Globo admite que enquadrou Luciano Huck sobre candidatura a presidente

A TV Globo acusou o golpe. Depois que o jornalista Tales Faria, do UOL, publicou que a emissora da família Marinho vetou a candidatura do apresentador Luciano Huck à Presidência da República em 2018, o Setor de Comunicação global abriu o jogo. A rigor, diz a Globo, não houve o que se convenciona a chamar de veto. Huck foi apenas enquadrado “às regras da emissora”.

Por André Cintra

Luciano Huck

O pretexto da matéria de Tales Faria foi o jantar que o apresentador-candidato promoveu em sua casa, no dia 16 de setembro, com “um time peso-pesado do PSDB, do DEM e do Cidadania”. Lá estavam, à mesa com Huck, nomes como Fernando Henrique Cardoso, Armínio Fraga, Rodrigo Maia, ACM Neto e Roberto Freire. Entre um prato e outro, o novo “queridinho” da direita confirmou “sua disposição em concorrer à Presidência da República em 2022”.

O trecho que irritou a família Marinho veio a seguir: “Perguntado se não temia novo veto da Globo à sua candidatura, Huck respondeu que não. Segundo ele, muito provavelmente a Globo será contra sua permanência nos quadros da emissora assim que anunciar a candidatura. Mas ele disse estar disposto, desta vez, a ‘enfrentar o desafio’”.

Na nota ao UOL, a Globo sustenta que “a afirmação é incorreta”, mas admite que chamou Huck para conversar a respeito das “especulações” e “saber se de fato ele concorreria à Presidência”. O apresentador foi, então, emparedado: caso desejasse a carreira política, “teria de se submeter às regras da emissora, segundo as quais a vida politico-partidária é incompatível com a permanência nos quadros da Globo, [até] mesmo depois do processo eleitoral”.

Diante do pito, o badalado funcionário dos Marinhos não pensou duas vezes e deu fim às suas aspirações eleitorais – ao menos em 2018. “Na conversa, como a emissora esperava, Luciano Huck foi franco, correto e aderente às regras mencionadas.” Em outras palavras, Huck não trocou o certo pelo duvidoso e congelou o projeto presidencial.

Mas as “especulações” estão de volta – e até a esposa de Huck, a também celebridade global Angélica, não seria mais um “empecilho”. Por via das dúvidas, a nota da Globo ao UOL alerta: “Tais regras estão em vigor e são válidas para todos os talentos da emissora. E visam a resguardar a postura de completa isenção da Globo”.

“Isenção” à parte, o apresentador-candidato não esconde que concilia a agenda de viagens a trabalho com compromissos eleitorais – e continua a ter razoável liberdade para tecer opiniões de fundo político no Caldeirão do Huck. Entre “os talentos da emissora”, há, sim, um presidenciável usando os privilégios de uma concessão pública para fazer uma cada vez mais ostensiva pré-campanha ao Palácio do Planalto. Não há nota ou discurso que, a esta altura, dissimule o óbvio.