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Quer saber a aprovação de Bolsonaro? Pergunte

Em pesquisa, o regular não é neutralidade ou indecisão.

As pesquisas mostram relativa estabilidade na avaliação do governo. Bom e ótimo pouco abaixo de um terço, o mesmo com o regular, e ruim e péssimo um pouco acima. Um quadro mantido nas margens de erro desde abril. O governo está no começo. Popularidades só mergulham ou explodem em início de mandato com algo extraordinário. Um estelionato eleitoral puxando para baixo, uma guerra lançando para cima. Nada parecido aconteceu aqui.

Mas números não precisam variar fantasticamente para trazer ensinamentos. Ou provocar erros. Um equívoco bastante comum é medir a aprovação do governo tomando apenas as respostas bom e ótimo. Quando você pergunta ao entrevistado se ele acha o governo ótimo, bom, ruim ou péssimo, a única conclusão possível a partir da resposta é quantos acham o governo ótimo, bom, ruim ou péssimo. Parece redundante. E é.

Para avaliar a aprovação só tem um jeito: perguntar se aprova ou desaprova. O outro método induz a erro. Você pode ter gente que aprova o governo mas acredita que ele está sendo apenas regular até o momento. Você pode encontrar, e encontra, gente que aprova mesmo entre quem o avalia como ruim ou péssimo. E o que dizem as taxas de aprovação? Que hoje metade aprova e metade desaprova. É consistente com outros achados dos levantamentos.

Um desses achados é a expectativa de que, ao final, o governo terá sido bom ou ótimo. Como mostrou a mais recente pesquisa Veja/FSB, publicada na edição anterior da revista, 44% aprovam a administração Jair Bolsonaro e 45% acreditam que ele será ótimo ou bom ao final. Faz muito sentido. Outra coisa consistente com esses dois dados: a margem estreita entre Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva num hipotético segundo turno entre ambos.

Os números refletem a chamada polarização, e deixam neste momento pouco espaço real a alternativas. Que entretanto são alimentadas por um autoengano habitual: afirmar que o regular indica um contingente nem-nem, que não aprova nem desaprova. Como visto, essa conclusão está completamente errada. De novo, numa pesquisa você só pode afirmar resultados com base no que você perguntou. Nunca no que não perguntou.

De acordo com a pesquisa, entre os 31% que acham o governo regular, 44% aprovam e 37% desaprovam. 15% nem aprovam nem desaprovam e 4% não sabem dizer. A fatia de regular que aprova dá 14% da amostra. É um regular com viés de alta. Do outro lado, o regular que desaprova dá 13%. É o regular com viés de baixa. Somados ótimo/bom mais regular/aprova temos 45% do eleitorado. E ruim/péssimo mais regular/desaprova dá 48%. Jogo empatado.

Imaginar que o regular é um conjunto vazio de afeições ou desafeições pode induzir a erro político grave. Como por exemplo atacar simultaneamente e no mesmo grau os dois polos dominantes. O fraco desempenho de quem buscou esse caminho em 2018 deveria servir como referência. Aliás, quando a pesquisa mede aprovação/desaprovação, o nem aprova/nem desaprova mais o não sabe/não respondeu dá 11%.

Este por enquanto é o espaço real do nem-nem.

Fonte: Blog do autor