Carnaval alemão retrata Bolsonaro como “assassino do clima”

Na cidade de Düsseldorf, um carro alegórico levava um boneco do presidente brasileiro na posição de Cristo Redentor, mas no lugar dos braços abertos tinha serras elétricas.

Carro alegórico com boneco de Bolsonaro com serras elétricas no lugar dos braços em desfile na cidade de Düsseldorf. (Foto: Ina Fassbender/AFP)

Bolsonaro foi tema de críticas e sátiras nos carros alegóricos durante os populares e tradicionais desfiles carnavalescos na Alemanha, na segunda-feira, 24.

Na cidade de Düsseldorf, um carro alegórico levava um boneco do presidente brasileiro na posição de Cristo Redentor, mas no lugar dos braços abertos tinha serras elétricas. Nelas, estava escrito “assassino do clima” e “Bolsonaro”. Em volta havia restos de árvores cerradas e ensaguentadas.

A bandeira brasileira que estava na camiseta do boneco trazia uma suástica nazista no peito de Bolsonaro. Por conta da legislação alemã, os carnavalescos idealizadores do carro alegórico tiveram que remover o símbolo por recomendação das autoridades.

Na Alemanha, emblemas e símbolos nazistas não são permitidos por lei. Assim, os organizadores foram aconselhados a cobrir ou remover a suástica porque seu uso representaria um crime.

Jacques Tilly, responsável pelo carro, discordou da medida alegando liberdade de sátira, “mas nós seguimos a ordem”. “Bolsonaro agora tem um buraco no peito”, afirmou o carnavalesco.

A sátira política é uma das principais características dos desfiles carnavalescos no oeste alemão, em cidades como Colônia, Mainz ou Düsseldorf. A “segunda-feira das rosas”, como é chamado o desfile, é o ponto alto do Carnaval de rua.

“Neste ano, Jair Bolsonaro é um dos alvos dos festejos carnavalescos. Entre as atrações no tradicional desfile de Colônia está um carro alegórico com um boneco do presidente brasileiro, segurando a bandeira do Brasil atada a um palito de fósforo tamanho família e exibindo um largo sorriso, diante de árvores carbonizadas e sambistas seminuas e chamuscadas”, assinalou matéria do portal de notícias da rádio alemã Deutsche Welle.

Em entrevista ao jornal local Kölner Stadt-Anzeiger, Holger Kirsch, diretor do desfile em Colônia, afirmou: “Esse é meu carro preferido”. A alegoria, crítica ao descaso do governo de Bolsonaro com a Amazônia, produziu um efeito que soltou fumaça. “Nós trabalhamos com verdadeiras sacas de café e ainda instalamos um sistema de tubulação para que fumegue bastante”, acrescentou.

“Nosso mundo está mais político do que nunca – então, nossos carros alegóricos também o são”, afirmou Kirsch ao jornal Bild. Os 26 carros alegóricos do desfile deste ano em Colônia, por exemplo, trouxeram, ao todo, representações de 14 situações políticas do mundo.

“Neste momento, não há nada mais sério do que o terrorismo de extrema-direita”, afirmou o carnavalesco Tilly, de Düsseldorf. Um dos carros alegóricos na cidade representou a cabeça de um homem enraivecido, com uma arma saindo de sua boca, em que se lia “racismo”. Na bochecha do boneco estava escrita a frase: “Palavras se tornam ações.” A alegoria apontava para os ataques a tiros na cidade alemã de Hanau na última quarta-feira, que deixaram nove pessoas de origem estrangeira mortas. Após o massacre, o assassino, descontrolado, voltou para casa, matou a mãe, de 72 anos, e cometeu suicídio.

“Não é apenas aquele que atirou. Aqueles que prepararam mentalmente a ação também são responsáveis”, afirmou Tilly, referindo-se às pessoas que proferem discursos racistas, xenófobos e de extrema-direita.

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