Artistas e organizações criam memoriais às vítimas da covid-19

A internet começa a reagir ao menosprezo de autoridades públicas, manifestantes e personalidades às vítimas fatais da pandemia de covid-19. Políticos e cidadãos comuns que ignoram o isolamento social, ou o desestimulam provocando aglomerações, tratam as milhares de morte que crescem exponencialmente no Brasil como um mal menor, um efeito colateral da necessidade de “reabrir a economia”.

Para combater essa mentalidade, artistas começam a criar projetos na internet para contar as histórias dessas pessoas que deixaram a vida mais cedo, por culpa da infecção por coronavírus. O objetivo é perpetuá-las e homenageá-las por meio de memoriais.

Inumeráveis (https://inumeraveis.com.br/) é uma obra do artista Edson Pavoni com colaboração de amigos, jornalistas e voluntários que continuamente adicionam histórias de conhecidos que faleceram.

Segundo Pavoni, um artista visual, o projeto Inumeráveis nasce com o intuito de reverter a lógica fria pela qual a pandemia está sendo tratada no Brasil. Por trás dos números em crescimento, por trás de falas e atitudes irresponsáveis de governantes, estão histórias de milhares de brasileiros. O memorial nasce com a missão de valorizar, em forma de registros históricos, cada uma das vidas perdidas em função da pandemia do coronavírus no Brasil. Pavoni quer dar poesia e história para as vítimas da doença.

O processo de concepção teve como ideia central sensibilizar as pessoas acerca das vidas perdidas durante esse dolorosa luta. “Ele foi concebido como uma obra, como um espaço, onde a memória dessas pessoas pudessem ficar gravadas. A gente foi se sentindo muito confrontado com essa coisa dos números. Você acorda e 150 pessoas morreram. no outro dia, 200 e tantas pessoas morreram. E esses números vão perdendo significado, vão perdendo sentido. A gente acaba ficando insensível pra eles”.

O projeto tem ganhado o apoio de diversos influenciadores digitais e realmente exibe de maneira sensível o impacto da pandemia no nosso país.

Contribuição

A plataforma digital permite duas possibilidades de colaboração. A primeira é direcionada para jornalistas, estudantes de jornalismo e outros profissionais que queiram reportar uma história; a outra pode ser acessada por familiares e amigos que gostariam de prestar uma homenagem à vítima.

Os voluntários serão auxiliados pela plataforma moderadora desenvolvida para captar de forma aberta e integradora os registros de histórias já realizados.

Além do memorial digital, a ideia é materializar o Inumeráveis por meio de uma instalação artística em local público e aberto ao ar livre, assim cada nome das vidas perdidas terá também seu lugar físico.

Ações concretas

Outro projeto similar é a página do Facebook Memorial das Vítimas do Coronavírus no Brasil (@memorialcoronabrasil). O Memorial é uma das iniciativas da “Rede de Apoio às Famílias de Vítimas Fatais de Covid-19” no país, uma rede emergencial formada por vários voluntários, profissionais e pessoas solidárias às famílias de vítimas fatais da pandemia de coronavírus no território nacional, à qual já aderiram mais de 60 organizações da sociedade civil se somando à sua formação, manutenção e fortalecimento permanente – em prol das famílias.

A rede se coloca alinhada ao recém lançado “Pacto pela Vida e pelo Brasil”, proposto pela Comissão Arns de Direitos Humanos, e se organiza diante da aceleração das milhares de mortes. Como envolve várias organizações, procura oferecer serviços de apoio às famílias de vítimas, além de registrar histórias. A ajuda vai de promover algum tipo de funeral digno, assim como apoio psicológico e financeiro.

Para informações, adesão, apoio ou contribuiçaõ com a Rede das mais variadas formas possíveis, fazer contato por whatsapp ou telegram (11-93011-3281, 11-99772-0491 ou 21-99809-9199) ou ainda pelos e-mails ([email protected] ou [email protected]).

Perdas inestimáveis

A Folha de S. Paulo também tem um projeto (https://arte.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/historias-das-vitimas-do-novo-coronavirus/#/)

 de registro da história de muitos desses brasileiros. Até agora, o formato especial já homenageou 63 pessoas e suas vidas. As histórias mostram o que o Brasil está perdendo com cada um desses talentos que abandonam sonhos, projetos e pessoas que apoiavam.

Relicários virtuais

Já a antropóloga Debora Diniz criou uma conta no Instagram (@reliquia.rum) reunindo memórias de mulheres mortas pelo coronavírus, ilustradas pelo artista Ramon Navarro. De 23 de março até hoje, foram postados registros das histórias de 38 mulheres. Na descrição da página, ela explica o nome do projeto: “Relicários são restos, aquilo que sobrou. Aqui são relicários de uma epidemia no Brasil”.