Fator Tabata: Movimentos de “renovação” agora querem tutelar partidos 

Os movimentos que se dizem voltados à “renovação política” preparam projetos para se infiltrar nos partidos políticos, impor regras e influenciar seus rumos. A ideia é aproveitar a repercussão do “caso Tabata Amaral” – a deputada federal que voltou a favor da nefasta reforma da Previdência, contra a orientação da bancada do seu partido, o PDT. Além de Tabata, outros parlamentares infiéis poder sofrer punição.

Movimentos

Para dar um viés público mais palatável e angariar simpatia à sua tentativa de tutelar os partidos, os movimentos preparam um manifesto com quatro eixos para as legendas: “mais democracia interna”, “transparência na gestão financeira”, “integridade moral” e “participação das mulheres”. É uma forma marota de abrir caminho para que os partidos busquem nomes formados por esses próprios movimentos, trocando as tradicionais pautas partidárias por uma plataforma liberal.

Sem explicar o efeito prático de suas propostas para a vida política, os movimentos querem impor tempo máximo de mandato para dirigentes de partidos, proibição de comissões provisórias nas direções partidárias e obrigatoriedade de prévias. Curiosamente, mesmo depois de uma semana sob ataques de lideranças políticas, grupos como Agora!, Acredito e Livres descartam a criação de uma legenda própria.

A exemplo do que o governador paulista, João Doria, faz hoje com o PSDB, os movimentos querem aproveitar uma estrutura já montada e tradicional, com bases estaduais organizadas, numa espécie de “atalho” para contaminar as legendas. “Muitos de nós acreditam que é preciso mudanças legislativas. Um projeto de lei seria um dos caminhos de ação, mas ainda estamos discutindo isso”, diz um dos coordenadores do Acredito, Felipe Oriá.

A expectativa é que a proposta seja encampada por parlamentares dos movimentos no Congresso. O Agora! elegeu dois deputados, o mesmo número do Acredito, que também viu um senador chegar ao Congresso. “Temos consciência de que fazer um apelo aos partidos para que sejam mais abertos não vai mudar muita coisa. Estamos trabalhando para entregar propostas concretas no manifesto”, entrega afirmou o coordenador do Agora!, Leandro Machado.

Na semana passada, PDT e PSB iniciaram procedimentos internos que podem culminar na expulsão dos deputados que votaram a favor da reforma da Previdência e, portanto, contra a orientação de bancada dos dois partidos. Foram 19 parlamentares (oito do PDT e 11 do PSB).

É o caso de Tabata Amaral (PDT-SP), apontada como símbolo da renovação política em 2018. Ela faz parte do Acredito, do qual é co-fundadora, da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (Raps) e do RenovaBR. Outro deputado egresso de movimentos de renovação que agora enfrenta um processo disciplinar pelo mesmo motivo é Felipe Rigoni (PSB-ES). Ele integra o Acredito.

Lideranças do PDT e do PSB fizeram ataques aos movimentos de renovação política de onde saíram esses deputados. Candidato derrotado do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes (PDT) disse que Tabata deveria deixar a sigla de forma espontânea porque está fazendo “dupla militância”. Já o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, referiu-se aos parlamentares como traidores.

O episódio retomou outro debate absurdo: o das candidaturas avulsas, proibidas no país. Essa é uma das sugestões do RenovaBR, que se autodenomina uma escola de formação política, não um grupo voltado para a atuação, como o Agora! e o Acredito. “O caminho alternativo se bifurca em dois: criar a possibilidade de candidaturas independentes e de movimentos ou democratizar os partidos”, disse o coordenador do RenovaBR, Eduardo Mufarej.

Resta uma pergunta: se os partidos devem ser “democratizados” apenas para acolher ideias e propostas dos movimentos, por que os próprios movimentos não se mostram mais sensíveis à diversidade de pautas que há na sociedade brasileira? Em que medida esses movimentos se dispõem a receber, por exemplo, sugestões de entidades sindicais, estudantis e comunitárias? Ou a democracia que eles visam é de uma mão só?

Com informações do O Globo