Lesados por Bolsonaro, governadores do Nordeste buscam verba na Europa

O boicote da gestão Jair Bolsonaro aos nove governos estaduais do Nordeste fortaleceu ainda mais a parceria entre os governadores da região. Em busca de financiamento e parceria, gestores e representantes desses estados percorrem França, Itália e Alemanha nesta semana e participam de reuniões com investidores e governos locais. A comitiva, composta por sete governadores, um vice e um funcionário, funciona como um “bloco comercial” paralelo e é resultado do Consórcio Nordeste, criado em março.

Governadores do Nordestes reunidos no ano passado (Foto: Divulgação)

A apresentação conjunta da região a fundos de financiamento é inédito e, segundo os governadores, foi o caminho encontrado por conta da falta de recursos no país. “Imagina sentar nove vezes com nove metas e nove governadores diferentes? Quando se apresenta conjuntamente, consegue-se estabelecer e falar de uma vez só”, disse ao UOL por telefone, de Roma, Rui Costa (PT), governador da Bahia e presidente do Consórcio Nordeste.

Neste ano, os governadores da região foram alvo e objeto de críticas por parte do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que chegou a chamá-los, pejorativamente, de “governadores de paraíba”. Mas, segundo Rui Costa, os governadores não se reuniram para confrontar o governo federal. “Não colocaria essa polarização. Não estamos aqui por uma perseguição no Brasil, não é esse o ponto. Seja de ponto de vista público e privado, é nítida a restrição de opções financiamento no nosso país”.

Para não “esticar o corda”, o Consórcio Nordeste se reuniu com o Ministério das Relações Exteriores, que mandou um representante à viagem pela Europa. “Fizemos questão de fazer isso para tirar o caráter ideológico ou partidário. É uma missão com objetivo de Estado. Aqui somos brasileiros mais do que nunca, demonstrando o amor e a paixão pelo nosso país e falando de uma região deprimida historicamente por baixos indicadores. Estamos buscando reparar essas secular desigualdade.”

“Nosso objetivo é apresentar o Nordeste. Nosso foco são investimentos em saneamento, água, esgoto, energia limpa. Portanto, entendemos como um sucesso esses encontros”, diz o governador. “Queremos buscar recursos e há capacidade de investimento – mesmo que privado – no exterior. É preciso que os estados ajam de forma proativa para buscar estimular. Aqui temos várias oportunidades de negócios, seja PPP [parceria público-privada], infraestrutura, transporte, mobilidade urbana, saneamento, portos, aeroportos. Visamos despertar interesse, que não é automático, não virá na semana seguinte.”

Embora diplomático, o governador baiano deixa escapar a perseguição de Bolsonaro aos estados nordestinos. “Há de fato uma limitação, que não é direcionada ao Nordeste”, afirma. Quando questionado sobre a imagem do Brasil na Europa, Costa reconhece haver “um certo arranhão” decorrente de “tudo que foi dito ao longo do ano”.

Para diminuir a resistência, a opção de apresentar os governos em bloco foi vista como um trunfo do Consórcio Nordeste. “As reuniões têm sido muito produtivas”, resume Rui Costa. “Estamos falando em 57 milhões de pessoas, com estados com potenciais e economias diversas. Temos 30 aeroportos, dezenas de portos operacionais, outros vão ser construídos, concedidos. Ao mudar a escala, a gente também chama a atenção de fundos de investimentos, que, se vissem isoladamente, talvez não despertassem tanto interesse. Aqui a gente mostra uma força econômica, uma demanda grande.”