CIA armou 638 planos para matar Fidel – e falhou em todos

Fidel Castro passou absolutamente incólume por mais de 600 planos de assassinato em sua vida. Quem faz essa conta é Fabián Escalante, o “anjo da guarda” de Fidel, responsável pelo serviço de contrainformação cubano e pela segurança pessoal do comandante. Foram tantas as investidas patrocinadas pela CIA nesse período que Escalante decidiu reuni-las num livro: 638 Ways to Kill Castro (638 Maneiras de Matar Castro). A obra acabou virando documentário de TV, exibido na Inglaterra pelo Channel 4.

CIA x Fidel

Tanto na telinha quanto nas páginas do livro, descobre-se que os americanos tiveram ideias incrivelmente mirabolantes para eliminar o líder cubano. Algumas jamais foram postas em prática. Outras só não mataram Fidel por sorte. O líder cubano acabaria morrendo só em 2016, aos 90 anos, de causas naturais.

“A CIA precisava eliminá-lo sem correr o risco de ser incriminada”, explicou o diretor do filme, Dollan Cannell, numa entrevista ao jornal britânico The Guardian. “Portanto, era melhor que ele não fosse assassinado de uma forma convencional, com arma de fogo.”

Já que era preciso literalmente inventar um instrumento que pudesse matá-lo, os agentes deram asas à imaginação. Um dos planos previa o envio de um charuto-bomba para Fidel, que explodiria em sua cara. O artefato até foi fabricado, mas nunca chegou perto do comandante. Além de fumar charutos, Fidel Castro gostava de mergulhar e praticar caça submarina. E a CIA viu aí, segundo Escalante, mais uma chance de emboscar o inimigo. Dois planos subaquáticos teriam sido elaborados pelos agentes.

Um deles era simples: contaminar uma roupa de mergulhador com um fungo letal. O outro, bem mais complicado: criar um molusco falso, enchê-lo de explosivos e colocá-lo à vista num recife de coral. Durante o mergulho, o comandante seria atraído por aquela criatura tão exótica. E viraria picadinho quando chegasse a certa distância. Documentos secretos liberados na administração Clinton provaram que os dois planos realmente foram traçados pela CIA – mas que, como tantos outros, não saíram do papel.

Até atentados de efeito moral passaram pela cabeça dos agentes americanos. Uma das ideias era contaminar os sapatos de Fidel Castro com tálio, um elemento químico altamente radioativo. O efeito da radiação faria cair os pêlos da barba, minando a autoconfiança do líder cubano e tornando-o mais vulnerável a outros ataques.

A CIA cogitou também espalhar um spray alucinógeno no estúdio de TV onde Fidel faria um pronunciamento à nação. Afetado pelas propriedades da substância, o comandante pagaria um mico histórico diante de toda a população, e ficaria desmoralizado demais para seguir governando. De novo, nada disso foi levado adiante.

Entre as tentativas de assassinato que ocorreram de fato, um dos casos mais famosos é o de uma suposta amante de Fidel contratada pela CIA. Num encontro íntimo, ela deveria dar um jeito de fazê-lo engolir uma cápsula de veneno. Mas as pílulas que a mulher levava na bolsa derreteram, escondidas num pote de creme para o rosto. Passar o cosmético na barba de Fidel, enquanto ele estivesse dormindo, não parecia ser boa ideia. E o plano, que tinha tudo para dar certo, acabou indo por água abaixo.

A última tentativa de matar Fidel Castro de que se tem notícia ocorreu em 2000, durante uma visita do comandante ao Panamá. Cerca de 90 quilos de explosivos, prontos para explodir, foram encontrados pelos seguranças de Fidel sob o palanque onde ele faria um discurso. Quatro homens, entre eles o exilado cubano e colaborador da CIA Luis Posada, foram presos naquela ocasião.

Uma das explicações para tantos planos de atentado é o tempo de permanência de Fidel no poder: 49 anos, de 1959 a 2008. As conspirações começaram logo após a revolução. Em março de 1960, o presidente americano, Dwight Eisenhower, já tinha aprovado um plano para derrubá-lo, que atingiria seu objetivo sem que os EUA precisassem invadir a ilha. A estratégia seria financiar a oposição a Fidel em território cubano e treinar 60 exilados, que se infiltrariam em Cuba com armas fornecidas pela agência. Se tudo desse certo, o comandante cairia em seis meses. Mas o plano não funcionou.

Assim que tomou posse na Casa Branca, em 1961, John Kennedy demonstrou especial interesse pelos planos da CIA para eliminar Fidel Castro. Foi em março daquele ano que Richard Bissell, diretor de operações encobertas da agência, apresentou-lhe a ideia de invadir Cuba por três praias localizadas na Baía dos Porcos. No mês seguinte, uma brigada composta de cerca de 1.400 exilados cubanos desembarcou na ilha. Novo fiasco, e dessa vez dos grandes, com as tropas de Fidel esmagando as forças invasoras e fazendo mais de mil prisioneiros.

Cada vez que se esquivava de uma armação, o comandante aproximava-se mais e mais da União Soviética. Em plena Guerra Fria, os EUA assistiam à construção de um regime comunista logo ali, no quintal da casa deles. Em novembro de 1961, Kennedy criou um comitê denominado Grupo Especial Ampliado e entregou a chefia ao irmão, Robert. Na prática, sua missão era uma só: eliminar Fidel.

“A CIA estava tão ocupada conduzindo aquelas ações que errou ao ver em Cuba uma ameaça crescente à segurança dos EUA”, escreveu o jornalista americano Tim Weiner em Legado das Cinzas: Uma História da CIA. O novo diretor da agência, John McCone, tinha assumido o cargo naquele mês e não sabia dos planos arquitetados pelo antecessor, Allen Dulles, e seu subordinado Richard Bissell. Disse ao presidente que apenas uma guerra derrubaria Fidel. E que a CIA não estava pronta para essa guerra. Kennedy ignorou o alerta e permitiu que os planos para assassinar o líder cubano seguissem em frente.

Determinada a eliminar Fidel, a central de inteligência acabaria se associando à máfia. Em abril de 1962, o gângster John Rosselli recebeu em Miami cápsulas contendo uma bactéria assassina. Elas deveriam ser dissolvidas no café ou no lenço do comandante. Só que o plano, para variar, não deu certo.

No ano seguinte, a agência recrutou um ex-revolucionário para dar cabo do líder. Rolando Cubela havia lutado ao lado de Fidel em Sierra Maestra e, àquela altura, ocupava um cargo no governo. Os agentes prometeram-lhe a arma que ele quisesse. Cubela escolheu um rifle com mira telescópica. Jamais recebeu a encomenda.

No dia 22 novembro de 1963, antes de o atentado ser consumado, o presidente Kennedy foi assassinado enquanto desfilava em carro aberto pelas ruas de Dallas, no Texas. Quem assumiu seu lugar na Casa Branca foi o vice, Lyndon Johnson, que nada sabia sobre os planos da CIA para eliminar Fidel.

“Poucas pessoas sabiam”, escreveu Tim Weiner. Quase quatro anos mais tarde, em 1967, o FBI (polícia federal norte-americana) entregou a Johnson um relatório que confirmava: a CIA tinha planejado várias vezes a morte de Fidel Castro e chegou a contratar os serviços da máfia para alcançar seu objetivo. O presidente teria comentado: “John Kennedy queria pegar Castro, mas Castro pegou Kennedy primeiro”.

Com informações do site Aventuras na História