Mantovani cai da Funarte pela segunda vez, sem nem assumir

Numa demonstração do bate cabeça do governo Bolsonaro, Mantovani é reconduzido à Funarte, Regina Duarte se surpreende e o maestro cai no mesmo dia, também sem ser avisado.

Dante Mantovani foi nomeado e exonerado no mesmo dia

No mesmo dia em que foi reconduzido para a presidência da Fundação Nacional de Artes (Funarte), o maestro Dante Mantovani, um dos nomes mais controversos da gestão de Roberto Alvim na Secretaria Especial da Cultura, teve a nomeação anulada na noite desta terça-feira, enquanto ainda dava entrevista sobre sua posse.

Ele havia sido demitido pela secretária Regina Duarte em março, no mesmo dia em que ela foi empossada como secretária. Além de envolvido em controvérsias com artistas, Regina ficou surpresa com a recondução dele sem sequer ser consultada.

Na época da demissão, o então presidente da Funarte foi criticado por um vídeo publicado em outubro de 2019. Ele disse que “o rock ativa a droga, que ativa o sexo, que ativa a indústria do aborto, que, por sua vez, alimenta uma coisa muito mais pesada, que é o satanismo. O próprio John Lennon disse abertamente, mais de uma vez, que ele fez um pacto com o diabo para fazer sucesso”.

O governo tornou sem efeito a portaria que nomeava Mantovani como novo presidente da Funarte. A medida foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União na tarde de hoje e foi assinada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Walter Souza Braga Netto.

A revista Crusoé informou hoje mais cedo que Regina Duarte acredita que pode estar sendo “dispensada” pelo presidente Jair Bolsonaro após ser surpreendida com a nomeação de Mantovani. Segundo a publicação, em áudio vazado, a frase foi dita em um diálogo entre a atriz e uma assessora enquanto o repórter esperava na linha.

“Que loucura isso, que loucura. Eu acho que ele está me dispensando”, disse Regina, de acordo com a publicação, à assessora quando informada sobre a decisão anunciada hoje no Diário Oficial da União.

Mantovani tinha sido indicado ao cargo pelo antecessor de Regina Duarte, Roberto Alvim, que foi demitido após anunciar o lançamento de um prêmio cultural com um discurso inspirado em Joseph Goebbels, ministro de Propaganda da Alemanha nazista.

Alvim, assim como os outros dirigentes demitidos por Regina Duarte, são discípulos de Olavo de Carvalho, que vive nos Estados Unidos e tinha declarado que Regina Duarte estava no cargo por indicação sua. “Se a Regina Duarte quer mesmo se livrar de indicados do Olavo de Carvalho, a pessoa principal que ela teria de botar para fora do ministério seria ela mesma”, escreveu ele no Twitter.

Ao longo do dia, Regina marcou uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro para esta quarta-feira. Na agenda com o presidente, ela pretende apresentar seu plano de comunicação para Cultura. A aliados, a secretária diz que pretendia aproveitar a conversa com “seu presidente”, “seu líder”, como costuma chamar Bolsonaro, para entender “as razões dele” para nomear novamente Mantovani para a Funarte.

Interlocutores do Planalto associaram seu retorno a uma indicação do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, e também a uma retomada de poder da ala ideológica, ligada a Olavo de Carvalho.

A avaliação no Palácio do Planalto é de que Bolsonaro anda incomodado com algumas nomeações de Regina Duarte na Cultura. Porém, aliados do presidente afirmam que ele não estaria disposto a arcar com o desgaste da demissão da ex-atriz global neste momento, após as saídas de dois ministros populares do governo.

Entre as insatisfações apontadas por aliados de Bolsonaro com o trabalho de Regina, estão críticas às políticas de audiovisual e também com algumas nomeações consideradas de profissionais ligados à esquerda. A secretária e sua equipe vêm sendo atacados também nas redes sociais por militantes bolsonaristas.

Na semana passada, o presidente reclamou a jornalistas no Palácio da Alvorada da ausência da secretária em Brasília. Questionado, Bolsonaro afirmou que Regina “estava lá, trabalhando pelo internet” e que gostaria que ela estivesse “mais próxima”.

Com informações de agências

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