Chuvas deixam Baixada Santista em estado de calamidade pública

Há 21 mortes confirmadas, 28 pessoas desaparecidas e centenas de desabrigados

A Baixada Santista, no litoral sul do estado de São Paulo, ainda sofre as consequências do temporal que afetou a região, entre a noite de segunda-feira (2) e a madrugada desta terça (3). Choveu mais do que o esperado para março, causando uma das maiores tragédias na história da região. São 21 mortes confirmadas até agora, 28 pessoas desaparecidas e centenas de desabrigados. Mas o número de vítimas ainda pode aumentar

As prefeituras de Guarujá e São Vicente decretaram estado de calamidade pública – e a de Santos, estado de emergência – em razão do rastro de destruição pelas inundações e pelos deslizamentos de terra em encostas de morros. Equipes da Defesa Civil e do Corpo de Bombeiros, entre outras instituições, trabalham no atendimento às vítimas.

Além disso, foram diversos os transtornos gerados pelos alagamentos: trabalhadores e estudantes ilhados quando voltavam para casa, veículos danificados, vias bloqueadas, entre outros. Em 24 horas, o acumulado de chuvas nas cidades mais afetadas foi de 300 milímetros no Guarujá, 222 em Santos e 187 em São Vicente.

De acordo com o Núcleo de Gerenciamento de Emergência da Defesa Civil do Estado, até a madrugada de terça-feira, em 12 horas choveu 282 milímetros em Guarujá; 218 em Santos; 170 em Praia Grande; 169 em São Vicente; 160 em Mongaguá; 132 em Cubatão e 110 em Bertioga. Segundo a Defesa Civil, foram mais de 60 ocorrências de deslizamentos só em Santos.

O Coordenador Estadual de Proteção e Defesa Civil, Coronel PM Walter Nyakas Junior, se reuniu com prefeitos para avaliar as necessidades. Guarujá e São Vicente chegaram a suspender as aulas nas escolas municipais.

O porta-voz do Corpo de Bombeiros informou que foram mobilizados cerca de 114 membros da corporação para as buscas em oito áreas com registros de deslizamentos de terra na região. Na quarta-feira, segundo o comandante do Corpo de Bombeiros, Max Mena, 108 homens da corporação reforçaram a ajuda na busca por soterrados em Guarujá. No Morro do Macaco Molhado, dois bombeiros que trabalhavam no resgate de pessoas morreram. No local, uma mãe e seu bebê também morreram em deslizamento.

A Barreira do João Guarda é outro local com a situação crítica. Os desabrigados estão acolhidos nas escolas da cidade, enquanto o Fundo Social de Solidariedade recebe doações de roupas, calçados, cobertores e produtos de higiene. A cidade está recebendo doações de roupas, sapatos, cobertores e produtos de higiene pessoal. Todas as escolas municipais e sedes da Guarda Civil Municipal, Defesa Civil e Fundo Social de Solidariedade são pontos de arrecadação.

No Morro dos Barbosas, no Parque Painha, em São Vicente, as vítimas foram um casal de idosos soterrados por deslizamento. No bairro Vila Valença, um idoso foi tragado por um buraco que se abriu no chão do banheiro de uma clínica de repouso. O local foi interditado. Sete idosos que também estava na clínica foram acolhidos pela Secretaria de Assistência Social (Seas). O Fundo Social de Solidariedade de São Vicente recebe doações de móveis, roupas, calçados, alimentos e materiais de higiene e limpeza. O horário de atendimento é das 9h às 17h.

Em Santos, uma mulher, de 30 anos, morreu soterrada no Morro do Tetéu, onde um terceiro corpo também foi encontrado. Outro caso foi o de uma criança resgatada pelo Corpo de Bombeiros, no Morro do Fontana. Ela foi encaminhada à Santa Casa de Santos com fraturas graves.

O município tem seis abrigos para atender as vítimas do temporal que atingiu a região. São dois equipamentos municipais (Seacolhe e Seabrigo) e dois em parceria com a sociedade civil (Albergue Noturno e Casa das Anas), além dos locais destacados excepcionalmente para o momento – a Vila Criativa Vila Progresso e a escola municipal Therezinha Calçada Bastos, no Morro do São Bento. O primeiro local a receber desabrigados foi o barracão da União Imperial, tradicional escola de samba da cidade.

A Secretaria de Assistência Social orienta às pessoas que precisarem de abrigo a procurar uma das unidades dos Centros de Referência em Assistência Social (Cras). Segundo o Fundo Social de Solidariedade (FSS), no momento, há necessidade maior de doações de colchões, travesseiros e roupas de cama para as vítimas do temporal, além de roupa de banho, alimentos, água e produtos de higiene pessoal. As doações estão sendo recebidas na sede do FSS, na Vila Criativa da Vila Progresso e Vila Criativa da Zona Noroeste. A UME Terezinha Calçada Bastos, no morro do São Bento, está com sete famílias desabrigadas e precisa de mantimentos para alimentação dos acolhidos.

De acordo com informações da Defesa Civil do Estado, há 155 desabrigados em Guarujá, 37 em Santos e seis em São Vicente. Em Peruíbe, 80 pessoas estão abrigadas no Centro Comunitário Caraminguava. Em Mongaguá, 84 pessoas estão em um centro comunitário. Os níveis de chuva estão reduzidos no momento – o que facilita o auxílio à população e as buscas pelos desaparecidos. Mas, por causa do solo encharcado, ainda há riscos de novos deslizamentos.

Despreparo

Umas das raras vozes críticas na Câmara Municipal de Santos, a vereadora e ex-prefeita Telma de Souza (PT) destacou: “A chuva foi extremamente forte, muito acima da média histórica. Mas é preciso que o Poder Público reconheça que as suas ações têm sido ineficazes para diminuir os transtornos à população”, afirmou Telma nas redes sociais. “Defendo que a Prefeitura de Santos e as das outras cidades adotem urgentemente um plano de contingência aos impactos da chuva. Tenho cobrado esse plano e uma série de medidas, como obras, serviços e a retomada do Programa Bairros em Ordem, há quase dois anos, na Câmara Municipal.”

Outro vereador, Chico Nogueira (PT), criticou a demora da atual Administração Municipal em viabilizar as obras necessárias na prevenção de inundações, além da ausência de políticas públicas para evitar ou minimizar as tragédias: “Os institutos de meteorologia já indicavam que fortes chuvas viriam em nossa região. Então, fica a indagação à administração municipal: não cabe ao gestor público a responsabilidade de cuidar, zelar e trabalhar para que tragédias como essa não ocorram? Quanta tristeza não poderia ter sido evitada?”.

Com informações de A Tribuna, Diário do Litoral e Folha Santista

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