A UNE continuará honrando sua história de lutas, diz Iago Montalvão

De 10 a 14 de Julho, aconteceu em Brasília, o 57º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), entidade fundada em 1937 que representa os estudantes universitários de todo o país. O congresso elegeu o estudante Iago Montalvão para presidir a entidade nos pŕoximos dois anos. Iago, cujo pai, Romualdo Pessoa também já foi diretor da UNE, fala sobre os desafios do movimento estudantil para combater o governo Bolsonaro, inimigo da educação.

Iago

A história da entidade se confunde em diversos momentos com a história do país, como nas campanhas “O petróleo é nosso” (na década de 40, influenciando para a criação da Petrobras) e a campanha da legalidade (garantindo a posse de João Goulart), bem como na resistência à Ditadura Militar e na luta pela expansão universitária a partir de 2003.

Após 5 dias de intensos debates e uma bela passeata na capital federal exigindo o fim dos cortes e bloqueios orçamentários que têm incendiado o país com manifestações estudantis, delegações de todos os estados do país elegeram Iago Montalvão para presidir a entidade, com cerca de 70% dos votos registrados. Iago tem 26 anos, é goiano e estuda Economia da Universidade de São Paulo (USP). Ao fim do congresso, conversei com ele:

Depois de um congresso tão representativo, quebrando recorde de participação, quais seriam os principais desafios que você apontaria para sua gestão nos próximos dois anos?

Eu acredito que o momento em que realizamos esse congresso, talvez seja um dos mais importantes para os estudantes brasileiros, pois o governo que assumiu o país ataca todas as conquistas que nós tivemos ao longo de nossa história, muitas vezes, dando literalmente o nosso sangue e os estudantes são o principal setor a enfrentar o governo Bolsonaro. Em Maio, demos duas grandes demonstrações de nossa insatisfação com os cortes de orçamento e com o perfil antidemocrático do governo no que se refere à Educação. Acredito que precisamos continuar nos mobilizando e pra organizar essas lutas, precisamos ter uma rede muito articulada, formada por estudantes que amem o movimento estudantil e fortaleçam os diretórios acadêmicos, os diretórios centrais de estudantes, as executivas de curso, as uniões estaduais de estudantes e a UNE.

Quem participou do congresso da UNE conseguiu identificar cerca de oito grandes campos políticos diferentes, formulando propostas para as resoluções da entidade. Como você encara essa diversidade tão grande de opiniões?

A universidade brasileira é um espaço de diversidade. O que é bom! Nós defendemos a pluralidade de ideias na UNE e na universidade, coisa que esse governo ataca, por não saber conviver com opiniões divergentes, que são normais numa Democracia. Eles acreditam que tem que haver ideia única na universidade, nós não. Acredito que isso fortalece o movimento estudantil e faz com que mais gente queira participar e fortalecer a unidade do movimento.

Durante a realização do congresso, diversas entidades ligadas à luta em defesa da Educação emitiram um alerta quanto à realização, nos próximos dias, de uma reunião com Reitores, pró-Reitores de Planejamento e o Ministro da Educação sobre o Projeto Future-se, anunciado como uma iniciativa para dar autonomia financeira às universidades, através da liberação para a realização de parcerias público-privadas e cobrança de taxas por faixa de renda. Qual sua opinião sobre isso?

Não estamos surpresos. A gente já esperava que esse governo trouxesse projetos de desmonte e privatização das universidades, com cobranças de taxas, desmonte da carreira docente, corte de bolsas de pesquisa e extensão e tudo o mais. O ex-Ministro, que antecedeu o Weintraub, já havia dito com todas as letras que o objetivo deles era construir uma universidade para as elites. Nós somos absolutamente contrários a qualquer projeto que avance na privatização das universidades públicas. É perfeitamente viável buscar melhores formas de financiamento da universidade dentro do orçamento público. Diminuir ou retirar o financiamento público das universidades é atacar a autonomia universitária e minar a capacidade dessas instituições de promover ensino, pesquisa e extensão para atender às demandas do povo brasileiro, desenvolvendo ciência e tecnologia que estimule o desenvolvimento econômico e social para todos e todas. É um ataque à nossa soberania e com certeza vamos nos mobilizar para impedir que isso aconteça.

Desde o início do ano, movimentos em defesa da educação combatem o que chamam de campanha difamatória contra as universidades, que fez com que muita gente acreditasse que não é positivo financiar as universidades. Que iniciativas podemos esperar da UNE para reverter isso?

A gente acredita que esses ataques do governo, chamando a universidade de balbúrdia, dizendo que ela atende a pouca gente, que ela não produz nada que mude a vida das pessoas, entre outras mentiras sobre a universidade brasileira, fez com que estudantes e docentes de todo o país fossem às ruas, mostrando sua produção científica e como ela contribui para a solução dos problemas do país. A UNE resolveu compilar esse movimento com uma iniciativa chamada “aula na rua”. Agora queremos intensificar esse movimento incentivando também a chamada extensão reversa, levando os conhecimentos populares e tradicionais pra dentro da universidade, fortalecendo o diálogo direto entre a universidade e a sociedade.

Uma pauta importante nesse sentido é a construção de melhores formas de diálogo e comunicação. O que vocês têm feito e o que pretendem fazer nesse sentido?

Queremos construir parceria com movimentos sociais para fortalecer a democratização da comunicação, desenvolvendo os meios de que dispomos, mas também indo às comunidades, às ruas, às praças, pra fazer o diálogo direto. O Circuito Universitário de Cultura e Arte (CUCA) tem cumprido um papel importante na diversificação dessas formas de comunicação e nós pretendemos investir ainda mais nele.

Dois dias após a entrevista, estudantes de todo o Brasil foram até o Ministério da Educação protestar contra o Projeto Future-se episódio em que a Polícia do Distrito Federal agiu de forma extremamente truculenta. Mesmo assim, o Presidente da UNE conseguiu assistir à apresentação e posicionar-se durante a reunião, interrompendo a fala do Ministro da Educação. A UNE promete continuar honrando sua história de lutas, combatendo o projeto e este blog torce para que saia vencedora.