Políticos comentam morte de Bebianno: “mortes esquisitas”

Parlamentares falam sobre como a família Bolsonaro pode ter sido beneficiada com a morte do ex-ministro, que como ele próprio já disse, só havia contado 3% do que sabia sobre a campanha eleitoral

A notícia da morte do ex-secretário-geral da Presidência da República, Gustavo Bebianno, na madrugada deste sábado (14), fez ressurgir uma onda de especulações sobre os segredos da campanha eleitoral de 2018, que elegeu Jair Bolsonaro. Entre mensagens de pesar, políticos e anônimos recordaram revelações mantidas sob sigilo a respeito do clã Bolsonaro e pediram investigação sobre as causas do falecimento do ex-ministro, vítima de infarto.

“Bebianno sabia muito, ah, sabia. Com sua morte, segredos e falcatruas da campanha de Bolsonaro à presidência estarão enterrados para sempre. O ex-ministro foi um dos auxiliares mais próximos de Bolsonaro e testemunha ocular de sua chegada ao Planalto”, comentou a deputada federal Érika Kokay (PT-DF). 

Colega de partido, Zeca Dirceu (PT-SP) demonstrou surpresa diante das coincidências que favorecem Jair Bolsonaro. “Morreu Gustavo Bebiano, ex-ministro de Bolsonaro e coordenador da campanha eleitoral. Ele era, nos últimos tempos, um dos maiores desafetos do presidente. O fato é que, as pessoas que sabem muito e que podem complicar a vida da familícia, estão morrendo”, insinuou, acrescentando supostas cartas deixadas pelo ex-ministro.

“’Se algo acontecer comigo, abram’. Quem recebeu as cartas de Bebianno? Qual o conteúdo das cartas?”, questionou o deputado, referindo-se a declarações escritas por Bebbiano ainda em 2019, com supostos nomes de quem estaria interessado ‘em lhe causar algum mal’. 

Senador Humberto Costa (PT-PE) foi mais um parlamentar a lembrar as denúncias que Bebianno garantiu ter guardado sobre o ex-amigo. “Braço direito de Jair Bolsonaro na campanha e ex-ministro do governo, Gustavo Bebianno sofreu um infarto hoje e morreu. Em dezembro, ele afirmou em entrevista que deixou materiais contra o presidente no exterior, caso acontecesse alguma coisa com ele”, lembrou. 

Novo líder da Oposição na Câmara dos Deputados, deputado André Figueiredo (PDT-CE) limitou-se a comentar, em tom de desconfiança, a manchete sobre a morte de Bebianno. “Muito estranho…”. 

Reproduzindo uma frase dita pelo ex-ministro, Paulo Teixeira (PT-SP) defendeu a imediata investigação do caso. “’Todos que tentam trabalhar terminam alvejados pelas costas’” . Está é a última frase de Gustavo Bebbiano, publicada na Folha de São Paulo de hoje. É fundamental investigar os motivos da morte de Bebianno”, declarou.

Como muitos, o deputado Rogério Correia (PT-MG) recordou que a morte repentina ocorre no mesmo dia que o assassinato da vereadora do PSOL, Marielle Franco – ainda não solucionado – completa dois anos. “Morre quem sabia muitos podres do presidente e na data que se completam dois anos que milicianos ligados à família Bolsonaro mataram Marielle. Gente estranha e inconfiável! Bebianno insinuava ter informações sobre a ‘facada de Juiz de Fora’, recordou o deputado.  

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), também considerou obscura a morte do ex-ministro. “Marielle, Teori, Adriano, Bebianno. Muitas mortes absurdas ou esquisitas que um dia serão esclarecidas. Vivemos uma Era de Trevas. Mas vai passar”, postou no Twitter, lembrando do ex-capitão da PM e miliciano ligado ao clã, Adriano da Nóbrega, do ex-ministro do STF Teori Zavascki, vítima de um acidente aéreo, além da vereadora Marielle Franco, cuja morte completa dois anos justamente neste sábado.  

Vice-líder do PCdoB, deputado federal Márcio Jerry também lamentou que a morte de Bebianno seja considerada um alívio para Jair Bolsonaro. “Por tudo que vinha sendo dito pelo próprio Bebianno acerca dos filhos de Bolsonaro e do próprio presidente, é claro que a morte do ex-ministro deve estar sendo recebida com alívio por essa gente tão envolvida com fatos graves, alguns misteriosos ainda”, declarou. 

Dissidente do Governo, como Bebianno, Alexandre Frota (PSDB-SP) foi mais um congressista a afirmar que a morte do Bebianno será comemorada na Alvorada. “Bebianno se foi e com ele muitas verdades. O desgosto da vida matou Bebianno. Para uns e outros, hoje vai ter festa no Palácio. Para amigos e família, a saudade, e para o Brasil, uma voz importante que se calou. Triste”, lamentou. 

O jornalista George Marques, setorista do Congresso, recordou mais uma coincidência nos acontecimentos. “Lembram do dia da queima de arquivo de Adriano da Nóbrega, ex-parceiro de Flávio Bolsonaro? Naquele domingo as milícias digitais correram para desenterrar o caso Celso Daniel, assim como hoje com a partida precoce de Bebianno. É tudo pela narrativa ou eles escondem algo mais?”, indagou

Saída do Planalto

Advogado, Bebianno tinha 56 anos e era pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro pelo PSDB. Convidado do Programa Roda Viva, transmitido pela TV Cultura, Bebianno admitiu, nos bastidores, ter medo de falar tudo o que sabia. 

Considerado homem de confiança de Jair Bolsonaro, o ex-ministro deixou o governo menos de dois meses depois da posse, após dissidência com o filho 03 do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ).

Texto originalmente publicado no dia 14 de março de 2020, no Portal Brasil 247.

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