Fátima Sá: E quem disse que seria fácil?

Por Fátima Sá*

Pita
Nossa vida é pontilhada pelas marcas que as pessoas que passam por ela vão deixando. Há as que se apagam, com o tempo se vão. Outras, permanecem invariavelmente firmes. Nos tocam com a oferta de uma espaçosa e comovida energia. É exatamente desta forma que podemos definir a existência e a permanência de Epitácio Martins de Sá Filho, carinhosamente chamado de Pita, na vida daqueles que tiveram o privilégio de sua convivência.
 
Não encontraremos mais o Pita em visitas surpresas ou ao sabor do acaso. Não veremos mais aquele sorriso fácil, aberto, divertido, que teimava acompanhar as melhores, mas também piores situações. Não teremos mais alguém com tanta capacidade de enfrenar as tensões de um jeito tão desprendido. Ninguém será capaz de fazer exames de conjuntura de forma tão humorada, mas ao mesmo tempo tão precisa. 
 
Mas permanecerá vívida as prosaicas histórias por ele contadas da luta e resistência que marcaram sua trajetória, na vida e na política. Experiências que de tão bem apresentadas encantavam igualmente crianças, jovens e adultos.  
 
Nascido na região do Alto Oeste Potiguar, no município de São Miguel, Pita fez como a vegetação do seu sertão nordestino e enfrentou os mais duros anos que o país vivenciou com a implementação do regime militar de 1964. Integrou a parcela de uma geração de lutadores que viveu intensamente o sonho de ver transformado o nosso mundo enfermo e caduco.
 
Como preso político, experimentou a amarga passagem no Departamento de Ordem Política e Social, o DOPS. Em 25 de agosto de 1969 foi posto em liberdade, depois de mais de seis meses de prisão. Ainda assim, estava proibido de dar continuidade ao curso de Engenharia Civil na Universidade Federal da Paraíba. Seus estudos só puderam ser retomados depois de um período de três anos.
 
Com posições sempre no campo progressista, da esquerda brasileira, Pita manteve preservada a firmeza nas convicções e no jeito humano de ser. Traços reveladores de sua contribuição ao debate político e ao país de liberdades, em suas mais amplas expressões, e dos avanços que buscamos na atual conjuntura alcançar. 
 
Deixou um filho, esposa, irmãs, irmãos, cunhadas, cunhados, sobrinhas, sobrinhos, tios, primos, amigas, amigos e muitas saudades. Mas também um exemplo de integridade, humanidade, solidariedade e companheirismo que guiará atuais e futuras gerações. Será muito difícil sem você, mas quem disse que seria fácil?
 
*Cunhada de Epitácio Martins de Sá Filho (Pita)