Moro mostra provas de que Bolsonaro temia investigação de aliados

O ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, apresentou ao Jornal Nacional trocas de mensagens com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e com a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) para comprovar seu lado das acusações feitas durante o anúncio de sua demissão, de manhã.

Ação partiu do Ministério da Justiça, chefiado por André Mendonça

Desde o início da tarde, órgãos de imprensa divulgam que o ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, diz ter farto material de áudio e mensagens de WhatsApp para comprovar acusações contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Juiz criminal por 22 anos, Moro sabe que não poderia fazer acusações ao presidente da República sem provas concretas, ao contrário do que fez com o ex-presidente Lula. Pelo menos sete crimes que Bolsonaro teria cometido foram apontados pelo ex-ministro no pronunciamento que fez nesta sexta-feira.

A troca de acusações entre Moro e Bolsonaro levou mais de um hora da duração do telejornal, que teve duração maior, nesta sexta (24). A edição do JN foi francamente favorável ao ex-ministro e ex-juiz da Operação Lava Jato colocando Bolsonaro na defensiva. A autenticidade das imagens das mensagens de WhatsApp foram confirmadas por outros órgãos de imprensa.

Moro pediu demissão alegando discordar de interferência política de Bolsonaro na Polícia Federal. Segundo ele, a suposta politização ocorreu na exoneração do diretor-geral da PF, Maurício Valeixo. Em pronunciamento, ele acusou o presidente de querer ter acesso a investigações sigilosas e disse que Bolsonaro teria lhe confidenciado estar preocupado com inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF).

À tarde, Bolsonaro, também em pronunciamento, negou as acusações do ex-ministro e falou que Moro chegou a propor ser indicado pelo presidente a uma vaga no Supremo em novembro, em troca da saída de Valeixo. Ferido em seus brios, o ex-juiz mostrou ao JN uma troca de mensagens com a deputada Carla, sugerindo que foi ela quem propôs que ele aceitasse a exoneração do diretor da PF em troca de uma vaga no STF. Segundo as imagens enviadas pelo ministro, ele teria recusado a proposta, dizendo que não estava “à venda”.

A imagem divulgada no Jornal Nacional da Rede Globo

Na conversa, ela se compromete a convencer Bolsonaro a indicar Moro ao STF caso ele assinasse a exoneração de Valeixo.

Zambelli: Por favor, ministro, aceite o Ramage [Alexandre Ramagem, diretor da Agência Brasileira de Inteligência]. E vá em setembro para o STF. Eu me comprometo a ajudar. A fazer o JB prometer.

Moro: Prezada, não estou à venda.

Zambelli: Ministro, milhões de brasileiros vão se desfazer. Eu sei, por Deus, eu. Se existe alguém no Brasil que não está à verba [sic] é você.

Moro: Vamos aguardar. Já há pessoas conversando lá.

A deputada do PSL se casou em fevereiro com o coronel Aguinaldo de Oliveira, diretor da Força Nacional de Segurança, e teve Sergio Moro como padrinho de casamento. Procurada pelo Jornal Nacional, Zambelli não se manifestou. Mais tarde, em uma live pelo Facebook, ela disse que o ex-ministro foi “maligno” em expor a conversa privada entre ambos. “Vazar para o Jornal Nacional como se fosse algo ilícito, como se eu tivesse feito uma coisa ilícita. Achei extremamente maligno. Não gostei do que ele fez”, diz ela no Twitter. “Eu não sou ninguém para prometer uma vaga no STF. O que eu quis dizer é que eu posso ajudar. Tentar falar com o Bolsonaro”, continuou a deputada, que acusou Moro de deixar o cargo “de forma muito fria”.

Ainda ao JN, Moro apresentou uma troca de mensagens com o presidente que comprovaria que a demissão de Valeixo não teria outro motivo a não ser o interesse de interferir politicamente nas investigações.

O print de WhatsApp divulgado por Moro ao Jornal Nacional mostra uma conversa da última quarta-feira entre ele e Bolsonaro — registrado nos contatos como “Presidente Novíssimo”.

Bolsonaro encaminha a Moro uma reportagem do site O Antagonista que revela que a PF estaria “na cola” de 10 a 12 deputados bolsonaristas e diz que este é “mais um motivo para a troca” do comando da instituição, ou seja, para a demissão de Maurício Valeixo.

O Antagonista se refere a um inquérito aberto para apurar fale news e ameaças contra integrantes da corte.

A instauração do inquérito foi muito criticada pelo fato de a corte ter agido de ofício, ou seja, ter iniciado uma investigação sem ser provocada pela Procuradoria-Geral da República, que nem sequer participa das apurações.

Na noite desta sexta, Moraes determinou à PF que mantenha à frente dos casos os delegados que apuram a propagação de notícias falsas contra a corte e investigam os protestos a favor da ditadura militar.

Além do inquérito das fake news, a decisão de Moraes alcança outro inquérito, aberto na terça (21) e que faz referência às manifestações do último domingo (19) que pediram a intervenção militar e a volta do AI-5.

Moro responde dizendo que o inquérito está no STF, sob os cuidados do ministro Alexandre de Moraes, e que é ele quem determina as buscas. “Diligências por ele determinadas, quebras por ele determinadas, buscas por ele determinadas. Conversamos em seguida as 0900”, diz Moro, em referência à reunião que teria no dia seguinte com Bolsonaro.

Hoje de manhã, Moro havia dito que a demissão do diretor-geral não teve seu consentimento e que não firmou o documento, apesar de o decreto no Diário Oficial da União sair com a sua assinatura eletrônica. Bolsonaro, à tarde, reiterou que a exoneração foi feita a pedido de Valeixo, mas o decreto foi reeditado no início da noite sem a assinatura do ex-ministro da Justiça.