Novos dados confirmam que alta nas vendas de Natal era fake news

Movimento do varejo em 2019 opõe duas associações de lojistas sobre qual foi o verdadeiro desempenho das vendas do Natal

Começam a sair novos dados sobre o movimento do varejo em 2019, que devem alimentar o conflito entre duas associações de lojistas sobre qual foi o verdadeiro desempenho das vendas do Natal. A Ablos – que reúne donos de lojas satélites de shoppings – achou inflada a alta de 9,5% reportada pela Alshop, divulgada pela mídia e comemorada pelo governo. Tudo leva a crer, porém, que o índice não passa de fake news.

Conforme levantamento da FX Retail Analytics, especializada em monitoramento do varejo, o fluxo de visitas em shoppings em dezembro caiu 1,5% ante o mesmo mês de 2018. A principal redução de fluxo apontada pelo estudo foi no segmento de eletrônicos, com queda de 9,13%. Já nas lojas de chocolates, as visitas de consumidores cresceram 2,38%.

Segundo a Alshop, o comércio natalino no varejo de shopping subiu 9,5% em 2019 e o crescimento anual das vendas foi superior a 7,5% (em valores nominais). A Ablos (Associação Brasileira dos Lojistas Satélites) contesta e pensa até em entrar na Justiça: “É um dado plantado. É uma mentira. Estamos desconfiados de que foi manipulação com alguma segunda intenção”, afirma Tito Bessa Jr, presidente da Ablos e fundador da rede TNG.

Bessa Jr. diz que planeja processar a Alshop e questionar a fonte da informação divulgada sobre o crescimento das vendas de Natal. Segundo ele, a pesquisa interna da Ablos mostrou que 70% das lojas tiveram desempenho pior ou igual a 2018 e 30% disseram que melhorou pouco.

“Mas esse pouco é 2% ou 1,5%. Não tem 9% de melhora. Pode ter acontecido pontualmente com alguém – mas falar que o varejo cresceu 9,5% é uma mentira”, enfatiza o empresário. Na rede TNG, as vendas de Natal deste ano empataram com 2018.

“Não sei de onde eles tiraram esse número. Tenho conversado com vários lojistas e os mesmos disseram que tiveram queda”, afirma Ângelo Campos, diretor da MOB. Fernando Kherlakian, diretor da rede Khelf, também estranhou os dados da Alshop: “A gente teve uma queda de 2% – e eles estão falando que o mercado em geral cresceu 9%. Não é real isso”, diz.

Tinho Azambuja, fundador da SideWalk, também duvida do dado da Alshop e prometeu notificação extrajudicial “pedindo explicações sobre esses números”. Diz ele: “Quero saber de onde veio esse número totalmente irreal”. Segundo Azambuja, há uma desconfiança geral no setor de que a Alshop tenha inflado o resultado das vendas natalinas para favorecer os shoppings.

A SideWalk, por exemplo, teve queda de 5% no grupo de mesmas lojas em relação 2018, que já havia registrado resultado fraco. Como a Black Friday ajudou nas vendas, a marca tinha altas expectativas de que o Natal repetiria o desempenho – mas foi uma desilusão. “Foi uma luta danada, fizemos promoção. Não sei de onde saiu esse número da Alshop”, diz Azambuja.

A Gregory, de vestuário feminino, também registrou boas vendas na Black Friday, mas como a data caiu na última semana de novembro, contaminou a primeira quinzena de dezembro. “Tivemos queda de 7% nas lojas próprias. Nas pesquisas que temos acesso dos shoppings, o movimento pesado só aconteceu nos dois dias antes do Natal, 22 e 23”, diz Andrea Duca, diretora da marca. Viktor Ljubtschenko, diretor da rede de pijamas e lingeries Any Any, relata queda de 8% em relação a 2018.

A Ablos foi fundada neste ano, em fevereiro, no contexto de um aumento das reclamações de falta de representatividade por parte de algumas redes de varejo. A associação registra mais de 90 marcas satélites, que são aquelas de lojas menores, com até 180 metros quadrados.

Entre os associados da Ablos há nomes como Melissa, TVZ, MOB, Any Any, Planet Girls e outros. Não fazem parte da Ablos as grandes redes de varejo, conhecidas como lojas “âncora”, que possuem lojas maiores, com poder de barganha para negociar aluguéis mais baixos nos shoppings.

Com informações da Folha de S.Paulo

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