Bolsonaro não consegue conter o avanço da destruição da Amazônia

Decreto de Bolsonaro não é respeitado. Desmatamento continua na Amazónia. Fazendeiros de Novo Progresso ignoram o decreto de Bolsonaro que proíbe a realização de queimadas em todo o Brasil e derrubam e queimam a floresta para transformação em pasto.

Gustavo Basso, na Amazônia

incêndio

Apenas três dias após a publicação do decreto 9.992/2019, que proíbe o uso de fogo em lavouras no país durante 60 dias, a reportagem do Expresso flagrou uma incêndio iniciado poucas horas antes nas bordas da Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, em Novo Progresso, sul do Pará, neste sábado (31).

Árvores recém derrubadas por motosserras numa área que, segundo dados de satélite eram de floresta até hoje, esperavam tombadas a chegada das labaredas que lentamente iam consumindo a vegetação. Num canto próximo à estrada Marajoara, dois galões de combustível expunham o crime. O responsável pela queima não foi encontrado no lugar, e durante toda a tarde de sábado nenhuma equipa do Prevfogo (Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais) ou de militares foi deslocada. Os brigadistas ligados ao Ibama chegaram a Novo Progresso, vindos de Itaituba, apenas no sábado e devem começar a atuar a partir desta semana.

O presidente brasileiro alterou neste sábado o decreto, liberando as queimadas em outras partes do país com exceção da Amazónia Legal. Pelo texto, estão permitidas queimadas somente para controle fitossanitário autorizado; para controle de incêndios florestais; e para “práticas agrícolas de subsistência executadas pelas populações tradicionais e indígenas”.

Ao longo da estrada de terra que margeia um longo trecho da unidade de conservação, por mais de dez quilômetros ao sul o que se observa é um cenário de desolação. Árvores derrubadas – muitas vezes com a prática do correntão, em que pesadas correntes são atadas a duas escavadeiras distantes que percorrem o terreno arrastando tudo pelo caminho – carbonizadas e muitas cinzas num solo que foi incendiado nos últimos dias.

Segundo os dados do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia) por meio da plataforma TerraBrasilis, Novo Progresso é a cidade com a segunda maior área desmatada do Brasil desde o chamado Dia do Fogo, quando em 10 de agosto um número recorde de queimadas foi realizado às margens da BR-163 aqui e na vizinha Altamira como forma de protesto para que o presidente Jair Bolsonaro perdoe multas e outras agressões ao meio ambiente.

Já a Flona do Jamanxim é a área de proteção campeã de desmatamento, com quase 57 km2 acumulados nos últimos 21 dias. É como se o Porto e Almada inteiros queimassem por completo nas últimas três semanas.

Sem força para fiscalizar

A degradação da Flona do Jamanxim expõe o desmonte que vive o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) há muito tempo, e intensificado no governo Bolsonaro. Questionado, um agente de fiscalização do órgão alocado em Novo Progresso afirma que é impossível os 23 agentes do ICMBio fiscalizar os 91.000 km2 de áreas de conservação compreendidas entre Novo Progresso e Itaituba – a área de ação do grupo.

“Isso corresponde a duas vezes o estado do Rio de Janeiro, com poucas estradas, difícil acesso; não é realista achar que isso é possível” diz o funcionário, que prefere não se identificar pois desde que explodiram as queimadas na Amazônia, ninguém do ICMBio está autorizado a falar com a imprensa.

Neste sábado, a poucos quilômetros da queimada identificada pela reportagem, uma equipe do ICMBio acompanhada de uma brigada do exército desmontou um garimpo ilegal dentro da Flona Jamanxim. Foram confiscados uma escavadeira e outros maquinários pesados, além das ferramentas utilizadas na atividade. Os garimpeiros não foram encontrados no momento da operação.