1.188 mortos pela Covid-19 em apenas 24 horas. E daí?!

Em meio ao maior pico de mortes por Covid-19, estamos sem ministro da Saúde. É como uma tripulação ver seu navio afundar e descobrir que seu capitão foi o primeiro a pular do barco

Na última terça-feira (19), o Brasil havia registrado o maior número de mortos em um único dia por Covid-19. Foram 1.179 vidas perdidas em 24 horas. De quarta para esta quinta-feira (21), o País bateu o próprio recorde e teve mais 1.188 óbitos. Entramos no clube das nações que já registraram mais de mil pessoas mortas diariamente, ao lado de EUA, França, China e Rússia. Mas, como disse o presidente Bolsonaro, “e daí?!”

Ele diz lamentar as mortes – e diz que, apesar de ser Messias, não faz milagres. Em poucos dias, caíram o ministro Mandetta (por defender o óbvio isolamento social), o ministro Moro (por discordar da interferência na Polícia Federal para salvar a pele dos filhos e dos amigos de Bolsonaro), o ministro Nelson Teich (por não recomendar o uso irresponsável da cloroquina) e a secretária especial Regina Duarte (por não pegar pesado com a balbúrdia dos artistas). Mas e daí? Afinal, somos governados por um líder supremo, autonomeado: a própria Constituição.

Em meio ao maior pico de mortes por Covid-19, estamos sem ministro da Saúde. É como uma tripulação ver seu navio afundar e descobrir que seu capitão foi o primeiro a pular do barco. Mas e daí? Em seu lugar, ficou mais um verde-oliva, o interino general Pazuello, que nomeou mais quatro militares para ocupar cargos técnicos do ministério, tais como coordenações gerais de Execução Orçamentária e de Finanças, e também Planejamento. Dias antes da demissão do ministro Teich, ele já havia nomeado outros cinco militares.

Como ordena a disciplina, Pazuello vai obedecer ao chefe e acatar, sem titubear, seus mandos e desmandos, como assinar o novo protocolo que autoriza o uso de da cloroquina – um medicamento sem comprovação científica que pode ser tão perigoso para os pacientes quanto a própria Covid-19. Temos mais de 310 mil infectados no País, dois picos de mais de mil mortes em três dias, mais de 20 mil mortos, o que nos põe hoje como epicentro mundial do coronavírus. Mas, como disse Bolsonaro, “e daí?”.

Não é à toa que as centrais sindicais lançaram nesta semana a campanha #ForaBolsonaro e os partidos de esquerda entraram com um pedido de impeachment do presidente. Para amplos setores da sociedade brasileira, esse “e daí” não pode mais ser a resposta de um governante à pior crise da história do Brasil.

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