Ex-ministros duvidam dos dados do governo sobre testagem da covid-19

Ministro da Saúde diz que governo vai dobrar testagem em massa, mas não dá prazo para cumprir a promessa. No ritmo atual, com menos de 300 mil testes no último mês, país só conseguiria finalizar a checagem de 25% da população brasileira em 2037

(Foto: PR)

O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, anunciou no início da semana que o governo vai realizar a compra de 46 milhões de testes para o novo coronavírus.

Ele disse que a medida é importante para pôr fim às medidas de distanciamento social adotadas até agora pelo governo. Mas os ex-ministros Humberto Costa e Alexandre Padilha duvidam da chance de êxito do governo em cumprir a promessa.

“No ritmo atual, o governo levaria 17 anos para testar os 25% da população como Teich propõe”, calcula Humberto, que é médico e senador pelo PT de Pernambuco.

Ambos apostam que a falta de previsão de prazo para a conclusão da testagem e a absoluta ausência de planejamento do governo Bolsonaro desde o início da pandemia tornam quase impossível o cumprimento da promessa de Teich.

“Falta transparência e informação técnica: onde o governo vai comprar esses testes? De onde surgiu essa meta de 46 milhões e que insumos serão usados se forem produzidos no Brasil?”, questiona o parlamentar. Nesta terça-feira (21), o Brasil passou a ter mais de 43 mil casos confirmados e 2.791 mortos.

A ironia é que o tempo de realização dos testes pelo governo Bolsonaro, no ritmo atual, seria concluído quando a PEC do Teto dos Gastos perder a validade, em 2036.

Sem a Emenda 95, imposta pelo presidente Michel Temer e aprovada pelo Congresso Nacional em 2016, a saúde pública teria R$ 132,4 bilhões, mais de R$ 10 bilhões acima do valor previsto no projeto de lei orçamentário anual do setor para 2020.

A ilusão das promessas de Teich se traduzem no baixo orçamento para o SUS, reduzido ano após ano desde 2016, quando Dilma Rousseff foi afastada da Presidência da República pelos conservadores e a mídia.

Comparação

O deputado Alexandre Padilha (PT-SP), que é infectologista com especialização pela USP, também é duro e observa que o ministro da Saúde vende ilusões.

“Essa meta de 46 milhões é 10 vezes superior ao que os Estados Unidos fizeram até agora – pouco mais de 4 milhões de testes”, compara.

Padilha lembra que o governo, desde o início da pandemia, não conseguiu chegar a organizar 300 mil testes. Ele avalia que a inexperiência de Teich pode tornar a crise ainda mais grave.

“Ou o novo ministro da Saúde não conhece nada do que está se fazendo no mundo e no Brasil para o enfrentamento do Covid-19, ou ele está adotando a tática de espalhar fake news com números falsos e superestimados”, afirma.

Padilha diz que o governo Bolsonaro falha na gestão da crise sanitária provocada pelo novo coronavírus e foi incapaz até agora de garantir equipamentos de proteção aos próprios profissionais de saúde.

Além disso, a falta de planejamento está provocando o colapso de hospitais em muitas capitais.

“Milhares de brasileiros estão nas filas de UTI e cada vez mais cresce o número de prefeitos e governadores que reclamam da falta de recursos e equipamentos do governo federal para reforçar o Sistema Único de Saúde”, acusa o deputado.  

Humberto Costa também é duro e diz que, cinco dias depois de ter tomado posse no cargo, Nelson Teich até agora não disse a que veio nem expôs como vai lidar com a pandemia ou que providências estão sendo adotadas para evitar o colapso do sistema público de saúde.

“O ministro é omisso, já não publica balanços da pandemia no Brasil, e não opina sobre as propostas de relaxamento do isolamento social”, criticou Humberto Costa.

Questionamentos

A previsão anterior do Ministério da Saúde era adquirir 24 milhões de testes, mas o plano foi desprezado por Teich, que simplesmente resolveu dobrar a meta, sem contudo explicar quem serão os fornecedores e porque chegou ao número de 46 milhões.

Para se ter uma ideia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou na segunda o envio de mais 30 milhões de testes de coronavírus nos próximos quatro meses a países que solicitarem. As primeiras remessas começarão a ser enviadas na próxima semana, disse o diretor-geral Tedros Adhanon.

A OMS vem defendendo a testagem em larga escala como uma das formas de controle da epidemia, mas muitos países dizem ter dificuldades por não possuírem estrutura de produção ou acesso a matéria-prima.

No Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), um dos centros de excelência em pesquisa científica na área de saúde do país, anunciou que tem disponibilidade de fazer 11 milhões de testes, mas que serão entregues somente em setembro.

A testagem é recomendada pela OMS como uma das pré-condições estabelecidas para o relaxamento de medidas de isolamento. E o presidente da República tem defendido o fim do confinamento e o relaxamento do isolamento social para retomar a economia.

Na segunda-feira, Bolsonaro anunciou que espera que a quarentena em algumas das cidades seja suspensa até o final desta semana. “O governo brinca com a morte”, adverte Padilha.

Os dois ex-ministros da Saúde lembram que o governo Bolsonaro promoveu cortes orçamentários expressivos na saúde e na pesquisa no ano passado e reiterou medidas de contenção de recursos para o setor em 2020.

Sob a batuta de Henrique Mandetta, a Saúde viveu o congelamento de R$ 599 milhões, 3% do que foi orçado para 2019, por conta da decisão do Ministério da Economia.

“ Paulo Guedes acentuou o estrangulamento de dinheiro para o SUS, que já havia perdido R$ 12 bilhões desde 2017, graças à famigerada PEC do Teto dos Gastos”, critica Humberto.

PT Nacional

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