Jornalistas de Alagoas derrotam patrões após greve histórica de 9 dias

As três maiores empresas de comunicação de Alagoas se uniram para reduzir o piso salarial de seus jornalistas em 40%. Entre elas, estava a Organização Arnon de Mello (OAM), ligada à família Collor de Mello e à Globo. O Sindicato dos Jornalistas de Alagoas liderou a reação histórica da categoria, com direito à greve de nove dias. A vitória foi conquistada nesta quarta-feira (3): a Justiça manteve o piso e deliberou reajuste salarial.

Por André Cintra

Greve dos jornalistas de Alagoas

Com o lema #LuteComoUmJornalista, a campanha contra a manobra das empresas foi além da categoria, angariando a simpatia de outros setores alagoanos e até de outros estados. “Somos repórteres, produtores/pauteiros, editores, chefe de reportagens, apresentadores. Somos pais, mães, filhos e irmãos. Somos jornalistas e queremos trabalhar com dignidade. Redução salarial NÃO!”, detalhava um dos informativos da campanha. Outro material reforçou a luta com o mote “Nem um centavo a menos. Contra o desmonte do jornalismo alagoano”.

Segundo o Sindicato, assessores de comunicação apoiaram a paralisação, suspendendo o envio de releases às empresas e não agendando entrevistas de seus superiores com “fura-greves”. Estudantes da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal de Alagoas pararam as aulas. Personalidades como a jogadora Marta (que é alagoana) e os jornalistas José Trajano e Xico Sá se solidarizaram com os movimento.

Na terça-feira (2), véspera do julgamento do dissídio coletivo, as empresas deram um novo golpe e lançaram uma nota recheada de falsidades. Mentiram ao dizer que tentaram negociação – quando, na realidade, as empresas apenas se reuniam para defender a proposta ilegal de rebaixamento do piso salarial para futuros contratados. Para os funcionários atuais, a “garantia” era o congelamento do piso por apenas um ano.

Mentiram também ao dizer que as bases não foram ouvidas. A verdade é que cerca de 90% da categoria aderiu à greve. Até profissionais com cargos de chefia participaram da assembleia e votaram a favor da greve, ainda que parte deles tenha voltado ao trabalho. Além de combater qualquer tentativa de diminuir o piso salarial, o Sindicato pleiteou reajuste salarial de 5% – proposta respaldada, em parecer, pelo procurador Matheus Gama, do Ministério Público do Trabalho.

O dissídio foi julgado nesta quarta-feira pelo Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 19ª Região. As empresas ainda tentaram pedir a extinção do processo sem julgar – mas a causa dos patrões estava perdida. Por unanimidade, os desembargadores deliberaram pela manutenção do piso da categoria e por um reajuste parcelado de 3% (índice parcial da inflação), retroativo à data-base (1º de maio). O novo piso salarial será de R$ 3.672,22.

Em outra importante conquista, os grevistas terão 90 dias de estabilidade e não sofrerão descontos nos salários ou nos benefícios pelos dias parados. As outras cláusulas foram preservadas. Em assembleia após o julgamento, os jornalistas aprovaram a proposta do TRT e comemoraram a vitória. Eles voltam ao trabalho nesta quinta-feira (4).

“Respeito, dignidade e justiça! Nossa luta, nossa garra e a coragem da maioria dos jornalistas alagoanos e o apoio da sociedade foram decisivos”, declarou o Sindicato, no Twitter. “Vitória histórica dos jornalistas alagoanos. Orgulho de todas e todos que lutaram!”

A OAM/Globo não é a única derrotada. Também perdeu a Pajuçara Sistema de Comunicação (PSCOM), dona da TV Pajuçara, afiliada da cada vez mais bolsonarista TV Record. E também foi vencido o Sistema Opinião, que detém a TV Ponta Verde, afiliada do SBT. Os jornalistas de Alagoas enfrentaram três gigantes e venceram um a um, numa lista que há de influenciar o movimento sindical em todo o Brasil. É uma vitória de todos os jornalistas brasileiros conta os abusos do oligopólio midiático.