Coronavírus: crise apequenou Bolsonaro e desmoralizou Paulo Guedes

Para Thomas Traumann, governo “fracassa miseravelmente” em todos os eixos da crise da pandemia no Brasil

Em artigo para o Poder360, o jornalista e consultor de comunicação Thomas Traumann afirmou que a gestão Jair Bolsonaro “errou tudo” no enfrentamento da pandemia de Covid-19. “A crise provocada pelo coronavírus tem quatro eixos no Brasil: o de saúde pública, economia, abastecimento e liderança política. Em termos objetivos, o governo Bolsonaro fracassa miseravelmente em todos”, afirma Traumann, que foi porta-voz e ministro de Comunicação Social no governo Dilma Rousseff.

Segundo ele, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, falhou ao “demorar semanas preciosas para pedir a importação de kits de diagnósticos. No dia 18 de março, ele dizia que a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) por testes em massa era ‘um desperdício’. Só em abril, Mandetta descobriu que, sobrecarregada de pedidos de todo o mundo, a China não garantia e entrega de respiradores. Ele encomendou a fabricação para fábricas nacionais que vão demorar três meses para entregar. Tempo demais para tempos de urgência”.

Na área econômica, Bolsonaro usou uma “preocupação legítima” – a proteção aos trabalhadores e às empresas – não para fazer um debate nacional, mas para brigas políticas com os governadores. O presidente não apenas se apequenou. Mais do que isso, ele subestimou o tamanho do tombo, diz Traumann: “A recessão que teremos nesses próximos três meses será pior – muito pior – que a dos dois anos finais do governo Dilma”.

Mas, na opinião do jornalista, ninguém sai mais desmoralizado da crise do que o titular do Ministério da Economia – que foi da negação à omissão. “Doutor em economia pela Universidade de Chicago, o ministro Paulo Guedes é um grande desapontamento. Primeiro, negou, negou e negou pela terceira vez que a crise bateria no Brasil. Depois, com medo de ser contaminado, abandonou Brasília e se escondeu por duas semanas no seu apartamento no Rio”.

Segundo Traumann, o plano de Guedes – de “ser o ministro que mudaria a história econômica do Brasil” – naufragou. “Se saísse hoje, ele seria lembrado como aquele que listou o fim do monopólio estatal na impressão de papel moeda como uma das medidas prioritárias para combater a pandemia.

O governo ainda tentou pegar carona no auxílio emergencial de R$ 600 a R$ 1200 – uma conquista do PCdoB, da oposição, das centrais sindicais e dos movimentos sociais. Mas a proposta sequer foi aventada no Ministério da Economia, que propunha redução de até 100% dos salários e uma ajuda temporária de apenas R$ 200. “As melhores ideias para atenuar os efeitos da crise vieram de fora do governo. A economista Monica de Bolle foi a primeira a alertar da necessidade de se criar uma renda básica para os mais necessitados (que Guedes batizou erroneamente de coronavoucher)”, lembra Traumann.

Já o risco de desabastecimento só será maior porque alguns empresários se anteciparam ao colapso – que, de resto, ainda não está descartado. “A falta de alguém no governo que já tenha pisado num chão de fábrica fez com que as iniciativas de reconversão industrial fossem tomadas pelas próprias empresas, sem nenhuma direção”, observa Traumann.

Há exemplos positivos nessa direção, não do governo Bolsonaro. “Cervejarias e perfumarias se ofereceram para produzir álcool em gel, tecelagens estão costurando máscaras e laboratórios universitários fazem protótipos de respiradores, mas não há uma coordenação de esforços e de escoamento da produção. As invejas do Planalto com Estados e prefeituras só pioram as coisas”, afirma Traumann.

Nada, porém, é mais revelador do fracasso do governo do que a própria postura presidencial e seu sistemático boicote ao isolamento social. “Suas visitas à padarias, seus apertos de mãos nas ruas e as seguidas declarações minimizando a Covid-19 são irresponsabilidades quase adolescentes”, comenta o jornalista. “É o comportamento presidencial que incentiva seguidores a carregarem alegremente caixões na Avenida Paulista, a apresentadores de TV se sentirem livres para defender campos de concentração para os mais velhos e a algumas autoridades limítrofes provocar a China, único exportador mundial equipamentos para tratar da Covid-19.”

Traumann afirma que o Pais só “acordou para crise do coronavírus” há cinco semanas, quando a OMS (Organização Mundial de Saúde) decretou pandemia mundial e alguns estados fecharam escolas, empresas e comércios. “É como se estivéssemos subindo ainda a montanha-russa, lentamente”, compara o jornalista. “Nos próximos meses, será um inferno. Dos quatro eixos da crise, nenhum está nem perto de ser resolvido. Aperte os cintos e segure-se.”

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