Ventos do Tsunami popular no Chile fazem girar o moinho

Nesta sexta-feira (25) uma gigantesca manifestação popular tomou as ruas de diversas cidades do Chile. Em Santigo, fala-se em dois milhões de manifestantes. Mesmo as estimativas sempre modestas da polícia apontam para 820 mil manifestantes apenas na Plaza Baquedano, região central da Capital, segundo informações do site Opera MundiPor Wevergton Brito Lima 

Chile

A manifestação acontece depois de sete dias de intensa repressão por parte do governo de Sebastián Piñera, que resultou em 19 mortes, 2.840 manifestantes presos e 295 feridos por tiros.

Sebastián Piñera, presidente chileno, é um milionário, defensor do “estado mínimo”, espécie de “véio da Havan” mais sofisticado. Diante das manifestações, primeiro declarou, ao lado de generais fardados, “guerra” ao seu próprio povo, depois prometeu aumento das miseráveis pensões pagas aos aposentados pela previdência privatizada. Nada disso, nem repressão, nem falsas promessas até agora surtiram efeito.

No oitavo dia de protestos, que surpreendentemente só ganham força, a exigência é clara: “fora Piñera”, fim da previdência privada, aumento do salário-mínimo, etc.

A primeira dama chilena, Cecilia Morel, no terceiro dia de manifestações expressou de forma clara a histórica inconsciência das elites latino-americanas em relação à realidade dos trabalhadores. Em um áudio enviado a uma amiga ela se mostrou estarrecida, perguntando-se de onde surgiu esta gente: “parecem alienígenas”, desabafou, para logo em seguida choramingar: “vamos ter que abrir mão de alguns dos nossos privilégios”. Só um escritor de pouca imaginação seria capaz de criar um diálogo tão primariamente revelador. Faltou apenas ela sugerir que o povo coma brioches.

Não se sabe como terminará este enredo de luta e resistência, mas o estrago para o ideário neoliberal na região está feito, pois a revolta desmascara o paraíso neoliberal que era apontado como exemplo pela impressa hegemônica e pelos neoliberais da região, incluindo o Ministro da Economia brasileiro, Paulo Guedes. Arrisco dizer que as ondas deste tsunami popular irão impulsionar ainda mais a vitória da esquerda na Argentina e no Uruguai, neste próximo final de semana. Cada povo constrói sua história e o que está acontecendo no Chile pode assumir formas diferentes em diferentes lugares, mas é inegável que o tsunami chileno traz nova esperança e alento para o Brasil e para os povos que resistem em Nossa América, afinal, são os ventos do sul que movem os moinhos.