O desmonte diário de nossas vidas

Nos últimos anos, ganharam força governos que retomaram e radicalizaram a agenda neoliberal que tem como alguns de seus pilares o desmonte e a redução do papel do Estado.

O ano está chegando ao fim e dentre suas marcas estão os ataques generalizados ao serviço público, desde a esfera federal, passando pela estadual até a municipal, no caso do RS e de Porto Alegre. Nos últimos anos, ganharam força governos que retomaram e radicalizaram a agenda neoliberal que tem como alguns de seus pilares o desmonte e a redução do papel do Estado, o que se traduz em cortes no setor público, privatizações, desregulamentações, retirada de direitos e todo tipo de desmonte que enfraquece o poder público e fortalece o setor privado. 

Quem perde com isso? O povo. Principalmente a população que depende exclusivamente do SUS, da educação pública, da assistência social. Muitas vezes, sentimos as coisas piorarem em nossas vidas, mas nem sempre associamos essa piora a certas ações dos governos. Por exemplo: a saúde pública tem piorado (e deve piorar ainda mais) com a aprovação, ainda no governo Temer, da emenda constitucional do teto de gastos, que limitou por 20 anos investimentos públicos. Isso significa, entre outras coisas, que a população poderá crescer e envelhecer, o que aumenta a necessidade de uso dos equipamentos de saúde, mas os aportes públicos não vão necessariamente acompanhar esse movimento. E Bolsonaro nada tem feito para reverter esses limites; ao contrário, sua política de retirada de direitos e a própria reforma da Previdência só pioram a assistência e os serviços prestados à população. Não à toa, em setembro, pesquisa Datafolha mostrou que a saúde foi citada como o principal problema do país (18%). 

A política de Leite segue o mesmo caminho e, para “enfrentar” os problemas financeiros, quer retirar dos servidores, em especial das professoras e professores, que já têm salários baixos e parcelados há anos e enfrentam diversas dificuldades para exercer seu papel. Boletim do Dieese desta semana mostra que na contramão do discurso do governo de que é preciso enxugar a máquina pública, o RS somou 9,7 bilhões em renúncias fiscais somente em 2018. Além disso, o estado abriu mão de 898 milhões em multas e juros de empresas devedoras de ICMS desde 2015; somente em 2019, até o momento, foram perdoados mais de 187 milhões no Refaz!

Em Porto Alegre, Marchezan quer terceirizar a saúde, precariza a educação e a assistência social, deixa a cidade abandonada, não repõe a inflação sobre os salários dos servidores há três anos e retira direitos desses trabalhadores. 

Todo este cenário (e aqui só citamos alguns exemplos) mostra que é preciso que a população se aproprie dessas informações, acompanhe cada vez mais as ações dos governos e reivindique os seus direitos. Sabemos que o dia a dia de nossas mulheres e homens é cruel e contribui para afastá-los da política. Por isso, estamos trabalhando para dialogar cada vez mais com a população e mostrar que é preciso lutar e resistir. Afinal, dessa luta depende o nosso futuro e o de nossos filhos. 

Abigail Pereira é sindicalista e foi secretária de Turismo do Governo do Rio Grande do Sul

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