Tecnologia e produtividade estancam em países emergentes

Um relatório do Banco Mundial indica que a desaceleração da produtividade é a “mais acentuada, mais longa e mais ampla até o momento”, com base em dados que remontam quatro décadas.

O PIB per capita das economias em desenvolvimento é quase 14% menor do que teria sido se a produtividade não tivesse perdido o impulso. Segundo matéria da revista britânica The Economist, reproduzida O Estado de S. Paulo, o Institute of International Finance acredita que os mercados emergentes agora sofrem com uma variante da “estagnação secular” que assombra o mundo rico.

A consultoria Oxford Economics argumenta que os mercados emergentes perderam tanto volatilidade como vigor, relegando-os à “estabilidade de base”.

A Capital Economics, outra consultoria, prevê que, na próxima década, “o avanço da retomada dos mercados emergentes das últimas duas décadas chegará ao fim”. Na maioria desses mercados, que a consultoria acompanha, o PIB per capita cresceu menos rapidamente no ano passado do que nos EUA.

Supõe-se que imitar seja mais fácil do que inovar. Mas mesmo que as principais economias estejam achando mais difícil abrir caminho pela força do trabalho, muitos de seus seguidores se perderam completamente.

Como isso aconteceu? Quando olham para o mundo rico, alguns economistas temem que as grandes empresas estejam em uma posição confortável demais. Sem forte concorrência, elas têm pouco incentivo para inovar ou investir. Mas quando olham para o mundo pobre, alguns receiam que as grandes empresas agora tenham dificuldades demais.

Transferência de tecnologia

Em uma pesquisa com mais de 15 mil empresas, o Banco Mundial mostra que grandes empresas em países pobres tendem a ser mais produtivas e propensas a exportar do que suas concorrentes menores.

No passado, essas empresas eram importantes canais para melhorar o know-how e as tecnologias adquiridas de parceiros e concorrentes no exterior e repassados a fornecedores em casa. Mas as “rotas para a transferência de tecnologia estão se estreitando”, ressalta o banco, por conta do crescente protecionismo.

A falta de transferência de tecnologia é apenas parte do problema. Metade da desaceleração do crescimento da produtividade do trabalho nos últimos anos reflete não um fracasso em aprender com exemplos, mas em investir.

Esse déficit de investimentos explica toda a desaceleração da produtividade no sul da Ásia, no Oriente Médio e no norte da África, e dois terços disso na Europa e na Ásia Central.

A relutância em mobilizar capital foi combinada com a lentidão do trabalho em mudar. Em qualquer país, algumas partes da economia (como manufatura) são mais produtivas que outras (como agricultura). Mas essa lacuna é extraordinariamente grande nos países em desenvolvimento, onde o moderno e o medieval em geral coexistem.

Em princípio, portanto, as economias emergentes têm muito a ganhar com a mudança de trabalhadores entre setores, mesmo se a produtividade de cada setor não melhorar.

Boom das commodities

No típico país em desenvolvimento, esse movimento contribuiu com cerca de 1,1 ponto porcentual para o crescimento nos anos anteriores à crise financeira global.

Essa contribuição caiu para apenas 0,5 ponto nos anos mais recentes. Na América Latina e no Oriente Médio, a contribuição foi negativa: os trabalhadores seguiram o caminho errado, para onde eram menos produtivos.

Talvez a explicação mais simples para o fracasso da produtividade esteja no boom que a precedeu. Durante cinco anos extraordinários, enfatizados pela crise financeira global, a China teve um crescimento excepcional que atraiu os exportadores de commodities.

Esse sucesso deixou o país com menos espaço para crescimento adicional, contribuindo para sua inevitável desaceleração. Seu crescimento ainda se tornou menos concentrado em commodities.

A mudança no ritmo e no padrão de crescimento da China se tornou um desastre para as muitas economias em desenvolvimento que exportam commodities, especialmente na América Latina e no Oriente Médio. O aumento da produtividade dessas economias entrou em colapso.

Década decepcionante

Em publicação do Banco Mundial, há 25 anos, Lant Pritchett, agora na Universidade de Oxford, enfatizou que o avanço da recuperação era historicamente bastante raro. Sim, a imitação deveria ser mais fácil do que a inovação (e os retornos sobre o investimento devem ser elevados onde o capital é escasso). Mas outros fatores frequentemente atrapalham.

Afinal, se os países pobres crescessem com segurança mais rapidamente do que os ricos, não haveria tantos países pobres por aí. A “característica dominante” da história econômica moderna não era a convergência entre países ricos e pobres, escreveu Pritchett, mas a “divergência, para valer”.

A década passada, apesar de todas as suas decepções, resistiu a essa tendência histórica, ainda que menos impressionante do que na anterior. Para as economias emergentes, a década de 2010 foi decepcionante. Mas ela ainda era a segunda melhor década dos últimos 50 anos.

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