O novo vilão do futebol brasileiro

Realmente, se há um ambiente marcado pelo subjetivismo e pela paixão extremada é o futebol. Aqui e alhures.

Por Luciano Siqueira*

Var Futebol

Sempre ouvi falar que, ao contrário de outros esportes, como o voleibol e o tênis, por exemplo, no futebol há muita resistência à inovação.

As regras básicas do chamado esporte bretão evoluíram quase nada em mais de um século!

E o danado é que o que se pratica hoje é muito diferente do que se praticava há algumas décadas.

Há uma cena da Copa do Mundo de 70, recorrente na TV, em que Gerson mata a bola no peito, levanta a cabeça, escolhe o que fazer e lança Jairzinho há mais de quarenta jardas (assim dizem os cronistas) que, hábil e veloz, invade a área italiana e faz um gol inesquecível.

Fosse hoje, o meio-campista brasileiro sequer teria tempo para pensar na próxima jogada. Teria que passar a bola de imediato, mesmo que fosse o lançamento a longa distância. Um adversário o combateria de pronto, tentando lhe tomar a redonda.

Agora, a técnica apurada no trato com a bola e o vigor físico são inseparáveis – e indispensáveis aos bons times.

O que recomenda aprimoramento das regras – a do impedimento, por exemplo – e o bom uso da tecnologia inovadora para auxiliar os árbitros.

Por isso, a partir da última Copa do Mundo na Rússia, se introduziu o VAR (“Video Assistant Referee”), operado numa cabine apropriada por árbitros, que vêem a jogada por vários ângulos e auxiliam o árbitro de campo tirando eventuais dúvidas.

Na Copa do Mundo foi aplaudido.

No campeonato brasileiro tem sido execrado.

Verdade que em algumas situações não tem sido utilizado como deve. Juízes fracos se deixam orientar a todo instante pela turma do VAR.

Mas tem servido muito bem para dirimir dúvidas em lances capitais, sobretudo nos clássicos mais disputados.

De toda forma, como tudo o que é novo – sobretudo quando envolve tecnologia – implica aprendizado.

Mas a paixão e o gosto pela boa encrenca atropelam tudo. E assim o VAR emerge como o novo vilão do futebol brasileiro, uma espécie de cortina de fumaça que esconde a crise tática que vivemos e que nos tira (tomara que temporariamente) a honra de melhores do mundo.