Bolsonaro concede indulto de Natal a policiais condenados

Em 2018, presidente havia dito que seu governo não concederia perdão “para criminosos” no fim do ano.

Bolsonaro agrido a imprensa a cada três dias l Foto: Agência Brasil

“Garanto a vocês, se houver indulto para criminosos neste ano, certamente será o último”, disse Bolsonaro em novembro de 2018

O presidente Jair Bolsonaro assinou na última terça-feira (23) um decreto que concede indulto de Natal para agentes de segurança pública que tenham cometido crimes culposos (sem intenção) no exercício da função ou em decorrência dela. É a primeira vez que um indulto é concedido para uma categoria profissional específica

Bolsonaro já havia adiantado essa possibilidade na última sexta-feira, ao conversar com jornalistas na entrada do Palácio da Alvorada. O decreto será publicado no Diário Oficial desta quarta-feira. Ainda não há uma estimativa de quantos pessoas vão ser efetivamente beneficiadas.

“O decreto inova ao perdoar aqueles que dedicam suas vidas à salvaguarda da sociedade”, afirmou a Presidência do Brasil em comunicado.

O indulto também contempla militares das Forças Armadas, que, em operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), tenham cometido crimes não intencionais em determinadas hipóteses.

Em nota, o Palácio do Planalto destacou que o indulto não alcança, por exemplo, condenados que tenham praticado infrações disciplinares graves ou que tenham descumprido as regras fixadas para a prisão albergue domiciliar ou para o livramento condicional.

Tradicionalmente, o indulto concede perdão de pena a pessoas, nacionais ou estrangeiras, que já não oferecem mais perigo ao retorno à vida em sociedade.  Para se enquadrar nas regras, é preciso que pelo menos um sexto da pena já tenha sido cumprida. Crimes graves ou hediondos também não podem ser incluídos no indulto.

Bolsonaro, que se aproxima do fim do seu primeiro ano de mandato, vem defendendo que policiais devem ter uma proteção legal para se livrar de punições em caso de excesso em ações — o excludente de ilicitude.

A medida chegou a ser incluída no pacote anticrime apresentado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e previa livrar se sanções policiais que cometessem excessos por “escusável medo, surpresa ou violenta emoção”. O Congresso, no entanto, retirou essa previsão do texto aprovado.

Em 2018, antes de tomar posse, Bolsonaro chegou a afirmar que não assinaria nenhum indulto em seu governo.

“Garanto a vocês, se houver indulto para criminosos neste ano, certamente será o último”, disse em novembro de 2018, quando havia especulações sobre se o governo de Michel Temer editaria uma medida dessas.

“Fui escolhido presidente do Brasil para atender aos anseios do povo brasileiro. Pegar pesado na questão da violência e criminalidade foi um dos nossos principais compromissos de campanha. Garanto a vocês, se houver indulto para criminosos neste ano, certamente será o último”, disse em mensagem no Twitter.

No entanto, após tomar posse, Bolsonaro passou a relativizar a questão, afirmando que poderia usar a medida para beneficiar policiais presos.

Em 2017, um indulto natalino assinado por Michel Temer acabou sendo suspenso pelo Supremo. O decreto foi criticado por abrandar as regras para o perdão da pena de presos condenados por crimes como corrupção e lavagem de dinheiro.

À época, o benefício foi visto como uma tentativa de livrar da prisão condenados pela Operação Lava Jato. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, entrou com uma ação no STF para anular o decreto de Temer, e o ministro Luís Roberto Barroso acabou suspendendo parte dos efeitos do texto até que o plenário da corte julgasse a questão.

A análise da questão só foi concluída em maio deste ano. Por sete votos a quatro, o Supremo validou o indulto natalino assinado por Temer.  Com isso, condenado que naquela data faziam jus ao benefício, passaram a poder solicitá-lo.

Fonte: DW