Pandemia: isolamento acelera recuperação econômica, mostra estudo

Estudo divulgado nos Estados Unidos analisou efeitos da gripe espanhola na economia em 1918. Cidades que tomaram medidas mais duras mais cedo tiveram recuperação econômica mais rápida.

Profissionais de saúde da UPA Noroeste, em Goiânia, fazem parte da campanha pedindo isolamento para evitar coronavírus em Goiás — Foto: Divulgação/SMS Goiânia

Um estudo divulgado nos Estados Unidos indica que a intervenção rápida e agressiva em uma epidemia, com a adoção de medidas drásticas como o isolamento social, não prejudica a retomada econômica. Pelo contrário, pode favorecer uma recuperação mais rápida.

O estudo Pandemics Depress the Economy, Public Health Interventions Do Not: Evidence from the 1918 Flu analisou cidades dos EUA afetadas pela gripe espanhola em 1918. Segundo os especialistas que o conduziram, as medidas implementadas em 1918 são semelhantes às usadas para conter a disseminação da Covid-19. Por exemplo: fechamento de escolas, auditórios e igrejas, proibição de reuniões e funerais, quarentena para casos suspeitos e redução da jornada de trabalho.

De acordo com o estudo, as cidades com mortalidade mais alta durante a gripe de 1918 registraram um crescimento econômico mais baixo. Por outro lado, cidades que implementaram medidas de combate à pandemia por um tempo mais longo registraram baixa mortalidade e um crescimento econômico maior no período subsequente.

“Cidades que intervieram mais cedo e de forma mais agressiva experimentaram um aumento relativo do emprego e produção industrial e ativos bancários em 1919, após o fim da pandemia”, afirma o estudo. Os efeitos, destacam os especialistas, são quantificáveis.

“Reagir 10 dias antes da chegada da pandemia em uma determinada cidade aumenta o emprego industrial em cerca de 5% no período posterior. Da mesma forma, implementar intervenções não-farmacêuticas [isolamento] por 50 dias adicionais aumenta o emprego industrial em 6,5% depois da pandemia”, ressalta o estudo.

“Descobrimos que cidades que intervieram mais cedo e de forma mais agressiva não têm uma performance pior, na verdade, crescem mais rápido depois do fim da pandemia. Nossos resultados, portanto, indicam que as intervenções não-farmacêuticas não apenas diminuem a mortalidade; elas também mitigam as consequências econômicas adversas de uma pandemia”, conclui o estudo.

A análise foi divulgada na quinta-feira (26) e passou por atualização na segunda (30). É assinada por Sergio Correia e Stephen Luck, do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) e por Emil Verner, da Escola de Administração do Massachussets Institute of Technology (MIT).

Medidas precoces

O economista Guilherme Mello, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), afirma que as conclusões estão em linha com o que outros estudos têm mostrado. “Se você consegue conter de forma mais eficaz a epidemia e sair do isolamento mais cedo, os danos econômicos prolongados são menores. Agora, se a epidemia sobrecarrega muito seu sistema de saúde, provoca muita morte, perdas para famílias e empresas, a perda de longo prazo é enorme. Você perde capital humano, as empresas fecham e você tem que manter as medidas de isolamento por mais tempo, porque a epidemia se alastrou de maneira mais intensa”, afirma.

Como exemplos de países que reagiram rápido à epidemia do novo coronavírus, Mello cita China, Coreia do Sul e Japão, na Ásia, e a Dinamarca, na Europa. “A China talvez seja um bom exemplo, porque o pessoal diz que demorou [a reagir]. Não demorou. Com muito menos casos que outros países ocidentais, ela já tomou medidas bastante extremas. Lá no comecinho da pandemia teve uma certa resistência em admitir, tanto que o prefeito de Wuhan teve que pedir desculpas. Mas, assim que se percebeu, tanto China quanto Coreia e Japão, que já tinham passado pela Sars [Sars-CoV, síndrome respiratória grave], tomaram medidas muito duras”, comenta.

No caso de Coreia do Sul, a testagem em massa foi determinante para o sucesso da estratégia de combate ao vírus. “No caso da Coreia, além das medidas duras, teve essa questão de produzir os testes e fazer testagem em massa. E isso permite um isolamento um pouco mais seletivo. Se você tem teste, você consegue ver, mirar, isolar as pessoas. É uma coisa meio que esperada”, destaca.

Segundo Mello, os países que tomaram medidas precoces são os que hoje começam a discutir o fim do isolamento. “Além da China, no caso da Europa, isso vale para a Dinamarca. Logo que a Itália começou a ficar grave, a Dinamarca já tomou várias medidas de isolamento e agora está começando a cogitar uma saída gradual”, diz.

Confira a íntegra do estudo (em inglês).

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