Na pandemia, Trump flerta com bloqueio ao Serviço Postal dos EUA

Para um brasileiro, é automática a relação com o debate existente atualmente no país. A depender do governo de Jair Bolsonaro e de seu ministro da Fazenda, Paulo Guedes, os Correios já teriam sido privatizados.

Ao longo das últimas semanas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem se manifestado disposto a bloquear a ajuda federal que o governo tradicionalmente destina ao Serviço Postal do país. Sua alegação: a versão estadunidense dos Correios cobra muito pouco pelo serviço prestado.

O site “The Nation” publicou um longo texto a respeito dessa discussão, que vem sendo relegada a segundo plano em meio à emergência sanitária da pandemia do coronavírus. O jornalista e professor Victor Pickard defende que, ao invés de enfraquecer a estrutura do Serviço Postal, o momento atual é propício para expandi-la.

“O sistema de Serviço Postal tem sido uma peça de infraestrutura fundamental para o nosso país desde nossa independência. Não é o momento de privatizá-lo, mas sim de revitalizá-lo”, defende.

Nos EUA, o USPS (Serviço Postal dos EUA, em tradução livre da sigla original) emprega cerca de 600 mil funcionários e assegura a execução de uma série de tarefas, desde a entrega de encomendas, prescrições médicas (fundamentais durante a pandemia) e até mesmo o envio de votos nas eleições gerais do país. Para diversos serviços, já existem empresas privadas como a FedEx e a UPS como concorrentes.

Para um brasileiro, é automática a relação com o debate existente atualmente no país. A depender do governo de Jair Bolsonaro e de seu ministro da Fazenda, Paulo Guedes, os Correios já teriam sido privatizados. Aqui como lá, nenhuma empresa privada tem interesse em se responsabilizar pelas entregas em pequenos vilarejos ou rincões, visto que somente seria possível obter lucro pelo serviço prestado em grandes cidades.

Segundo Pickard, a empresa nunca deu lucros e desde 1792 sempre precisou de repasses do governo federal para sobreviver, pois percebeu-se ainda em seus primórdios que sua infraestrutura era extremamente democrática. A ideia de subsidiá-lo foi crucial para que importantes informações chegassem a todos os cantos do país, mesmo nos tempos mais remotos.

Caso Trump decida não liberar o subsídio de cerca de US$ 10 bilhões neste ano, estima-se que a partir de setembro o USPS terá problemas para se manter em funcionamento. Victor Pickard é enfático ao defender a ajuda: “Não é preciso pensar em otimizar os lucros num momento como este. A lógica igualitária do Serviço Postal nos ajuda a lembrar como seria se tivéssemos um tipo diferente de sociedade”, sustenta.

Com informações do The Nation