Bolsonaro e coronavírus afundam o Brasil na pior crise de sua história

Expectativa de uma recuperação mais lenta, após a forte queda da atividade neste ano, tem ganhado força entre analistas

O fracasso da política econômica do governo Jair Bolsonaro, escancarado pelo crescimento pífio de apenas 1,1% em 2019, agravará ainda mais os efeitos da pandemia do novo coronavírus na economia brasileira. Segundo o jornal Valor Econômico, a expectativa de uma recuperação mais lenta, após a forte queda da atividade neste ano, tem ganhado força entre analistas.

Diversas instituições já projetam que o Produto Interno Bruto (PIB) do País terá a maior queda de sua história em 2020. O Banco Mundial estima um tombo de 5%. Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia brasileira despencará 5,3%. Se 2020 está perdido, a previsão para 2021 é uma recuperação modesta – de 2,9% (segundo o FMI) ou, pior, de somente 1,5% (conforme o Banco Mundial).

O FMI avalia que, em todo o mundo, é esperada uma recessão profunda que deixará cicatrizes. Não será diferente no Brasil. É consenso que a crise vai legar ao País mais desempregados, famílias com uma perda relevante de renda e um quadro fiscal pior do se esperava há bem pouco tempo. Perda de produtividade e de potencial de crescimento também estão na conta.

“Não acredito em recuperação em V (queda brusca seguida de um crescimento à altura)”, diz Gustavo Ribeiro, economista-chefe do ASA Bank. “O Fundo (FMI) projeta uma recuperação no mundo e no Brasil sem retomar o nível de produto anterior à crise”, agrega ele, que prevê queda de 5% no PIB em 2020, seguida de alta de 2,5% em 2021.

Para Ribeiro, uma volta ao nível do PIB de 2014, anterior à última recessão, foi adiada deste ano para algo em torno de 2023. Além disso, o aumento do desemprego vai deter uma retomada mais acelerada. “Esse é um dos principais pontos pelos quais não apostamos numa volta mais forte.”

A taxa de desocupação deve disparar cerca de três pontos percentuais, para 14,5%, ainda neste primeiro semestre – e passaria a cair apenas em 2021. Mas o Brasil conviverá com taxas de dois dígitos por um bom tempo, prevê o economista do ASA Bank. Até porque, diz ele, as medidas de proteção ao emprego anunciadas pelo governo são insuficientes.

A esse entrave ele soma a falta de espaço para a expansão do crédito às famílias e a diminuição do caixa das empresas. “A saúde financeira do setor privado não vai voltar rapidamente ao nível pré-crise”, diz. Ele ainda ressalta que o Brasil, como o mundo, sairá da crise mais endividado e com uma demanda maior por gastos, na área de saúde e assistência social.

Na opinião de Marcelo Gazzano, economista da A.C. Pastore & Associados, a saída gradual do isolamento e a forte queda do comércio internacional são os fatores que devem levar um crescimento do PIB em torno de 2,5% em 2021 após queda de 5% em 2020. “Esta é uma recessão sincronizada, que afeta os parceiros comerciais do País ao mesmo tempo”, diz

Com a piora do canal financeiro e a queda dos preços das commodities, é inviável vislumbrar uma recuperação em V. O cenário ainda mais desafiador para as exportações indica que não só o setor externo não será propulsor de uma recuperação, como tende a aprofundar a recessão deste ano.

Segundo Gazzano, é certo que haverá desemprego em massa, já que as ações do governo têm resultado imprevisível. “O que está se tentando fazer é tentar manter o PIB potencial. Mas não há base de comparação histórica para saber se as medidas vão ter sucesso”, diz.

Mesmo uma instituição menos pessimista, como o Banco Inter, traz más notícias na mala. Segundo a economista-chefe da instituição, Rafaela Vitória, o PIB pode cair 10% neste segundo trimestre em relação aos primeiros três meses do ano. Em suas contas, o desemprego pode chegar a 14%, mas deve voltar para perto de 12,5% no fim do ano.

Mas mesmo Rafaela concorda com uma visão dos economistas: as estimativas são muito preliminares pelo ineditismo da crise – e o maior risco é o descontrole da pandemia no País. “É o grande risco. Se tivermos uma segunda onda de contaminação e o isolamento social tiver se ser estendido, o processo de queda e recuperação da atividade seria bem mais estendido.”

Com informações do Valor Econômico