Sargaço

Para quem deseja a palavra perto.

Foto: Tassyla Queiroga

Sargaço

como se tive

realmente acontecido

a história de uns segundos

confunde a história em si

percurso longo

e maleável

esforço pelo movimento

lembro

e às vezes me arrependo

que fosse óbvio

o que só eu não vi.

sorriem fevereiros

com seus signos de ar

oferendas de orixás

espalham cores 

e pétalas

não adiantam bússolas

nem setas

cada escolha é um trajeto

que se faz a pé

o mar serve de espelho

o resto é saudade do sertão

não reclamo mais do sargaço

náusea

rota de navegação

na confusão entre vento e marulho

só reclamo ainda do frio

se a origem da raiva

é o sentimento de raiva,

melhor sentir o que gosta

pra que surja algo amável

quando sentir sede

ao invés de repetir tenho sede

beber água

quando sentir que ama

ser a própria fonte

escorrendo em chuva.

Tassyla Queiroga é poeta, mestre em Direitos Humanos, viajante inquieta, apaixonada pela América Latina.