Diretor do Inpe confirma exoneração após ser ameaçado por Bolsonaro

O diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, confirmou, no início da tarde da sexta-feira (2), que será exonerado do cargo após a divulgação do aumento do desmatamento na Amazônia.

Ricardo Galvão - CDMF/ Reprodução/CP

Segundo Galvão, a situação ficou “insustentável” após Bolsonaro afirmar que os dados do instituto são mentirosos. Na quinta-feira (1), Bolsonaro havia ameaçado Ricardo Galvão de demissão. “Se quebrou a confiança, vai ser demitido sumariamente”, disse Bolsonaro.

“Diante da maneira como eu me manifestei com relação ao presidente, criou um constrangimento, ficou insustentável e eu serei exonerado”, afirmou Galvão após a reunião dele com o ministro de Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes.

Os dados divulgados pelo Inpe, por meio do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), apontam crescimento do desmatamento de 88% em junho na comparação com o mesmo período de 2018, um total de 920,4 quilômetros quadrados.

Entre 1º e 25 de julho de 2019, a extensão dos alertas de desmatamento já ultrapassou a marca de 1.864 quilômetros quadrados, mais do que triplicou em relação a julho de 2018.

Em resposta à publicação dos dados, Bolsonaro resolveu atacar o Inpe e, além de desqualificar os números do desmatamento, anunciou que pretende terceirizar o monitoramento das florestas.

Os ataques de Bolsonaro contra o instituto começaram no dia 19 de junho quando, em encontro com jornalistas estrangeiros, ele afirmou que os dados do Inpe eram “mentirosos” e insinuou que Galvão estaria “a serviço de alguma ONG”. O pesquisador reagiu afirmando que a atitude do presidente havia sido “pusilânime e covarde”.

Após o encontro com Pontes nesta sexta-feira, Galvão disse que concordou com a decisão pela sua saída e que sua maior preocupação no encontro era que a crise não respingasse no Inpe. “Discutimos em detalhes como vai ser a continuação da administração do Inpe”. Segundo o pesquisador, ele não precisou defender os dados o Inpe diante do ministro. “Ele concorda com os dados do Inpe, sabe como funciona”.