A luta pela hegemonia, por Samuel P. Guimarães

O fenômeno político, econômico e militar mais importante, anterior à emergência do Coronavírus e que, após o fim da Pandemia, permanecerá, é a disposição dos Estados Unidos em manter sua hegemonia mundial, seu poder de Império, face à ascensão e competição chinesa.

A hegemonia em nível mundial é a capacidade de elaborar, divulgar e fazer aceitar pela maioria dos Estados uma visão do mundo em que o país hegemônico é o centro; de organizar a produção, o comércio e as finanças mundiais de forma a captar para a sede do Império uma parcela maior do Produto Mundial para uso de sua população, e muito em especial de suas classes hegemônicas e de seus altos funcionários; a capacidade de impor a “agenda” da política internacional; a força para punir as “Províncias” do Império que se recusem ou se desviem das normas informais de seu funcionamento.

Durante, após e desde a Segunda Guerra, os Estados Unidos da América, ao suceder o combalido Império Britânico, organizaram em 1946 o sistema político com as Nações Unidas e suas agências; o sistema econômico com o FMI (1944), o Banco Mundial (1944), o GATT (1947) (e depois a OMC em 1995) e o Plano Marshall (1948), o sistema militar com a OTAN (1949), os pactos regionais de defesa “mútua”, as bases militares, as frotas e o Tratado de Não Proliferação Nuclear (1968); o sistema de “atração dos melhores cérebros” (que é o outro lado do “brain drain”) de todos os países e de geração de ciência e tecnologia; e o sistema mundial de formação da opinião pública e de interpretação da realidade.

Os sistemas políticos, econômicos e militares estão em reformulação permanente para atender às necessidades internas e externas do Império Americano. Assim ocorreu nos episódios de abandono unilateral pelos Estados Unidos da paridade ouro-dólar, em 1971; de tornar indefinida a vigência do TNP, em 1995; da aceitação da Índia como potência nuclear; da reformulação da política externa pelo Governo Trump desde 2016, com base nos conceitos de America First, de anti-multilateralismo, de desrespeito às decisões do Conselho de Segurança, de unilateralismo, de uso da violência, de negação da mudança climática.

Desde 1945 lograram os Estados Unidos e suas classes hegemônicas (o establishment ?) extraordinárias vitórias. Executaram uma eficiente política externa bipartidária. Contribuíram para desmantelar os impérios coloniais francês, britânico, holandês e português; abriram a China ao capital megamultinacional; desintegraram a União Soviética; promoveram a aceitação como “natural”, pelos países subdesenvolvidos, da divisão de trabalho entre produtores de matérias primas e produtores industriais; superaram as crises de 2001 e 2008; eliminaram (assassinaram ?) Bin Laden e assim vingaram o crime de lesa majestade cometido em 2001; mantiveram esmagadora supremacia militar e nuclear.

A China realizou extraordinários feitos desde 1945. O Exército de Libertação Popular e o Partido Comunista Chinês venceram e expulsaram os exércitos invasores japoneses; venceram e expulsaram Chiang Kai Shek, o Kuomintang e seu exército de dois milhões de soldados para Taiwan; estruturaram o Estado chinês socialista; sem serem derrotados, enfrentaram os Estados Unidos na Guerra da Coréia (1950-53); explodiram em 1964 sua primeira bomba atômica; obtiveram o reconhecimento diplomático americano; em 1971 ingressaram no Conselho de Segurança e nas agências da ONU no lugar de Taiwan; fizeram a reforma agrária e com amplos movimentos populares abalaram as estruturas elitistas tradicionais e consolidadas, remanescentes da China imperial; superaram os efeitos do cisma com a URSS; auxiliaram o Vietnam em sua vitória final, em 1975, contra os Estados Unidos; expandiram os sistemas de educação e saúde e reduziram a pobreza de forma rápida e significativa sendo os chineses em situação de extrema pobreza menos de 1% da população. O seu míssil Dongfeng-41 desenvolve velocidade superior a 25 vezes a do som e pode atingir alvos a 13.000 km, sem que exista arma comparável no arsenal americano.

A China se recusou a fazer parte do Pacto de Varsóvia (1955); e, em 1957, rejeitou a política de coexistência pacífica de Kruschov. Em 1958, a China recusou pedido de uso de portos pela URSS. A confrontação ideológica fez com que a URSS, em 1958, após a Segunda Crise do Estreito de Taiwan, temendo o confronto entre China e EUA suspendesse a cooperação nuclear; revogasse a promessa de fornecer tecnologia para a construção de bomba atômica pela China e, em 1960, ordenasse a saída de todos os especialistas russos. A aproximação com os Estados Unidos, em 1972, fez com que as relações com a URSS se mantivessem distantes até a década de 1980 quando Gorbachev iniciou processo de aproximação que levaria a sua visita à China em 1989.

Os Estados Unidos da América, desde 1607, com a fundação de Jamestown, na Virginia, e das Treze Colônias, tem a convicção de que cabe a eles liderar o mundo (e não apenas o Ocidente) como nação “indispensável” e “excepcional” por serem a mais antiga democracia, a mais rica e dinâmica economia, a mais poderosa potência militar, a mais benevolente e generosa nação, e aquela que organizou o sistema internacional depois dos desastres da Grande Depressão e da Guerra Mundial.

A China que, com cinco mil anos, é a mais antiga civilização, sempre foi a maior economia e o mais poderoso Estado, ainda que humilhada pelas Potências ocidentais entre 1840 e 1949, com um amplo e pioneiro legado de inovações tecnológicas, de capacidade e método de governo, de especulação filosófica, de arte e literatura. Hoje, como República Popular da China ostenta grande pujança econômica e tecnológica.

Deng Xiaoping definiu os requisitos indispensáveis para o desenvolvimento da China: estabilidade interna e ambiente internacional pacífico.

Os dirigentes da República Popular reiteram em todas as ocasiões que seu desenvolvimento é pacífico e cooperativo e a China se apresenta como um Estado que deseja participar das instituições internacionais e não destruí-las ou substituí-las, procurando, todavia, reformá-las.

A China procura se apresentar como um parceiro confiável, pacífico, cooperativo em especial em relação aos países de sua vizinhança mais próxima. É importante mencionar que entre os principais investidores na China se encontram empresas de Taiwan e Hong Kong e as comunidades, prósperas e influentes, da Diáspora chinesa nos diferentes países da Ásia, que somam cerca de 10 milhões de descendentes chineses.

A reorientação radical, porém gradual e experimental, comandada por Deng Xiaoping a partir de 1978, da política econômica da República Popular da China com base na abertura externa, na atração do capital multinacional e na economia de mercado, foi possível graças à destruição (ou pelo menos ao forte abalo) das estruturas feudais e elitistas do Império chinês no período de Mao Zedong (1949-1976).

A China atraiu anualmente o segundo maior fluxo de investimentos estrangeiros, promoveu intensa transferência de tecnologia e exportações, cresceu à média de 10% ao ano entre 1978 e 2008 (trinta anos) e continua a crescer a taxas elevadas. Tornou-se a segunda maior economia do mundo, o maior país exportador e o segundo maior importador, detentor das maiores reservas internacionais (três trilhões de dólares), o maior investidor em títulos do Tesouro americano e grande gerador de tecnologia.

Xi Jinping tem insistido que o grande sonho chinês é a revitalização da cultura, do Estado e da civilização chinesa e a unidade do território com a reincorporação de Taiwan e a realização do socialismo com características chinesas.

A China tem duas metas temporais: a do centenário de fundação do Partido Comunista Chinês, em 2020, e a do centenário da Revolução Comunista, em 2049. A meta estabelecida para o centenário de 2020 era criar uma economia moderadamente próspera e a meta para o centenário de 2049 é atingir uma economia próspera e poderosa.

A China executa uma estratégia de política externa com as seguintes características e objetivos:

  • manter relações de não-confrontação em geral e, acima de tudo, evitar a confrontação militar com os Estados Unidos;
  • assegurar fontes diversificadas de matérias primas para a economia chinesa;
  • abrir mercados para as exportações e para os investimentos chineses;
  • não interferir em assuntos internos políticos ou econômicos dos países;
  • não impor condicionalidades políticas ou econômicas para a cooperação econômica nem fazer críticas sobre a situação de direitos humanos ou sobre o regime político de terceiros países;
  • fortalecer seus laços com os países vizinhos através da Shangai Cooperation Organization (SCO), do acordo com a ASEAN, e de acordos bilaterais com a Rússia.

A China desenvolve iniciativas de aproximação e programas de cooperação com os países africanos, com os países latino-americanos, com os países árabes e com os países que se encontram no que chamou de Cinturão e Rota da Seda.

Três iniciativas políticas chinesas tiveram grande importância. A primeira foi a criação dos BRICS, em companhia da Rússia, da Índia, do Brasil e África do Sul. No âmbito dos BRICS foi criado, em 2014, o Novo Banco de Desenvolvimento para financiar projetos de infraestrutura e os Acordos de Reserva Contingente, para fazer face a dificuldades de balanço de pagamentos.

A segunda, a Organização de Cooperação de Shangai (SCO), que foi fundada em 2001, com a Rússia, o Cazaquistão, o Tadjiquistão, Quirquistão e Uzbequistão, e da qual, em 2017, a Índia e o Paquistão se tornaram membros. Sua finalidade principal é a cooperação em matéria de segurança e de combate ao terrorismo, ao separatismo e ao extremismo.

A terceira foi a criação, em 2014, do Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura. A criação do Banco atraiu grande interesse europeu e suscitou a oposição americana. Todavia, metade dos países da OTAN e os grandes países asiáticos assinaram, à exceção do Japão. Seus membros fundadores mais importantes foram a Áustria, Reino Unido, Itália, Alemanha, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Austrália, China, Coréia do Sul, Paquistão, Rússia, Índia, África do Sul e Brasil.

Oito presidentes americanos, de Nixon a Obama, executaram uma estratégia de engajamento, baseada na convicção de que abraçando a China política e economicamente fariam com que ela se tornasse mais capitalista e liberal.

Essa estratégia criou a maior relação comercial entre dois países. Há cerca de 70 mil companhias americanas na China e em 2005 iniciou-se um grande fluxo de estudantes chineses para os Estados Unidos, que são o maior grupo nacional nos Estados Unidos.

Assim, até a presidência de Barack Obama (2007-2015), a estratégia americana se fundava na visão de que o crescimento econômico chinês levaria à abertura política (e à democracia) e a uma convergência chinesa com as políticas ocidentais.

Obama se proclamou o “primeiro presidente americano do Pacífico” (America’s First Pacific President). Sua política tinha como objetivo conter a ascensão da China que viria, em 2010, a ultrapassar o Japão e a se tornar a segunda maior economia do mundo.

O fato de a China ter superado os Estados Unidos em produto industrial causou grave preocupação nos estrategistas americanos, pois estes consideram que a manufatura é a base da indústria e que uma manufatura forte permite um poder militar forte e, com ele, a capacidade de competir pela hegemonia global.

A ênfase na Ásia (rebalance to Asia-Pacific), slogan da política externa de Obama, era sustentada por quatro pilares: uma alocação de 60% da força naval e aérea americana para a Ásia; a negociação da Trans-Pacific Partnership, com exclusão da China; exploração dos conflitos e disputas da China com seus vizinhos; manutenção do o contato com a China.

Em termos de paridade de poder de compra (PPP) a China superou os Estados Unidos como maior economia do mundo em 2014; em 2016 o Produto real (GDP) chinês era 12% maior que o americano e, em 2015, o produto manufatureiro chinês foi 150% maior. Em cada um dos cinco anos até 2016 a China foi o primeiro país em pedidos de patentes.

Os Estados Unidos negociaram acordos militares com países da região como o Japão, a Coréia do Sul, a Austrália, as Filipinas. Na área econômica negociaram, sigilosamente e fora da OMC, o TransPacífic Partnership Agreement (2015), amplo acordo de livre comércio e de normas em muitas áreas, em um esquema OMC-Plus e mesmo (acordo Coréia do Sul-Estados Unidos) KAFUS-Plus, entre 12 países, entre os quais se destacam EUA, Japão, Canadá, Austrália, México e Vietnam.

A negociação do TPP procurava isolar a China de seus vizinhos mais próximos. Os Estados Unidos, ademais, insistiam em suas críticas à situação de direitos humanos e ao regime político chinês, acusado de ditatorial, provocando irritação nas autoridades chinesas enquanto sua política de venda de armas a Taiwan e estímulo à sua independência contrariava seus compromissos.

A iniciativa estratégica chinesa foi proposta aos Estados Unidos por Xi Jinping em 2013: não ao conflito e não à confrontação; respeito mútuo; cooperação ganha-ganha (win-win). Os Estados Unidos não aceitaram nem rejeitaram este conceito de Xi Jinping para reger as relações China/Estados Unidos.

A estratégia de Obama não só fracassou como fez aumentar as desconfianças do Governo da China e o estimulou a tentar contrabalançar a ação americana com iniciativas tais como a Parceria Econômica Abrangente; a Área de Livre Comércio da Ásia-Pacifico; o projeto de Um Cinturão, uma Rota, e a criação do Banco dos BRICS e do Banco Asiático de Infraestrutura. De outro lado, a China tem continuado a expandir sua presença em altos cargos de organismos como o FMI, o Banco Mundial e as Nações Unidas.

Barack Obama foi sucedido em 2016 por Donald Trump, assumidamente um “outsider” (estranho) em relação à política e ao próprio Partido Republicano, e que provocou uma reviravolta, inclusive emocional e voluntarista, na condução da política externa americana e, em especial, quanto à China.

Seu lema America First resume sua visão antagônica em relação a compromissos e organismos internacionais, às negociações multilaterais, em relação à não intervenção política. Trump tende a considerar que a política externa é, em realidade, uma negociação comercial em que ele, Trump, acredita que prevalecerá por ter maior experiência como homem de negócios.

Donald Trump identificou a China não só como competidora, mas também como a principal adversária econômica, política e militar dos Estados Unidos e que tem de ser tratada com firmeza.

Donald Trump advoga o decoupling, a separação, dissociação da China: forçando as fábricas americanas a deixar a China, reduzindo o fluxo de estudantes e tecnologia, uma posição extrema expressa em livros como Morte pela China (Death by China) de Peter Navaro que se tornaria assessor de Trump e Direitor de Comércio e Política Industrial da Casa Branca.

A abordagem de confrontação de Trump atraiu surpreendente apoio bipartidário. Os empresários americanos passaram a se queixar do roubo de segredos comerciais, de transferência forçada de tecnologia e dos subsídios às empresas chinesas que tornavam a competição impossível. E os políticos denunciaram as prisões de ativistas de direitos humanos e de lideranças de minorias étnicas.

A estratégia de Donald Trump de contenção do crescimento econômico e político da China tem como objetivos:

  • eliminar o déficit comercial dos EUA, de cerca de US$ 360 bilhões anuais;
  • impedir a transferência, por empresas americanas e europeias, de tecnologia avançada;
  • impedir a adoção da tecnologia 5G da Huawei;
  • promover o retorno da produção industrial e de seus empregos para os Estados Unidos;
  • expandir o orçamento e a presença militar na Ásia;
  • alinhar os países europeus com os Estados Unidos contra a China;

Em março de 2018, Trump declarou que “guerras comerciais são boas e fáceis de vencer” e aumentou tarifas sobre aço e alumínio importados da China. Beijing retaliou com tarifas sobre exportações americanas.

Em setembro de 2018, um navio de guerra chinês e um navio americano chegaram a 50 metros um do outro no Mar do Sul da China e quase colidiram.

Em outubro de 2019 os Estados Unidos colocaram em uma “lista negra” empresas de tecnologia e dirigentes do Partido Comunista Chinês pelo seu envolvimento na prisão de muçulmanos em Xinjiang.

O secretário de Estado Mike Pompeo declarou que a América e seus Aliados deveriam assegurar que a “China mantivesse apenas seu lugar próprio no mundo”, Pompeo declarou que a “China quer ser a potência econômica e militar dominante no mundo, disseminando sua visão autoritária da sociedade e suas práticas corruptas”.

No final de 2019, Washington tinha abandonado a política de “engajamento” com a China, mas não havia ainda uma estratégia alternativa definida.

Em março de 2019, o Comitê do Perigo Presente dos anos 50 foi reativado. Newt Gringrich publicou o livro Trump vs. China e chamou a China a maior ameaça aos Estados Unidos, muito maior do que fora a Alemanha nazista ou a União Soviética.

Trump:

  • taxou em 100% as importações chinesas, usando o argumento de segurança nacional, em violação dos compromissos assumidos pelos EUA na OMC;
  • bloqueou o funcionamento do mecanismo de solução de controvérsias da OMC;
  • retirou os EUA da Trans Pacífic Partnership;
  • proibiu a venda de empresas americanas de alta tecnologia;
  • pressionou os países europeus a se alinhar com sua política anti-China;
  • denunciou as despesas militares chinesas como exageradas e provocativas;
  • renovou os tratados de aliança militar com o Japão e a Austrália;
  • retirou os EUA do Acordo de Paris sobre mudança climática.

Em 2019, foi assinada a Fase 1 do acordo comercial entre China e Estados Unidos que prevê:

  • cancelamento de tarifas que passariam a vigir em 15/12/19 e incidiriam sobre US$ 160 bilhões de produtos chineses;
  • redução de 15% para 7,5% das taxas sobre outros produtos no valor total de US$ 120 bilhões importados da China;
  • foram mantidas as tarifas americanas de 25% sobre US$ 250 bilhões em produtos;
  • a China assumiu o compromisso de comprar US$ 32 bilhões adicionais de produtos agrícolas (trigo e milho) americanos ao longo de 2 anos;
  • o acordo inclui seções sobre propriedade intelectual, transferência forçada de tecnologia, alimentos, finanças, moeda, câmbio e solução de disputas.

Estão em curso as negociações da Fase 2 do acordo comercial.

O comércio bilateral China/Estados Unidos se reduziu em mais de US$ 100 bilhões em 2019. O déficit comercial americano se reduziu em US$ 60 bilhões e permaneceu em US$ 360 bilhões em 2019. As exportações agrícolas anuais dos EUA para a China caíram de 25 bilhões para US$ 7 bilhões em 2019.

Os investimentos americanos na China permaneceram estáveis, mas os investimentos chineses se reduziram de US$ 54 bilhões em 2016 US$ 9,7 bilhões em 2018 e apenas US$ 2,5 bilhões no primeiro semestre de 2019.

Os Estados Unidos fizeram uma lista de dezenas de empresas chinesas, entre elas a Huawei, com as quais as empresas americanas não podem fazer negócios. A China, em retaliação, fez uma lista semelhante de empresas americanas.

Em 2018, a China superou a duração da URSS (1917-1991) e se tornou o mais antigo Estado comunista sobrevivente.

A comunidade de inteligência americana desde sua organização com a OSS espiona governos estrangeiros. Hoje, a China fez o mesmo sob veementes protestos americanos.

O governo chinês tem coagido companhias americanas a transferir tecnologia. Empresários inicialmente entusiastas das relações com a China se tornaram ferozes críticos.

O mais forte embate e competição entre China e Estados Unidos é sobre quem liderará a próxima geração de tecnologias. Os executivos do Silicon Valles inicialmente minimizaram o desafio chinês em tecnologia argumentando que controles rígidos na política e na educação na China iriam impedir inovações radicais. Mas esta visão não mais prevalece.

No plano “Made in China 2025” foram destinados bilhões de dólares em subsídios para pesquisa para ajudar as companhias chinesas a superar seus competidores em áreas de fronteira como veículos elétricos e robótica.

O sistema 5G é a futura geração de telecomunicação móvel. Cinco empresas vendem equipamentos e sistemas 5G para operadoras: Huawei, ZTE, Nokia, Samsung e Ericsson. Diante da forte campanha contrária americana, que alega riscos para a segurança nacional dos países, a China tem desenvolvido intensos esforços diplomáticos para fazer com que o sistema da Huawei de 5G para telefonia venha a ser adotado em especial pelos países europeus.

A imprevista Pandemia do Coronavírus criou uma oportunidade para a China prestar auxílio aos países europeus atingidos, em especial à Itália e à Espanha e demonstrar sua eficiência, como Estado, pela capacidade de controlar a Pandemia com medidas eficazes e rápidas, e suscitando uma comparação com os Estados Unidos, a esses desfavorável, sofrendo a China relativamente poucos contágios e mortes.

Em maio de 2019 o Departamento do Comércio proibiu a Huawei de comprar microchips americanos o que prejudicou sua capacidade de produzir smartphones e equipamentos de rede (networking). Os Estados Unidos pediram a 61 países que proibissem o equipamento de Huawei, mas somente três: Austrália, Nova Zelândia e Japão atenderam.

Os Estados Unidos não têm uma alternativa 5 G para competir com a China. Como percentagem da economia o investimento federal nos Estados Unidos em pesquisa caiu a seu menor nível desde 1955.

A China é acusada desde 2017 de erigir uma “cerca digital” e física em torno dos muçulmanos na região de Xinjiang. Mais de um milhão de indivíduos teriam sido “internados” em campos de “treinamento vocacional” e milhões seriam vigiados por programas de reconhecimento facial e outras técnicas em um programa obrigatório chamado de Physcels for All.

Dificilmente a estratégia de “decoupling” de Donald Trump poderia ser bem sucedida. A renda total das companhias americanas e afiliados na China em 2017 foi US$ 544 bilhões. Algumas companhias estão construindo fabricas na Índia, no Vietnam e no México. Porém a maioria das companhias desejam mais acesso ao mercado chinês. No meio da “guerra comercial” Starbucks anunciou planos para abrir 3.000 lojas na China e a Tesla abriu uma fabrica em Shangai para construir 150.000 carros por ano.

A China é o mais lucrativo mercado para a National Basketball Association (NBA), com  um valor de 4 bilhões de dólares. A Nike fez mais de 1,5 bilhões de dólares por ano na China.

O mercado chinês se tornou tão importante para as companhias americanas que elas estão aceitando de forma “suave” pressões de censura.

A China não está exportando uma ideologia de Estado como fazia a União Soviética. Ela quer, todavia, fazer o mundo mais aceitável para sua ideologia. Hollywood aceitou editar filmes, como o filme sobre Freddie Mercury, para poder ter acesso ao mercado chinês.

Em 2019 dez Faculdades americanas fecharam Institutos Confúcio. Em Beijing o governo determinou que as instituições públicas removessem todo equipamento estrangeiro de computador e programas de software.

Os investimentos chineses no exterior têm suscitado queixas de um novo colonialismo. Os Soviéticos procuravam conquistar “corações e mentes”. Os chineses não se preocupariam.

A América tem a melhor oportunidade de apresentar sua visão com os estudantes estrangeiros que incluem 370 mil chineses, 4 vezes o número de dez anos atrás, em 2009.

Em 2012 a China lançou seu primeiro porta aviões e, em 2019, o segundo, e tem planos para construir vários nos próximos dez anos. Adquiriu também misseis, defesa aérea, submarinos. Os Estados Unidos ainda dispendem mais de duas vezes em defesa do que a China.

Em janeiro de 2019, Xi declarou que, eventualmente, Taiwan deverá e será reunida à República Popular da China e que a China se reserva o direito de usar de força contra qualquer intervenção de forças estrangeiras.

A China teria praticado amplas operações cibernéticas mirando engenharia, telecomunicação e industrias aeroespaciais.

Beijing sempre ambicionou controlar o Mar do Sul da China por causa dos recursos naturais e a localização estratégica. Em 2012 a China ocupou um recife perto das Filipinas chamado Scaborough Shoal. Os EUA não reagiram. Em 2014 a China começou a construir ilhas artificiais em cima de sete recifes no Mar do Sul, que condena como necessárias à sua defesa.

As iniciativas chinesas radicalizaram membros da comunidade de segurança nacional americana.

A mais perigosa fronteira entre os Estados Unidos e a China é o território contestado do Pacífico Ocidental: Taiwan, o Mar do Sul da China e uma série de recifes e Shoals. Os EUA deslocam navios e jatos perto das ilhas artificiais e os chineses tentam amedrontá-los o que já provocou desde 2016 18 encontros inseguros e quase colisão no ar ou no mar.

Taiwan se encontra a 130 km da China. Há 23 milhões de taiwaneses, sendo que 850 mil moram na China e outros 404 mil lá trabalham. Em 2019 2,71 milhão de chineses visitaram Taiwan.

A competição entre China e Estados Unidos também envolve pequenas ilhas e rochedos no Mar do Sul da China, sobre os quais diversos Estados reivindicam soberania. Os Estados Unidos tem se colocado do lado desses Estados contra a China, em uma questão importante para a navegação da Sétima Frota americana e as missões de patrulhamento.

Os Estados Unidos e a China estão se movendo em direção a uma separação que é menos econômica do que política e psicológica. Haverá uma decisão militar de “lutar mas não esganar”. A coexistência não é um decoupling (desconexão) nem appeasement (apaziguamento).

Em 2017, Xi afirmou que a China oferece um novo caminho para outros países subdesenvolvidos que desejam acelerar seu desenvolvimento e preservar sua independência.

Mais de 40 por cento do território chinês, a Mongólia interior, Tibete, Xinjiang era originalmente povoado por não-chineses. 98% da população são etnicamente chineses (Han) e os 2% constituem 42 nacionalidades minoritárias que gozam de direitos especiais.

Há uma disputa (fazer lista) com o Japão sobre as ilhas Senkaker/Diaoyu.

Os Estados Unidos tem enormes vantagens militares sobre a China, mais de 20 vezes armas nucleares e força aérea muito superior, e orçamentos de defesa três vezes maiores que os da China e aliados como Japão e Coréia do Sul e potenciais aliados, como Índia e Vietnam, com capacidade militar própria. A China não tem o equivalente no Hemisfério Ocidental.

Mas na última década a balança de poder na Ásia Oriental mudou a favor da China. A China tem misseis, aeronaves e navios e pode afirmar que atingiu superioridade militar na região e Washington não pode afirmar sua supremacia na região e as capacidades navais da China e o desenvolvimento de lasers, drones, cyber operações, e espaço exterior estão alcançando os Estados Unidos (Plus ças change).

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