FUP diz que lucro da Petrobras se deve a entrega do patrimônio público

Com base no levantamento feito pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra (Ineep), a Federação Única dos Petroleiros (FUP) diz que o lucro anunciado de R$ 18,8 bilhões pela Petrobrás no segundo trimestre deste ano foi obtido às custas da entrega do patrimônio público.

Por Iram Alfaia

Petrobras

A maior prova disso é que a empresa aumentou seus desinvestimentos em U$$ 12,7 bilhões, a partir da venda da Transportadora Associada de Gás (TAG), de campos de petróleo e de ativos no exterior, como a Refinaria de Pasadena e o complexo de distribuição de derivados no Paraguai.

Para a entidade, não foi à toa que o ministro da Economia, Paulo Guedes, no mesmo dia do fechamento do balanço da empresa, voltou a repetir que seu objetivo é “vender todas as estatais federais”.

Outra consideração que precisa ser feita, segundo a FUP, é que a empresa continua se beneficiando de fatores externos, como o dólar e o preço do barril do petróleo. Entre o primeiro e o segundo trimestre de 2019, o BRENT aumentou 9%, passando de US$ 63,20 para US$ 68,82, e o dólar subiu 4%, variando de R$3,77 para R$ 3,92.

“Os números do balanço da Petrobrás comprovam a relação direta entre os resultados operacionais e financeiros da empresa e a política de privatização e desinvestimentos, cujo foco é única e exclusivamente gerar lucros para os acionistas e para o sistema financeiro”, diz a FUP.

Por outro lado, a empresa vem reduzindo os seus investimentos o que deixa a produção de petróleo estagnada. Entre os segundos trimestres de 2018 e 2019, a produção de óleo e gás caiu 1%, passando de 2,66 milhões de barris por dia para 2,63 milhões de boe/dia.

A Petrobras reduziu o plano de investimento de US$ 16 bilhões para US$ 11 bilhões. Segundo o Ineep, a empresa está postergando as atividades de perfuração, o que irá “retardar a exploração e produção de poços com alto potencial de receita” e deixar a companhia “cada vez mais refém dos movimentos internacionais do barril do petróleo e da produção do pré-sal que, diga-se de passagem, ainda não tem sido capaz de alavancar a produção nacional em função da postergação de novos investimentos e do abandono dos campos maduros”.

“As refinarias também continuam produzindo com baixa carga. A produção de derivados caiu 4,1% entre o segundo trimestre de 2018 e o segundo trimestre de 2019, passando de 1,841 milhões de barris processados por dia para 1,765 milhões de barris”, diz a entidade.

Venda das refinarias

Para a FUP o governo age de forma proposital para justificar a venda das refinarias. A redução da carga do parque de refino beneficia as importadoras de derivados, que despejam no mercado brasileiro combustíveis trazidos de fora, se aproveitando da política de preços internacionais que é praticada aqui pela Petrobrás. “E quem paga a conta dessa equação é o consumidor”, alerta.

Segundo a entidade, ao reduzir o tamanho econômico e a importância política da Petrobrás, a gestão Bolsonaro “intensifica a desnacionalização do setor de óleo e gás, colocando para escanteio a indústria nacional”. Isso após o setor sofrer um desmonte promovido pela Operação Lava Jato.

“Quem paga essa conta são milhões de brasileiros desempregados, jovens e adultos sem perspectivas de um futuro digno. Quem paga a conta são as famílias que foram obrigadas a voltar a cozinhar com lenha ou carvão por causa do preço exorbitante do botijão de gás. Quem arca com essa conta são os caminhoneiros que continuarão pagando caro pelo diesel importado dos Estados Unidos”, diz a FUP.

E prossegue: “Quem paga a conta é a classe média, que continuará consumindo uma das gasolinas mais caras do planeta. Quem paga a conta são as crianças e as próximas gerações de brasileiros, que correm o risco de viver em um país sem soberania energética, rico em petróleo, mas dependente e refém das nações estrangeiras. Enquanto isso, os mercadores festejam os bilhões que lucram com o maior desmonte de uma empresa petrolífera já visto no mundo. Um recorde, de fato”, conclui.