O capitalismo e a Covid-19

É preciso organizar o pensamento crítico e dar condições para a sociedade não mais aceitar a continuidade e a própria liderança do capitalismo acima dos países e das pessoas.

O tempo da pandemia do coronavírus a colocar parcela imensa da população mundial em estado de isolamento social, concomitante com a parada das economias e suas consequências no consumo, investimento, emprego e renda, mesmo com intervenção significativa dos governos, é simplesmente extraordinário. A rapidez com que a chegada da Covid-19 ganhou o mundo possivelmente não será a mesma com que irá embora e, assim, restabelecer o mesmo modo de vida em sociedade e idêntico funcionamento econômico do período prévio à pandemia.

Essa extraordinária situação exposta ao mundo requer também saídas até então inimagináveis. Por força disso, o centro da discussão associado ao entendimento da atualidade enquanto expectativa de voltar ao normal do passado recente parece expressar parcialmente o presente e, sobretudo, as potencialidades do futuro.

Em outras palavras, a crise sanitária e seus efeitos econômicos e sociais equivaleria a eventos sazonais, comparáveis às empresas de turismo que somente operam no verão, pois durante o inverno deixam de funcionar, voltando a normalidade tão logo o próximo verão reapareça.

Por outro lado, essa mesma crise sanitária parece ser fruto da via degradante com que o capitalismo convive, destruindo a natureza, a abalar as próprias fundações do edifício da globalização. Por isso, a força do conservadorismo a limitar as fronteiras das possibilidades de expansão da presença do Estado, por exemplo, à exclusividade da temporalidade da pandemia do coronavírus revela a expectativa de volta a normalidade proximamente.

Diante disso, o debate necessário a respeito do capitalismo e a Covid-19 precisa ser mais bem desenvolvido, avançando para além das superficialidades que atualmente preponderam. Precisa oferecer vazão à urgente prioridade de se organizar o pensamento crítico e dar condições para a sociedade em geral não mais aceitar simplesmente a continuidade e a própria liderança do capitalismo acima dos países e das pessoas.

Deve haver mais espaço para as contribuições que têm vindo à tona para tratar da problemática atual e suas saídas em novas bases. Exemplo disso é o livro Capitalismo e Covid-19 lançado no dia primeiro de maio último, em homenagem à data especial e histórica dos trabalhadores.

Como se sabe, a quarentena demonstra, mais uma vez, a centralidade do trabalho para o funcionamento do sistema de exploração capitalista. Isso porque, com os trabalhadores encontrando-se em estado de isolamento social, os mercados pararam e os capitais, sem o trabalho, se desvalorizam.

A contabilidade a medir a forma de valorização das forças de mercado aponta para uma regressão significativa, talvez superior à da Depressão de 1929. Só no Brasil, o Produto Interno Bruto pode decrescer em até 10%, o que equivaleria tornar os brasileiros detentores de renda média inferior em cerca de 20% à do ano de 2014. Nunca antes neste país desde a instalação dominante do modo de produção capitalista.

Ao reunir quase quatro dezenas de autores em torno de 27 artigos, o livro Capitalismo e Covid-19 permitiu explorar múltiplas dimensões convergentes com três partes constituídas em torno da problemática e superação do Covid-19 no capitalismo atual. Na primeira parte, por exemplo, encontra-se uma diversidade de visões que analisam a pandemia do coronavírus em várias dimensões.

Em sua segunda parte, o livro retrata a diversidade dos efeitos diretos e indiretos da Covid-19 sobre a sociedade, a economia e a política. Na sequência final encontram-se as perspectivas a explorar um possível novo mundo pós-pandemia do coronavírus, como a soberania de cada país definir o que é melhor para o coletivo dos seus povos, bem como a busca da igualdade possível, sem as altas finanças estar acima da vida e da natureza.

Produzido e disponibilizado gratuitamente, o livro em tela serve de estímulo para que a reflexão sobre o tempo do coronavírus possa ser substituído pelo novo tempo a ser construído por nova maioria social que preza pela centralidade civilizatória da vida e a subordinação da economia à política.

Fonte: Rede Brasil Atual

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