Buonicore: Criador e semeador de ideias revolucionárias

Historiador, professor, cientista político, destacado intelectual marxista, ele nos legou um acervo valioso em livros, ensaios, artigos, entrevistas, pesquisas.

Augusto, generoso e fraterno era seu modo de ser.

O infortúnio de tão cedo termos perdido Augusto Buonicore nos arremessa à imagem de uma árvore frondosa, frutífera, que, de repente, do nada, em pleno vigor de sua existência, é ceifada por um raio.

É tamanho o desatino do destino que nos custa crer que ele tenha falecido.

É inevitável que venha à nossa imaginação o quanto de bom, o quanto de precioso, o quanto de necessário essa árvore frondosa ainda proporcionaria à classe trabalhadora, aos povos, e sobretudo ao Brasil que ele tanto amava.

Justamente, quando à nossa volta grassa o desalento e mesmo a deserção; quando a ignorância e o obscurantismo abrem guerra contra a Educação, as ciências e a cultura; quando a democracia é ameaçada; quando a Nação, sua riqueza, cultura e valores, seu Estado nacional são corroídos por um governo vassalo do imperialismo; quando a ferro e fogo se retira do povo o pouco de direitos que ainda lhe resta; quando uma manada de cães sob o comando de um alfa hidrófobo realiza uma nova caçada aos comunistas e aos socialistas, justamente, nestas circunstâncias, perdemos um gigante — um criador e semeador de ideias progressistas e revolucionárias.

O que amaina nossa tristeza, o que arrefece a dor, é o rico legado que ele nos deixa.

Historiador, professor, cientista político, destacado intelectual marxista, ele nos legou um acervo valioso em livros, ensaios, artigos, entrevistas, pesquisas.

Todo esse labor intelectual está focado a enfrentar os desafios, os problemas, os dilemas da revolução brasileira, da conquista e da construção do socialismo em nosso país.

A marca da produção intelectual de Augusto — de genuína essência marxista — é a teoria viva, pulsante, investigando a realidade, perscrutando os nexos principais da luta de classes na contemporaneidade.

Pertencia a um tipo de intelectual, infelizmente, raro na atualidade. Ele sabia harmonizar estudo, pesquisa, elaboração de conhecimento e prática política concreta, ação transformadora.

A usina de ideias de Buonicore atendia às demandas que vinham do front da luta de classes. A erudição se avolumava e se refinava.

Desde muito jovem, firmou a convicção de que, sem um instrumento que organize, conscientize e lidere politicamente a classe trabalhadora, que dirija os processos de reformas e rupturas, os explorados, os oprimidos, não se faz a travessia para um mundo novo. Assim, de seus 59 anos de idade, 40 foram de militância revolucionária, ajudando a construir e erguer o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), do qual era membro do Comitê Central.

Augusto, como professor e um dos coordenadores da Escola Nacional João Amazonas, ajudou a formar centenas, milhares de militantes do PCdoB, dos movimentos sociais e dos sindicatos. Foi, também, liderança-chave à constituição da Fundação Maurício Grabois onde coordenou a criação do Centro de Documentação e Memória. Sempre sublinhava que a memória e a história eram parte destacada da luta pela hegemonia.

Bertolt Brecht, um poeta que Buonicore apreciava, tem um verso que diz “e nós, que preparávamos o mundo para a gentileza, não sabíamos ser gentis”. É que a luta de classe às vezes nos embrutece, enrijece a alma. Pois Augusto, mesmo nas circunstâncias mais severas, mais adversas, sempre foi agregador e gentil. Generoso e fraterno era seu modo de ser.

Há imagens que sintetizam. Buonicore foi sepultado vestido com uma camiseta de Lenin. Sobre o esquife a bandeira do Brasil e a bandeira do PCdoB. Nas suas mãos entrelaçadas havia uma rosa vermelha e uma lapiseira. Essa lapiseira era um instrumento precioso de trabalho: sublinhava, fazia anotações, nas bordas dos livros que lia. Esses traços seriam fontes de resenhas, artigos. Era um trabalhador intelectual incansável. Mesmo combalido escreveu três substanciosos artigos. Lutou contra o linfoma até onde pode, arrancando da doença, minutos, horas, dias, semanas, meses. Sua ambição era que fossem anos, para realizar os trabalhos que tinha em mente.

A falta dele nos mareja os olhos.

Mas as luzes de suas ideias e o exemplo elevado de 40 anos de militância revolucionária nos alimentam de energia e vigor, nos dão força para fortalecermos o PCdoB e revigorarmos nossa luta, nossa dedicação às jornadas em defesa do Brasil, da democracia, dos direitos do povo.

Autor