Congresso da UNE: Luciana Santos defende luta pela democracia

A presidenta do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e vice-governadora do estado de Pernambuco participou na quinta-feira (11) do debate “O Brasil a preço de banana: entreguismo e destruição da soberania nacional”, no âmbito do 57º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Para ela é preciso uma luta implacável em defesa da democracia e dos fundamentos do Brasil.

Por Osvaldo Bertolino

Luciana Santos UNE Congresso - Foto: Matheus Alves | CUCA da UNE

O evento ocorreu no Centro Comunitário Athos Bulcão da Universidade Nacional de Brasília (UnB) e contou também com as participações de João Pedro Stédile (da Direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra-MST), Guilherme Boulos (da Frente Povo Sem Medo), João Campos (deputado federal pelo PSB de Pernambuco), Roberto Robaina (vereador em Porto Alegre pelo PSOL) e Rogério Carvalho (senador do PT do estado de Sergipe).

Luciana Santos fez uma saudação especial ao Congresso, comentando que a entidade tem história no país, citando, como exemplo, a batalha pelo petróleo na década de 1950 e o combate à ditadura militar instaurada com o golpe de 1964. Ela lembrou que a UNE pagou o preço por sua resistência ao regime dos generais golpistas, tendo sua sede incendiada logo após o golpe. E enfatizou o simbolismo do Congresso, que está sendo realizado na UnB, onde estudou “o nosso querido Honestino Guimarães”, ex-presidente da UNE, assassinado pela ditadura militar.

A presidenta do PCdoB falou ainda da unidade popular nesses “tempos tenebrosos” em que o governo Bolsonaro professa o ultraliberalismo na economia, ao passo que é “retrógado nos costumes e autoritário na política”. Segundo ela, o atual governo é de extrema-direita, um fenômeno que não é exclusivo do Brasil, explicando que isso decorre da crise do capitalismo que perdura há mais de 11 anos, sem perspectiva de solução.

O impacto disso na política é uma certa divisão nos setores dominantes do mundo entre a política neoliberal e a ultraliberal. De acordo com Luciana Santos, de um lado estão os liberais conservadores que ainda defendem algum tipo de bem-estar social e do outro a extrema-direita ultraliberal e autoritária. Ela citou como exemplo os casos de Hillary Clinton e Donald Trump, nos Estados Unidos, e de Emmanuel Macron e Merine Le Pen, na França.

Luciana Santos comentou que no Brasil a esquerda conseguiu chegar ao segundo turno da eleições de 2018, conquistando mais de 47% dos votos, mas essa polarização política e ideológica se estende, com o presidente Jair Bolsonaro se comportando como se estivesse no terceiro turno. Ao mesmo tempo, ele vem impondo a agenda com a qual foi eleito, destruindo preceitos fundamentais e civilizacionais, além de conquistas históricas do povo brasileiro, com a marcante participação da juventude, asseverou.

Ela falou da Abolição, da Independência, das grandes jornadas estudantis contra a ditadura militar e dos caras-pintadas no impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello. Segundo Luciana Santos, em todos os momentos de inflexão política da história a juventude se fez presente. “Nunca negou fogo, estava lá como vanguarda participando dos momentos decisivos da história brasileira”, afirmou. “Assim precisamos fazer agora, nos agigantar como aconteceu recentemente na luta dos estudantes que foram às ruas contra o corte da educação, liderados pela UNE e outras entidades”, asseverou.

De acordo com ela, esse é um patrimônio muito importante da cena política atual, tão adversa, uma realidade que exige firmeza na luta para enfrentar o governo “mais vassalo e entreguista da nossa história”. “Nunca se viu um governo tão subserviente, nem um presidente que faz continência para a bandeira norte-americana. Esse mesmo que passou pelo ridículo de querer se credenciar para ser homenageado em vários estados nos Estados Unidos, forçando a barra para que alguém o recebesse, para que alguém o homenageasse. Esse é o presidente que agora, cada vez mais, entrega o nosso patrimônio, destrói a nossa soberania e quer acabar com a nossa riqueza e nosso patrimônio principal, que é a Petrobras, fruto da inteligência brasileira”, analisou.

Segundo Luciana Santos, estão na mesma situação o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o segundo maior banco de fomento do mundo, que viabiliza o setor produtivo nacional, e outros bens públicos. E complementou dizendo que esse entreguismo vem sendo desmascarado pelas revelações do site The Intercept Brasil, demonstrando que, em nome de um falso combate à corrupção, Sérgio Moro e seus comandados da Operação lava Jato estavam a serviço de um projeto político, o que claramente faz do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva um preso político.

A presidenta do PCdoB encerrou dizendo que a soberania é "um dos fundamentos do nosso país”. “Estamos lutando pelo direito de existirmos como país soberano, pelo direito de termos uma nação autônoma, altiva. E assim fazemos nas ruas e nas redes. Por isso, viva a União Nacional dos Estudantes, viva o Congresso, viva a luta da juventude brasileira! Firme na luta!”, concluiu.

João Campos

O deputado João Campos falou em seguida, afirmando que o Congresso da UNE mostra a existência de uma juventude com coragem e compromissos, que está ao lado do povo, do trabalhador, daqueles que vivem e que lutam nas periferias. Ele comentou o ataque aos direitos do povo, como a proposta de “reforma” da Previdência Social, e asseverou que um governo pode derrotar a oposição, mas não tem como derrotar o povo. “Nossa luta é para unir o povo e mostrar que o governo que aí está não é contra só oposição, é contra o povo brasileiro”, enfatizou.

Segundo ele, o governo Bolsonaro tem como meta destruir tudo aquilo que custou muito ao povo. “O que seria o Brasil sem o seu sistema de seguridade social? Nossa geração não viu ninguém morrer de fome e de sede no Nordeste, mas uma geração anterior viu pessoas famintas se retirando”, afirmou. “Acusam o Nordeste de ser um lugar inviável; se fosse não seria a segunda região mais populosa do Brasil”, destacou.

Ele falou do papel do ex-presidente Lula nesse processo, “o líder popular brasileiro que mais fez pelo povo do Nordeste”, e do seu pai e do bisavô, os ex-governadores do estado de Pernambuco, Eduardo Campos e Miguel Arraes. Segundo ele, sempre que o Brasil precisou da juventude, ela esteve presente. “E agora não pode ser diferente Que esse Congresso sirva para reenergizar nossas forças, para que a gente possa sair daqui com disposição de lutar ainda mais, para fazer a conversa para além dos que pensam igual a gente e ir atrás, buscar aqueles que estão pensando diferente e mostrar que o lado certo da história está aqui”, asseverou.

Rogério Carvalho

O senador Rogério Carvalho foi o orador seguinte e destacou, inicialmente, a ideia de Lula de que será com a juventude “que vamos resistir”. “Não à toa que o presidente Lula está preso. Está preso porque articulou os BRICS, porque criou o maior bloco econômico, militar e de consumo do mundo”, afirmou. Segundo ele, esses cinco países (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) têm 70% da água doce do mundo, as maiores reservas de petróleo e de minerais, o maior mercado consumidor, a maior indústria e a maior força bélica.

De acordo com o senador, o banco dos BRICS poderia representar o fim do petrodólar, a moeda responsável pelo comércio internacional. Esse banco poderia ser “o responsável pelo início definitivo da derrocada nos Estados Unidos”, um país que tem “uma máquina de fazer dinheiro”, jorrado no mundo para tentar fazer a sua economia se sustentar. O Brasil estava no centro desse debate, afirmou o senador.

Ele citou a cadeia de golpes e de manipulação política para trazer a direita novamente ao poder, um processo que no Brasil teve a tramoia do ex-juiz e atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, e seu preposto, Deltan Dallagnol, da força-tarefa da Operação Lava Jato. Eles colaboraram para tirar a presidenta Dilma Rousseff do poder com a fraude do impeachment, o golpe de 2016, e agora estão sendo desmascarados pelo The Intercept Brasil, destacou.

Roberto Robaina

O orador seguinte, Roberto Robaina, disse que esse Congresso da UNE pode ser um dos mais importantes da história da entidade. Ele lembrou que houve o Congresso de 1968, de grande importância por ter ocorrido em plena ditadura militar, e o de 1979, também significativo por ter sido o da reconstrução da UNE, mas esse talvez seja superior em relevância por conta da situação vivida pelo país.

Segundo Robaina, a responsabilidade da UNE é imensa porque uma das marcas do governo Bolsonaro é o autoritarismo, combinado com o neoliberalismo, que tem como eixo na sua atuação política o ataque à educação, à cultura, à tecnologia. Ele enfatizou que o obscurantismo não pode conviver com uma educação democrática, não pode conviver com a ciência, com a cultura.

João Pedro Stédile

João Pedro Stédile falou em seguida, afirmando que o tema da soberania nacional é muito importante para o futuro do povo brasileiro. Ele também lembrou que a UNE, ao longo da sua história, sempre participou de todas as lutas do povo brasileiro. Segundo Stédile, sua fala estava baseada nas reflexões resultantes dos debates na Frente Brasil Popular e no Comitê Lula Livre. Stédile enfatizou que o conceito de soberania nacional envolve a compreensão de que uma nação é formada pelo povo, pelo território pelo conhecimento científico, pela identidade cultural.

Segundo ele, a luta pela soberania nacional vai além da classe trabalhadora, citando como exemplo os estudantes, a população indígena e os quilombolas. E ressaltou que a unidade política precisa ser defendida. “O que está em risco é a nação, é a própria autonomia do povo. Não se trata de apenas de defender a Petrobras e os Correios como empresas públicas. Agora está em jogo o Brasil como nação”, asseverou. Para isso, disse ele, será necessário um movimento nacional amplo. Ele citou a importância do PDT e do “nosso amigo Ciro Gomes” nesse processo, afirmando que será lançado um comitê em defesa da soberania nacional.

Guilherme Boulos

Guilherme Boulos encerrou as intervenções destacando o significado da proposta de “reforma” da Previdência, enfatizando que não se trata de um fato isolado. Ela faz parte de um projeto destruição nacional, representado pelo governo Bolsonaro. Boulos citou a vassalagem do presidente, demonstrada pelo fato grotesco da sua viagem aos Estados Unidos para lamber as botas de Trump de maneira vergonhosa, além de bater continência para a bandeira norte-americana.

Ele comentou o processo de entrega da soberania brasileira ao governo dos Estados Unidos, além do acordo do Mercosul com a União Europeia, que segundo ele ocorreu depois que Bolsonaro e o presidente da Argentina, Maurício Macri, cederam em tudo, priorizando a agrícola e desindustrializando esses países, o que resulta em desemprego, transformando, no caso do Brasil, o país numa fazenda da Europa, na reprimarização das suas exportações.