Pandemia gera temor de mortes em massa nos presídios dos EUA

Algumas cifras ajudam a entender a magnitude da situação. Os EUA concentram cerca de 21% de toda população carcerária do mundo, algo em torno de 2,3 milhões de homens e mulheres. Entre esse contingente, estima-se que 40% sofram com algum tipo de doença crônica.

Nos Estados Unidos, as mortes pelo coronavírus seguem se acumulando em quantidades industriais. No entanto, há vítimas que são mais silenciosas do que outras. Até o último domingo (10), estimava-se que havia cerca de 35 mil presos e funcionários penitenciários infectados com a Covid-19 no país. Os esforços para reduzir o contágio nesses estabelecimentos segue sendo insuficiente.

Milhares de presos de baixa periculosidade foram cumprir suas penas em casa devido à pandemia. Por enquanto, há 345 mortos intramuros, mas a subnotificação é latente. Um dos poucos presídios que testou em massa se encontra em Marion (Ohio). Lá, 85% de seus 2.623 detentos estão infectados, além de 175 funcionários.

Algumas cifras ajudam a entender a magnitude da situação. Os EUA concentram cerca de 21% de toda população carcerária do mundo, algo em torno de 2,3 milhões de homens e mulheres. Entre esse contingente, estima-se que 40% sofram com algum tipo de doença crônica, como asma ou diabetes, comorbidades que são afetadas com alto impacto pelo coronavírus.

“O encarceramento em massa já era uma crise de saúde pública antes da pandemia. Agora, estamos além de qualquer limite”, afirma Udi Ofer, diretos da Divisão de Justiça da União Americana de Liberdades Civis (ACLU), em entrevista ao “Página 12”. A organização, considerada uma das mais atuantes na área de direitos humanos dos EUA, estima que existe o risco de que até 100 mil pessoas podem morrer dentro das cadeias devido à Covid-19.

“Os presos, os oficiais correcionais e os funcionários em geral dessas instalações não conseguem exercer um distanciamento social de forma efetiva. Combine isso com falta de atenção médica e poucas condições de higiene e temos a receita perfeita para a propagação do vírus”, explica Ed Chung, vice-presidente jurídico do Centro para o Progresso Americano. “Os presos não estão em celas individuais; com frequência estão em áreas abertas, ao lado de muitas outras pessoas”, complementa.

Soltura: e depois?

Muitas entidades de Direitos Humanos vêm defendendo a soltura de presos de baixa periculosidade ou que estejam a poucos meses de terminar suas penas, mas seus líderes dizem que, apesar desse esforço, pouco tem sido feito até o momento, tanto em âmbito federal quanto estadual. Diante disso, pedem ajuda aos governadores e ao Congresso Nacional.

No entanto, existe também a preocupação do que fazer com o contingente que vier a ser libertado. O cenário que os espera, com alto índice de desemprego falta de habitação e de cuidados médicos básicos durante a pandemia podem resultar em novos crimes. Para essas organizações, tais desafios são o resultado de uma política de mais de 50 anos de encarceramento massivo, que merece ser revista em tempos de pandemia.

Tradução e revisão: Fernando Damasceno