Com coronavírus e Bolsonaro, produção industrial desaba 9,1% no Brasil

Setor industrial acumula queda de 1,7% no primeiro trimestre e de 1% em 12 meses, de acordo com o IBGE

O avanço da pandemia do novo coronavírus, somado à falta de políticas do governo Jair Bolsonaro para a indústria e à demora na efetivação de medidas de proteção à economia, provocou um terremoto no setor. A produção industrial caiu 9,1% em março na comparação com fevereiro, no pior resultado para esse mês desde 2002.

O tombo só não é pior do que o de maio de 2018, quando a greve dos caminhoneiros paralisou o País. Em relação a março de 2019, a queda foi de 3,8%. O setor industrial acumula queda de 1,7% no primeiro trimestre e de 1% em 12 meses, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada nesta terça-feira (5) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Assim, mesmo os resultados de janeiro (+1,2%) e fevereiro (+0,50%) não evitaram um primeiro trimestre já negativo para a indústria. Para 2020, todas as casas consultadas pelo Projeções Broadcast projetam queda na produção industrial, de -9,8% a -2,2%, com mediana de -5,0%. Seria a maior queda desde 2016 (-6,4%). No ano passado, a redução foi de 1,1%. Analistas preveem quedas ainda mais fortes em abril, primeiro mês a ser completamente abarcado pelas medidas de distanciamento social.

Indicadores antecedentes já apontavam que o resultado da indústria seria ruim. Em março, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) da indústria recuou 0,9 ponto porcentual, para 75,03%, na série com ajuste sazonal, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) reportou produção de 189.958 unidades – queda de 6,97% na comparação com fevereiro, sem ajuste, e de 21,10% frente a igual mês de 2019.

Ao mesmo tempo, o consumo de energia elétrica recuou 1,5% na comparação com março do ano passado, de acordo com a Câmara de Comercialização de Energia (CCEE), apesar de o mês ter tido, em 2020, 4,5 dias úteis a mais, considerando metade do dia na quarta-feira de cinzas do ano passado. Além disso, de acordo com o Instituto Aço Brasil (IABr), a produção de aço bruto recuou 8,2% ante igual mês de 2019.

“O cenário mais provável é vermos a indústria puxando para baixo o PIB do primeiro trimestre. Nas nossas contas, o setor deve encerrar 2020 abaixo do nível que tinha no final de 2019, com aceleração da tendência de queda em abril”, diz o economista sênior do Banco ABC Brasil, Daniel Xavier. Ele projeta uma queda de 1,0% a 1,3% no PIB do primeiro trimestre e de 4,0% em 2020, com retração de 8,5% na produção industrial.

Desindustrialização

De acordo com o IBGE, o desempenho de março de 2020 rebaixa a produção industrial brasileira ao mesmo nível de agosto de 2003. A queda foi generalizada, atingindo todas as categorias econômicas e 23 dos 26 ramos pesquisados. A quarentena imposta pela pandemia agravou ainda mais um quadro de desindustrialização que já estava em curso.

O primeiro caso conhecido de Covid-19 ocorreu em 25 de fevereiro. No mês seguinte, março, o país começou a sentir os efeitos econômicos do coronavírus, com fechamento de bares, restaurantes e comércio como forma de evitar avanço da pandemia.

A principal influência negativa foi dada pelo setor automotivo, que teve queda de 28%, com o paralisações e interrupções na produção. Após o início da pandemia, 64 das 65 fábricas do país tiveram as operações suspensas, provocando efeitos negativos também na cadeia de suprimento.

Outras contribuições negativas relevantes vieram de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-37,8%), de bebidas (-19,4%), de couro, artigos para viagem e calçados (-31,5%), de produtos de borracha e de material plástico (-12,5%) e de máquinas e equipamentos (-9,1%).

Do lado positivo, estiveram apenas ramos de impressão e reprodução de gravações (8,4%), de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (0,7%) e de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (0,3%).

Entre as grandes categorias econômicas, bens de consumo duráveis teve a queda mais acentuada na comparação com fevereiro, ao recuar 23,5%, com a queda na produção de automóveis. Os setores de bens de capital (-15,2%) e de consumo semi e não-duráveis (-12,0%) também tiveram taxas maiores do que a média nacional.

Segundo dados do FGV/Ibre, a indústria brasileira teve atingiu em março o pior patamar de ociosidade dos últimos 20 anos. O Nível de Utilização da Capacidade Instalada, aponta que, em média, as fábricas estão operando em 57,5% do que poderiam – nível 15,9 pontos menor do que os 73,4% registrados em dezembro de 2016, o pior momento da recessão iniciada em 2014.

De acordo com o IBGE, após a queda de março, a produção industrial brasileira está 24% abaixo do melhor momento da série histórica, em maio de 2011. A diferença é maior do que os 23,9% do mês do racionamento de 2018. Analistas de mercado já esperam ao menos 3,7% de recuo no PIB em 2020, segundo o boletim Focus divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira (4). Na projeção do FMI (Fundo Monetário Internacional), a economia brasileira encolherá 5,3% em relação ao ano passado.

Com informações do Estadão e da Folha de S.Paulo

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