Foro de São Paulo inicia com “demonstração pungente de luta e unidade”

O primeiro dia do 25º Foro de São Paulo (FSP), realizado em Caracas, capital da Venezuela, nesta quinta-feira (25), superou a expectativa de participação em termos de presença, disposição de luta e entusiasmo.

Por Wevergton Brito Lima, de Caracas

Foro de São Paulo

O Foro de SP sofreu, antes do seu início, todo o tipo de ataques e boicote, o que incluiu um suspeito blecaute dias antes da abertura do evento e a tentativa de impedir delegações estrangeiras de prosseguir viagem rumo à terra de Bolívar e Chávez, através de pressão exercida pelos EUA sobre companhias aéreas, o que foi bem-sucedido em alguns casos. Mesmo assim, cerca de 700 delegados internacionais de 190 organizações de diversas partes do mundo chegaram a Caracas e, acompanhados por 500 delegados venezuelanos, iniciaram o primeiro dia de trabalho com grande entusiasmo.

Segundo Walter Sorrentino, secretário de Política e Relações Internacionais do PCdoB, “vozes reacionárias que se levantam em insultos e ataques ao Foro de São Paulo não têm noção das raízes profundas nas quais se assenta este espaço multilateral e democrático, que se sustenta na força dos povos originários da América Latina, na força das mulheres, dos jovens, dos trabalhadores latino-americanos”.

Para o dirigente comunista, “o primeiro dia do 25º Foro de São Paulo foi uma demonstração pungente de luta, de unidade e compromisso com a paz, soberania e prosperidade dos povos. Em face da complexa realidade da América Latina e Caribe, este início de Foro de São Paulo mostra que a unidade é um anseio irrefreável – e este é um caminho necessário e valioso”.

A jornada inaugural se iniciou com a reunião do Grupo de Trabalho, que fez os últimos ajustes na programação e debateu a conjuntura política. Aconteceram também reuniões com a esquerda da Europa, com os representantes dos Movimentos Sociais, entre outras oficinas e colóquios.

O dia foi encerrado com um grande ato de instalação formal do 25º FSP, contando com a presença de destacados dirigentes da Revolução Bolivariana, como Diosdado Cabello, vice-presidente do Partido Socialista Unificado da Venezuela e presidente da Assembleia Nacional Constituinte, e Adam Chávez, irmão do falecido presidente Hugo Chávez, responsável pelas Relações Internacionais do PSUV.

Causou forte impressão aos delegados estrangeiros o clima de entusiasmo e confiança dos chavistas venezuelanos, mesmo em um momento com tantos fatos adversos e desafios. No instante em que Diosdaldo Cabello foi chamado a falar, representando o presidente Nicolás Maduro, o auditório literalmente veio abaixo.

E o dirigente bolivariano fez jus ao entusiasmo. Em um forte discurso, denunciou a hipocrisia da direita, que só fala em democracia como recurso de oratória, mas, quando no poder, mata diária e impunemente, como ocorre na Colômbia e em diversos outros países ao redor do mundo.

Cabello alertou que a situação na Venezuela é grave: “Todos os dias montam uma farsa, todos os dias um bloqueio, todos os dias uma ameaça”, mas advertiu que o que ocorre na Venezuela é uma revolução, “com seu tempo de evolução, com suas características e suas peculiaridades”. No momento em que os EUA anunciavam novas sanções contra o país, garantiu: “Não vamos nos render!”. Nesse momento, de novo o auditório explodiu em uma tempestade de palmas e ficou de pé, como em diversas outras ocasiões.

O tema de solidariedade a Venezuela foi o tom predominante em todo o primeiro dia do Foro, mas dois outros assuntos também se destacaram: a solidariedade a Cuba e a campanha pela liberdade do ex-presidente Lula, cujo refrão, “Lula Libre”, foi constantemente entoado com força pelo plenário.

Outros assuntos muito comentados foram a vitória da luta popular e independentista de Porto Rico – que obrigou o governador Ricardo Rosselló a renunciar – e o continuado assassinato de lideranças sociais na Colômbia, cujo governo segue descumprindo os termos do acordo de paz assinado com as Farc. Mas a variedade de exposições, temas e abordagens presentes no FSP é imenso, abarcando praticamente todas as pautas populares não só da América Latina, mas do mundo, tendo como fio condutor a solidariedade internacional, exemplificada pela fala de um delegado sul-africano, que ao responder a saudação de um companheiro cubano que havia exaltado e agradecido o esforço da delegação africana em comparecer ao FSP, disse “ser um absurdo Cuba nos agradecer de algo, já que a gigante África deve a pequena Cuba tanta ajuda desinteressada que nos deu em sangue e sacrifício na luta contra o apartheid e pela libertação nacional de nossos países”. Desse colóquio entre partidos e organizações da África e o FSP surgiu a ideia, ainda a ser analisada, de um grande encontro de partidos progressistas Sul-Sul.

Do Brasil, registramos a presença do Partido dos Trabalhadores (PT), cuja delegação é chefiada pela secretária-executiva do Foro de São Paulo, Mônica Valente, do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Partido da Causa Operária (PCO) e Partido Comunista do Brasil (PCdoB), cuja delegação é liderada por Walter Sorrentino e Ana Prestes, além de contar com a presença também de dirigentes e militantes da luta da juventude, das mulheres e pela paz mundial.

Diosdaldo Cabello declarou aberto oficialmente o Foro de São Paulo e deu as boas-vindas às delegações estrangeiras, expressando a esperança que a esquerda continental saia mais unida do que nunca do Foro. “A única garantia de vitória na luta contra o imperialismo é a unidade popular”, vaticinou.