Mangueira mostra Jesus negro e sem arma para criticar Bolsonaro

“A Verdade Vos Fará Livre” foi o título do samba-enredo da escola que criticou o presidente ao dizer que não há “messias de arma na mão”.

(Foto Abriel Nascimento/Riotur)

A escola Mangueira retratou um Jesus de “rosto negro, sangue índio, corpo de mulher” na Sapucaí no domingo (23). O samba enredo intitulado “A Verdade vos fará Livre” apresentou críticas ao presidente Jair Bolsonaro ao dizer que não há “messias de arma na mão”.

O gesto de arma é uma das marcas registradas de Bolsonaro, que participa com frequência de eventos evangélicos.  O chefe do Executivo também cita de forma recorrente o versículo “A Verdade Vos Fará Livre” -título do samba-enredo da Mangueira deste ano. A escola venceu o desfile carioca de 2019.

Representação de Jesus

A Mangueira retratou a figura de Cristo em diferentes alas e alegorias da apresentação. Ele apareceu crucificado em pelo menos dois carros alegóricos: como índio e como um jovem negro.

Logo na comissão de frente, Jesus foi retratado com apóstolos negros, oriundo da favela e sofrendo repressão policial.

A rainha da bateria Evelyn Bastos entrou na avenida como Jesus no momento da flagelação: acorrentada e coroada de espinhos. No 7º desfile pela escola, Evelyn optou por não sambar. A passista disse ao portal Uol que “infelizmente, nossa dança ainda é visto como sexual.”

Eis o samba-enredo da Mangueira:

“Eu sou da Estação Primeira de Nazaré
Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher
Moleque pelintra no buraco quente
Meu nome é Jesus da Gente

Nasci de peito aberto, de punho cerrado
Meu pai carpinteiro, desempregado
Minha mãe é Maria das Dores Brasil

Enxugo o suor de quem desce e sobe ladeira
Me encontro no amor que não encontra fronteira
Procura por mim nas fileiras contra a opressão
E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão
E no olhar da porta-bandeira pro seu pavilhão

Eu tô que tô dependurado
Em cordéis e corcovados
Mas será que todo povo entendeu o meu recado?
Porque, de novo, cravejaram o meu corpo
Os profetas da intolerância
Sem saber que a esperança
Brilha mais na escuridão

Poder 360