Apreensivo, mundo espera pela vacina contra a covid-19
Previsão é que a vacina chegue em até 18 meses, mas dezenas de instituições ao redor do mundo concentram esforços nesses estudos. China e Estados Unidos anunciaram recentemente testes em humanos, o que significa um grande avanço.
Publicado 04/05/2020 22:14 | Editado 04/05/2020 23:14

A acadêmica Giovanna Bingre, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP em Ribeirão Preto, comenta sobre a situação das vacinas contra a covid-19 ao redor do mundo. Ela conta que “existem dezenas de laboratórios privados e principalmente as universidades no mundo todo fazendo estudos e testes in vitro para o desenvolvimento de uma vacina segura e eficaz para o coronavírus. A China e os Estados Unidos anunciaram recentemente testes em humanos, o que significa um grande avanço”.
Doenças causadas por vírus, como a varíola, a poliomielite ou a meningite viral representaram grandes marcos na história da saúde. Só a varíola, no século 20, matou mais de 300 milhões de pessoas. Se não existissem vacinas, hoje, a sociedade continuaria sendo devastada por essas doenças, que, além de alta mortalidade, deixam sequelas graves, como a paralisia provocada pela poliomielite. Com o mundo globalizado e a rápida conexão entre países e regiões, esses vírus se espalhariam em período muito curto de tempo, causando cenário ainda pior que o do novo coronavírus.
Detectado em Wuhan, na China, o vírus Sar-Cov-2 se alastrou de forma rápida e em poucos meses todos os continentes apresentavam números alarmantes de infectados. Diante de tanta morte, o mundo espera apreensivo por uma cura, um tratamento ou um meio eficaz de prevenção por meio de imunização de uma vacina.
Já existem pesquisas em busca de uma vacina. Com uma crise sanitária só comparável à gripe espanhola do início do século XX, vários laboratórios procuram contribuir. Procuram entender melhor o vírus, os sintomas da doença ou ainda testando remédios e vacinas para o combate da covid-19. Laboratórios privados, indústrias farmacêuticas ou principalmente nas universidades estão empenhados nessa tarefa de preparar uma vacina segura e eficaz. Mesmo que algum laboratório consiga ser bem-sucedido, dificilmente a vacina seria criada e disponibilizada par aa população em menos de um ano.
Cada vacina atua de formas diferentes, o que é interessante, pois isso possibilita descobertas de vacinas diferentes. Apenas uma vacina disponível para produção em uma escala gigantesca pode ser muito demorado.
Quanto à imunização contra o sars-cov-2, Giovanna ressalta que “o tempo estimado é que uma vacina demore até 18 meses para ficar pronta, apesar de alguns cientistas estipularem que até setembro alguma vacina deve estar autorizada para o uso em humanos. Isso seria um recorde, pois, até então, a vacina mais rápida a ser desenvolvida foi a do sarampo, que levou dez anos para ficar pronta a partir do descobrimento do vírus”.
A descoberta de uma vacina envolve várias etapas complexas como o estudo do microorganismo, como ele age no corpo e como o corpo pode se defender dele. São necessários vários testes para saber os efeitos colaterais, assim como a dosagem adequada para o paciente.
No Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz e o Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da USP são alguns dos polos de pesquisa que concentram esforços no desenvolvimento de uma vacina. Ela seria produzida sem o material genético do vírus – geralmente, vacinas como a da gripe são feitas com o vírus mais fraco ou inativado, o que estimula o corpo a produzir uma resposta imunológica ao invasor, mas sem que a pessoa de fato tenha sido infectada.
A proposta brasileira é inserir moléculas sintéticas na vacina. Elas serão capazes de fornecer instruções para que o sistema imunológico consiga combater o coronavírus real, sem necessidade do material genético do vírus. A equipe decidiu seguir uma estratégia diferente da plataforma tecnológica de mRNA que está sendo utilizada pelas indústrias farmacêuticas. Em resumo, essa opção é baseada em moléculas sintéticas de RNA mensageiro com informações para a produção de proteínas reconhecíveis pelo sistema imunológico humano.
A FioCruz usa o vírus da influenza como vetor. O Incor estuda uma vacina a partir de um vírus oco com pedaços de proteína de coronavírus dentro. Os anticorpos lidam bem com esses pedaços e conseguem combater com anticorpos a partir deles. Esse mês, ainda, a vacina deve ser testada em camundongos.
Pelo fato de o vírus ainda ser pouco conhecido, inserir seu material genético nas pessoas seria uma manobra arriscada. Por esse motivo, a equipe pretende iniciar os testes em animais.
Em geral, as vacinas tradicionais, baseadas em vírus atenuados ou inativos, como o da influenza, têm demonstrado excelente imunogenicidade, e o conhecimento das características delas serve de parâmetro para o desenvolvimento bem-sucedido de novas plataformas vacinais.