Quem está por trás das manifestações em Hong Kong 

Há vários meses a região de Hong Kong , na China, tem sido palco de protestos anunciados pela imprensa ocidental como pró-democracia. É necessário uma análise mais acurada de seus instrumentos e de sua ligação com os interesses inconfessáveis da extrema-direita mundial antes de lhe conceder o honroso título de “democráticos”. 

Protestos em Hong Kong
Por Gustavo Alves*
 
Chamou a atenção do mundo que os manifestantes tenham entoado o hino norte-americano, usado bandeiras dos Estados Unidos e saudado o presidente Donald Trump no protesto do dia 08 de setembro, o 14º final de semana seguido de manifestações. Outro fato que se destacou foi a reunião dos líderes dos manifestantes com um funcionário dos consulado dos EUA em Hong Kong, em um lobby de hotel, dias antes do em que Trump e o país que governa serem homenageados. 
 
A atual conjuntura, pós manipulação pela aprovação do Brexit no Reino Unidos e eleição de Trump e Bolsonaro com o apoio do esquema tecnológico-midiático de Steve Bannon, guru e articulador da extrema-direita no mundo, não nos permite que acreditemos em coincidências.
 
Steve Bannon está no centro das principais teorias conspirativas da política neste início do século 21. É uma figura central na estruturação do esquema industrial de fakenews e manipulação eleitoral criado a partir de estudos da em Cambridge Analytica, denunciada por manipular a opinião pública através das redes sociais nos Estados Unidos e no Reino Unido.
 
Para Bannon, a onda de eleições de presidentes conservadores é uma prova do sucesso deste modelo que trouxe à superfície política figuras como Donald Trump, Jair Bolsonaroe Matteo Salvini (Itália). Sobre o atual presidente brasileiro ele afirmou que “o capitão Jair Bolsonaro é uma figura histórica não só para o Brasil. É emblemático o que pode fazer no restante do mundo”.
 
Aprofundando este caminho, Bannon criou o “Movimento”, uma organização cujo objetivo é  ajudar a organizar ciada ações contra a China e a União Europeia.
 
A iniciativa começou na Europa e forneceu apoio à candidaturas de extrema-direita como Marine Le Pen, na França, e Matteo Salvini, na Itália. Após as eleições europeias de 2017, o Movimento passou a se dedicar a combater a China, segundo Bannon a “maior ameaça econômica e de segurança nacional que os EUA já enfrentaram”.
 
Para atuar contra a China, segundo o jornal The New York Times, Bannon estabeleceu uma parceria com Guo Wengui, um bilionário chinês que tem como o objetivo declarado de derrubar o Partido Comunista Chinês. Exilado nos EUA desde 2015, Guo é acusado de praticar suborno, lavagem de dinheiro, fraude e estupro, além de colaboração com serviços de inteligência estrangeiros.
 
No final de 2017, eles Bannon e Guo anunciaram, em entrevista coletiva, a criação de um fundo de US$ 100 milhões para financiar a oposição na China, onde o chinês entraria com os recursos financeiros e materiais, e  norte-americano com a estratégia. 
 
Paralela a esta ação, Bannon tem voltado suas baterias às empresas chinesas como a Huawei e ao acesso delas aos mercados de capitais. Ele afirmou em entrevista recente ao Wal Street Journal que “o próximo passo é cortar todas as ofertas públicas iniciais (IPOs) e desemaranhar todos os fundos de pensões e companhias de seguros nos EUA que fornecem capital ao Partido Comunista da China” até que aceitem uma reforma no sistema econômico, como os EUA exigem.
 
Pois bem, alguns meses depois de manobras públicas para financiar a oposição, ressurge, em Hong Kong,  a Frente Civil dos Direitos Humanos, uma plataforma de 50 grupos de oposição que atua desde 2014 e que tinha passado os últimos cinco anos quase inerte. Em março deste ano retomou a agenda de protestos, numa ação crescente atingindo seu ápice no início de junho. Desde então a cidade chinesa tem sido palco de protestos durante quase todos os finais de semana. 
 
Não há como dissociar a cronologia dos ataques de Bannon e da direita americana à China com o timing das manifestações em Hong Kong. Pode-se afirmar muita coisa sobre a manifestações, mas que elas são “pró-democracia” é exigir um grau de leniência com as táticas manipulatórias hoje em voga que superam em muito a ingenuidade ou inocência de quem analisa este quadro.

Gustavo Alves é editor nacional das Redes do PCdoB