De Olho no Mundo – Especial Equador, por Ana Prestes

A crise no Equador ganhou proporções dramáticas. Nesta segunda-feira (7), funcionários administrativos e dos meios de comunicação foram retirados do Palácio de Carondelet como medida de segurança diante das manifestações que tomaram conta dos arredores da Plaza Grande onde está situado o palácio. O presidente Lenin Moreno havia programado falar por rede nacional pela tarde de dentro do palácio, mas igualmente foi suspensa a transmissão. A tarde foi de tensão nas principais ruas de Quito.

Equador

Somente após a transferência da sede do governo de Quito para Guayaquill foi que Lenin Moreno realizou seu pronunciamento por cadeia nacional de rádio e televisão. Em sua transmissão, o presidente considerado traidor por aqueles que apoiavam o governo de Rafael Correa, de quem Lenín inicialmente seria um sucessor por fazer parte do mesmo partido, Alianza País, disse que tanto Correa como Maduro são os culpados da atual crise no Equador. Nas suas palavaras: “eles são os que estão por trás da tentativa de golpe de Estado”, acusou também o ex-chanceler Ricardo Patiño da tentativa de desestabilizar o país. No discurso ele também acenou aos indígenas ao dizer: “estou decidido a dialogar com vocês, irmãos indígenas”.

Várias marchas indígenas estão em curso no Equador. Uma delas, com aproximadamente 3 mil integrantes avançou ontem desde Cotopaxi e outras zonas do extremo sul do país e se somaram aos protestos em Quito. O mesmo com o movimento indígena de Tugurahua, Shuar Tsuraku, na região amazônica do Equador, Imbabura, Azuay, Pichincha, Chimborazo, Cañar, Loja e várias outras.

 Houve enfrentamento nas ruas, com bloqueio de avenindas importantes como a Simón Bolivar e outras. Sob os cânticos de “se va caer, se va caer, Lenín se va caer” e “el pueblo unido jamás será vencido…” grupos de indígenas vão se somando e está convocada para amanhã, 9, uma paralisação geral de atividades em todo o país. Nos confrontos de ontem houve gás lacrimogênio por parte da polícia e veículos militares blindados queimados pelos manifestantes.

Outra frente de ataque dos manifestantes tem sido as instalações petroleiras. No dia de ontem (7) o Ministério da Energia e Recursos Naturais Não Renováveis informou que as operações em três campos petroleiros, localizados nas províncias de Orellana e Sucumbíos, operados pela empresa pública Petroamazonas foram suspensas devido a tomada por grupos de manifestantes. As vias de acesso às petroleiras estão bloqueadas impedindo a saída dos caminhões tanque, calcula-se que com a interrupção da produção e da distribuição haverá um prejuízo de milhares de barris/dia.

Em Guayaquill, uma parada militar que estava prevista para amanhã, 9 de outubro, em atenção aos 199 anos da Independência de Guayaquill ao largo da avenida Narcisa de Jesús foi suspensa por conta do estado de exceção.

Segundo o presidente da Conaie (Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador), Jaime Vargas, os indígenas exigem “a imediata libertação dos 350 detidos arbitrariamente por exercer seu direito constitucional de resistência” e acrescentou que só haverá conversações com o Executivo uma vez que chegem a Quito. Escolas e estradas estão fechadas em todo o país. A expectativa é da chegada de cerca de 20 mil indígenas à capital entre hoje (8) e amanhã (9).

A sublevação contra Lenin Moreno vai de encontro aos seus planos de ajustes nos país em conformidade com o FMI. Seu goveno conseguiu unir organizações sindicais, camponesas, indígenas e populares em uma grande onda nacional de protestos contra o “paquetazo” (fim dos subsídios aos combustíveis) e a “flexibilización laboral”. Há vias fechadas desde Imbabura, ao norte do país na fronteira com a Colômbia até Loja, ao sul e no limite com o Peru. Moreno assinou com o FMI um contrato de empréstimo de 4,2 milhões de dólares em fevereiro e pouco a pouco foram ficando para trás quaisquer rastros das políticas sociais de Correa, de quem Moreno foi vice-presidente por seis anos. Moreno tem defendido a intervenção na Venezuela, a entrega de uma base aérea em Galápagos para uso da inteligência dos EUA, além de ter retirado o Equador da Unasul (a sede da organização está no país) e da OPEP.

O Equador, através de sublevações sociais como estas, já derrubou três presidentes no período recente, Abdalá Bucaram (1996-1997), Jamil Mahuad (1998-2000) e Lucio Gutiérrez (2003-2005).