Banco Central vai imprimir dinheiro para pagar auxílio emergencial

Os tropeços no programa aprovado pelo Congresso vêm em meio a crescentes críticas de que o governo de Jair Bolsonaro não tomou medidas drásticas o suficiente para estimular uma economia que, segundo algumas previsões, poderá encolher dois dígitos em 2020.

Sugestão de diversos economistas, que reiteram que não há risco de inflação devido à demanda em baixa, a impressão de dinheiro finalmente entrou no radar do Banco Central. Apesar de o presidente da autarquia, Roberto Campos Neto, ter dito no início de abril que esta “não é a saída” para a crise da Covid-19, a agência de notícias Reuters informou que a Casa da Moeda, responsável pela produção de cédulas, solicitou na segunda-feira que os funcionários aumentem a produção a partir deste mês.

Segundo a agência, o Brasil enfrenta a ameaça de insuficiência de cédulas de dinheiro para pagar o auxílio emergencial a 60 milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade pela crise do coronavírus, com os estoques atuais considerados baixos.

A reportagem obteve um ofício com o pedido aos funcionários. De acordo com o documento, diz a Reuters, a estatal afirma que pagará hora extra conforme necessário e diz que a questão é “urgente”.

O programa de auxílio emergencial de R$ 600 por mês para aqueles que não têm contratos regulares de trabalho passou por um lançamento que enfrentou problemas, com a formação de enormes filas em frente às agências da Caixa Econômica Federal, trazendo risco de contágio em meio à pandemia de coronavírus.

Algumas pessoas que não têm contas bancárias regulares até acamparam na porta das agências durante a noite. Os tropeços no programa aprovado pelo Congresso vêm em meio a crescentes críticas de que o governo de Jair Bolsonaro não tomou medidas drásticas o suficiente para estimular uma economia que, segundo algumas previsões, poderá encolher dois dígitos em 2020.

Cerca de um terço da população do Brasil é desbancarizada, um porcentual maior do que na China e até na Índia, de acordo com o Banco Mundial, obrigando o país a depender muito de dinheiro físico, mesmo quando cartões de crédito e outras formas de pagamento se tornam mais comuns em outros lugares.

O governo começou a pagar uma parcela inicial do programa no início de abril, mas atrasou a segunda, inicialmente prevista para o final do mês passado. Um novo cronograma deve ser lançado em breve para o programa, que tem duração de três meses.

Uma das fontes disse que a escassez de cédulas de dinheiro levou ao atraso da segunda parcela, enquanto outra disse que o pagamento ainda não tinha ocorrido porque a primeira parcela ainda estava sendo paga, o que causaria mais tumulto nas agências. Esta pessoa, porém, confirmou que há uma escassez de moeda que preocupou o governo.

O secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, disse que havia um “problema técnico com as fontes de pagamento” dos fundos, mas negou que houvesse qualquer problema com falta de moeda. “Se, por acaso, houver falta de dinheiro, falta de notas físicas, encontraremos uma maneira de corrigir isso”, disse ele.

Estoques de segurança”

O Banco Central, que supervisiona a oferta de moeda, confirmou que está em negociações com a Casa da Moeda para antecipar o recebimento da produção contratada para o ano, dizendo que já houve um aumento de 23% na quantidade de moeda forte em circulação em abril, um aumento de R$ 55,5 bilhões em relação ao ano anterior, segundo declaração enviada à Reuters.

Algumas dessas cédulas estão sendo acumuladas por indivíduos e empresas para formação de reservas, por preocupações com a crise, e porque, com grande parte da economia fechada, há menos lugares para gastar dinheiro no comércio em geral, disse o órgão regulador.

O BC também ponderou que “parcela considerável” dos valores pagos em espécie no auxílio emergencial ainda não voltou ao sistema. Só em abril, foram pagos R$ 35,8 bilhões no total, entre depósitos em conta e liberação em espécie, segundo dados do Tesouro.

“A consulta [à Casa da Moeda] visa construir estoques de segurança e mitigar eventuais consequências do fenômeno de entesouramento que se observa desde o início da pandemia”, afirmou o BC.

As negociações têm como objetivo aumentar a produção semanal de dinheiro da Casa da Moeda em 40%, segundo o presidente do sindicato dos servidores do órgão Aluízio da Silva Junior, acrescentando que o sindicato ainda não decidiu sobre a questão, que deve ser analisada em assembleia na próxima semana.

O Banco Central disse não ter conhecimento de atrasos nos pagamentos da ajuda. O Ministério da Cidadania, responsável pelos fundos de emergência, não respondeu a um pedido para comentar o assunto. A Caixa Econômica Federal, banco responsável pelos pagamentos, também disse que não comentaria.

O número de pessoas que procuram o auxílio emergencial surpreendeu as autoridades do governo, que esperavam pagar R$ 98 bilhões a 54 milhões de brasileiros. Cálculos oficiais recentes, no entanto, atualizaram o número para R$ 124 bilhões e 60 milhões de pessoas –equivalente à população da Itália.

A Caixa Econômica estima que cerca de 30 milhões de contas digitais serão abertas por pessoas não bancarizadas como consequência do pagamento de emergência, um legado que pode ajudar a inclusão financeira depois da pandemia.

Com informações do Money Times e Reuters