Paul Krugman: Por que as ideias econômicas de Trump fracassaram? 

Donald Trump seguiu duas políticas econômicas principais. Quanto aos impostos, ele foi um republicano ortodoxo, pressionando por grandes cortes de impostos para as empresas e os ricos, e seu governo prometeu que isso levaria a uma grande alta no investimento. No comércio internacional, ele rompeu com as políticas de (mais ou menos) livre comércio de seu partido e impôs grandes tarifas, que, prometeu, reanimariam a indústria dos Estados Unidos.

Por Paul Krugman*

Trump

Na quarta-feira (31), o Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, cortou as taxas de juros, embora o índice de desemprego esteja baixo e o índice geral de crescimento econômico continue decente, ainda que não ótimo. De acordo com Jerome Powell, chairman do Fed, o objetivo era fazer seguro contra os sinais preocupantes de uma futura desaceleração econômica – especialmente no investimento empresarial, que já vinha fraco e caiu no trimestre mais recente, e na indústria, que está em queda desde o começo do ano.

Powell evidentemente não podia dizer abertamente que as ideias econômicas de Trump fracassaram, mas esse foi o subtexto de suas declarações. E os esforços frenéticos do presidente para pressionar o Fed a decretar um corte maior de juros significam admitir a mesma coisa. A justiça requer afirmar que a economia continua bem forte, o que não deveria surpreender dada a disposição do Partido Republicano de operar com imensos déficits orçamentários desde que os democratas não ocupem a Casa Branca.

Como escrevi três dias depois da eleição de 2016 – assim que o choque inicial do resultado passou –, “é pelo menos possível que déficits orçamentários maiores de fato reforcem a economia por um breve período”. E foi exatamente isso que aconteceu. Houve um solavanco positivo em 2018, mas a esta altura mais ou menos retornamos ao ritmo de crescimento pré-Trump.

Mas por que as ideias econômicas de Trump foram incapazes de produzir grande coisa além de um déficit orçamentário trilionário? A resposta é que tanto os cortes de impostos quanto a guerra comercial se baseiam em visões falsas sobre como o mundo funciona. A fé republicana na magia dos cortes de impostos – e, correspondentemente, a crença em que aumentos de impostos condenarão a economia – é o grande zumbi da política, uma posição que deveria ter sido morta pelas provas em contrário décadas atrás, mas continua perambulando, devorando os cérebros republicanos.

O histórico na verdade é espantosamente coerente. A alta de impostos de Bill Clinton não causou depressão, os cortes de impostos de George W. Bush não trouxeram um boom, o aumento de impostos de Jerry Brown na Califórnia não foi um “suicídio econômico”, o “experimento” (o termo é dele) de Sam Brownback com o corte de impostos no Kansas foi um fracasso.

Mesmo assim, os republicanos persistem. Desta vez, a peça central do corte de impostos era um incentivo fiscal gigantesco para as empresas, que supostamente as induziria a trazer de volta aos Estados Unidos o dinheiro que têm investido no exterior, e colocá-lo para funcionar em nossa economia. Em lugar disso, elas basicamente usaram o dinheiro que economizaram com o corte de impostos para recomprar suas ações.

O que houve de errado? O investimento empresarial depende de muitos fatores, e as alíquotas tributárias não têm posição elevada na lista. Embora a observação casual dos fatos possa sugerir que as empresas investem muito em países que têm impostos baixos, como a Irlanda, isso é quase sempre uma ilusão: empresas usam truques de contabilidade para reportar imensos lucros e daí os grandes investimentos em paraísos fiscais, mas eles não correspondem a qualquer coisa de real.

Jamais houve razão para acreditar que o corte de impostos empresariais nos Estados Unidos levaria a uma grande alta no investimento de capital e do emprego e, como seria de esperar, isso não aconteceu. E quanto à guerra comercial? As provas são esmagadoras: as tarifas não têm muito efeito sobre a balança comercial geral. Elas no máximo transferem o déficit de lugar: estamos importando menos da China e mais de outros lugares, como o Vietnã.

E há bons argumentos para afirmar que as tarifas de Trump na verdade prejudicam a indústria dos Estados Unidos. Para começar, muitas delas incidem sobre “bens intermediários” – ou seja, coisas que empresas americanas usam em seus processos de produção, e com isso as tarifas elevaram custos. Além disso, a incerteza criada pelos caprichos de Trump na formação de políticas – ninguém sabe o que ele vai tomar por alvo em seguida – seguramente desestimulam o investimento. Para que construir uma fábrica quando, até onde você sabe, na semana que vem um tuíte destruirá seu mercado, sua cadeia de suprimento, ou ambos?

Nada disso levou a uma catástrofe econômica – ainda. Como Adam Smith escreveu certa vez, “há muita ruína em uma nação”. Exceto em tempos de crise, presidentes importam menos para a economia do que a maioria das pessoas pensa – e embora as ideias econômicas de Trump tenham fracassado de todo em cumprir o que ele prometeu, não são horríveis o bastante para causar enormes estragos.

Por outro lado, pense nas oportunidades perdidas, imagine o quanto estaríamos melhor se as centenas de bilhões de dólares desperdiçados em cortes de impostos para empresas tivessem sido usados para reconstruir a infraestrutura deteriorada do país. Imagine o que poderíamos ter feito com políticas públicas que promovessem empregos do futuro em coisas como energia renovável, em lugar de guerras comerciais que tentam em vão recriar a economia industrial do passado.

E já que tudo hoje em dia é político, permita-me dizer que os sabichões que acreditam que Trump vencerá a eleição ao alardear a força da economia estão quase certamente errados. É muito provável que ele não encare uma recessão (em tese), mas definitivamente não recuperou a grandeza da economia. Assim, ele provavelmente vai ter de fazer o que já está fazendo e claramente deseja fazer: disputar a eleição com o racismo como plataforma.

* Paul Krugman é Prêmio Nobel de Economia e colunista do The New York Times