comerciais internos.

Para Ferreira, há um limite na velocidade do aumento do cambio. Como o próprio Banco Central diz, dado pela volatilidade. Há também o aumento da taxa de câmbio impactando os objetivos do BC com a inflação, que no momento é bastante “benigno. O BC também pode usar sua base “bastante confortável de reservas” no momento atual, para conter a elevação, se desejar. “Mas a retórica do Banco Central é de controlar a volatilidade sem influenciar a tendência”.

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