Trump faz escalada nuclear, enquanto mundo se distrai com pandemia

Rússia ameaça EUA com resposta atômica caso Trump opere com submarino lançador de mísseis balísticos.

EUA testam mísseis balísticos no mar, enquanto Russos fazem exercícios militares na Sibéria

A segunda potência militar do mundo, Rússia, reagiu à escalada nuclear que Donald Trump promove, em meio à pandemia de covid-19. A Rússia ameaçou diretamente os Estados Unidos com um ataque nuclear maciço caso algum submarino americano faça um lançamento de míssil.

O recado inusual foi dado pelo Ministério das Relações Exteriores e pode ser lido como resposta a uma escalada promovida pelo governo de Donald Trump. Os dois países são as potências indiscutíveis no campo, herança da Guerra Fria: têm 92% das ogivas no mundo, que poderiam destruir o planeta várias vezes.

Trump aproveita-se de que nenhum país do mundo poderia mobilizar-se militarmente diante da profunda crise epidêmica que enfrentam. Em seu país, o americano faz o mínimo possível contra a covid-19, ultrapassando os 60 mil mortos pela doença.

Iniciar um conflito com países pequenos como Coreia do Norte e Irã, por exemplo, seria uma ótima forma de enfrentar os problemas econômicos e os 26 milhões de desempregados dos EUA, impulsionando a indústria armamentista, e, eventualmente, se apropriando de recursos naturais desses países. Além disso, todo conflito bélico eleva o patriotismo dos americanos e a popularidade de seus governantes. Trump é candidato à reeleição no pleito deste ano.

Obviamente ninguém espera que as duas potências entrem em conflito, mas especialistas alertam que as ações americanas de fato tornam o risco de algum acidente maior acontecer. Coreia do Norte e Irã são países aliados da Rússia.

No começo do ano, os EUA anunciaram ter equipado um primeiro submarino lançador de mísseis balísticos Trident com uma nova ogiva de potência reduzida —5 kilotons, ou 1/3 da força da bomba que arrasou Hiroshima em 1945.

Segundo a nova doutrina nuclear americana, implantada por Trump em 2018, o uso dessas armas táticas, que visam anular alvos militares restritos, seria aceitável em algumas circunstâncias.

Reação russa

A decisão de Trump de colocar em uso a ogiva W76-2 no submarino USS Tennessee já havia provocado críticas de parlamentares russos, mas agora a discussão subiu um degrau importante.

O presidente Vladimir Putin tem criticado sistematicamente os movimentos de Trump, dizendo que ele aumenta o risco de uma guerra nuclear.

A porta-voz do ministério russo, Maria Zakharova, disse que o movimento “aumenta o risco de um conflito nuclear”. “Eu gostaria de enfatizar que qualquer ataque de um submarino americano de mísseis balísticos, independentemente de suas características, será percebido como um ataque com armas nucleares.”

“De acordo com a nossa doutrina militar, uma ação dessas será considerada motivo para o uso retaliatório de armas nucleares pela Rússia”, completou, em entrevista na quarta (29).

Por outro lado, o russo está na vanguarda do desenvolvimento de novas armas estratégicas, como mísseis hipersônicos e novos ICBMs (mísseis intercontinentais pesados).

Moscou tem, segundo a Federação dos Cientistas Americanos, 1.600 dessas armas prontas para uso. Washington, 1.750. As lançadas por submarinos americanos usualmente têm 455 kilotons, enquanto mísseis intercontinentais disparados de silos ou lançadores podem chegar a mais de 1 megaton.

Em fevereiro, o Pentágono fez uma rara divulgação de um exercício de guerra nuclear no qual os russos atacavam primeiro, com uma bomba de baixa potência, um alvo da Otan (aliança militar ocidental) na Europa. A divulgação inédita já soa como provocação ou medida de força.

Provocações

A crise da Covid-19 também aumentou a tensão entre americanos e seus rivais. Norte-coreanos testaram mísseis de cruzeiro, e a China tem feito exercícios navais no momento em que os EUA estão com os dois porta-aviões na região do Pacífico desabilitados devido a infecções entre as tripulações.

Na semana passada, num movimento ainda não explicado, os EUA retiraram a sua força de bombardeiros estratégicos de Guam, território que possuem no Pacífico e que é central para quaisquer operações na região. A área militar oferece segurança ao Japão, por exemplo, contra China e Coreia.

De Guam, todos os aviões voltaram para bases nos EUA, levando à especulação de que Washington já não considera a região segura ante eventuais ataques balísticos de chineses ou até norte-coreanos.

Além de carregar eventualmente armas nucleares, esses aviões seriam a linha de frente a qualquer ataque contra Pyongyang, por exemplo. O Pentágono afirma que a mudança visa dar flexibilidade a seu uso, uma explicação pouco convincente.

A Rússia, que não confia em recuos americanos, segue com a rotina inalterada de exercícios militares, com ações semanais em diversas regiões. Patrulhas aéreas também continuam sendo feitas.

Caças de Finlândia, Suécia, Polônia e Dinamarca tiveram de interceptar dois bombardeiros com capacidade de ataque nuclear Tu-160 que fizeram uma patrulha nesta semana sobre o mar Báltico.